Rede de moda infantil retoma níveis pré-pandemia e prevê crescimento com omnichannel e inauguração de 40 novas lojas em 2022
A rede de franquias Tip Top, de roupas e acessórios para bebês e crianças, recuperou o nível de vendas pré-pandemia. A marca encerrou 2021 com faturamento 56% maior que 2020 e 3% maior que 2019. No ano passado, foram 20 inaugurações de lojas e, para 2022, a meta é abrir mais 40 unidades. A receita deve crescer entre 35% e 40% este ano.
Antes focada completamente em shopping center, a Tip Top agora analisa caso a caso. “Antes da pandemia era só shopping, mas mudamos um pouco o nosso olhar em relação a isso. Cada cidade tem um perfil, e temos que entender esse perfil para decidir se a unidade terá melhor desempenho na rua ou em shopping”, explica David Bobrow, CEO da Tip Top.
O investimento em uma nova loja Tip Top varia entre R$ 310 mil e R$ 650 mil. Há três opções de franquia: loja tradicional (roupas e acessórios infantis), outlet (ofertando coleções passadas) e Mega Store (especializada em carrinhos, cadeirinhas, enxovais e, é claro, roupas).
70 ANOS DE HISTÓRIA
Neste 2022, a Tip Top completa 70 anos de vida. Quem vê hoje a marca presente nos principais shoppings do país, não imagina que sua história começou com uma família de refugiados que chegou ao Brasil no fim da década de 1940.
Nascido na Romênia, Eugênio Saverin, já falecido, vivia em Israel quando teve que deixar o país em função da Guerra da Independência, em 1948. A pedido do pai, foi para a Europa encontrar um lugar melhor para a família viver. Por cerca de um ano ficou andando pelo continente, até que chegou a Paris, na França, onde conseguiu mudar seu nome e trocar os documentos, passando a se chamar Eugênio Saverin. Com a mudança do nome, e então livre da perseguição que os judeus sofriam naquela época, Saverin conseguiu um visto para a América Latina, chegando ao Brasil em 1949.
Aqui, foi trabalhar na multinacional Philips, onde conheceu sua futura esposa, Nadia Saverin. Depois do casamento, os dois deixaram a multinacional para trabalhar na empresa fundada por Max Spira, pai de Nadia e que estava crescendo, essa era a Tip Top.
Mais de 7 décadas depois, Roberto Saverin, Neto de Max Spira, o fundador da Tip Top, é quem conta essa história: hoje com 68 anos, Roberto Saverin relembra a trajetória da empresa, atrelada à história do avô que vivia na ex-Iugoslávia, hoje Croácia, e que por conta da perseguição nazista aos judeus precisou deixar a Europa. Max foi com a esposa e a filha para o Quênia, na África, onde permaneceu por 10 anos. Deixou o negócio de roupas de lado e comprou uma pequena fazenda de café, que foi o sustento da família em sua passagem pelo continente africano.
Em 1949, vieram ao Brasil e, pouco depois de chegar aqui, Max retomou a confecção de roupas para bebês e crianças com uma fábrica no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Era o começo da Tip Top, que este ano completa 70 anos.
Roberto Saverin, seguindo os passos do pai, Eugênio, e da mãe, Nadia Saverin, também trabalhou na Tip Top, de 1977 a 1983, depois de estudar tecnologia têxtil na Inglaterra. Ele fez a viagem acompanhado da esposa, Sandra, que lá estudou modelagem. Na volta, o conhecimento adquirido foi todo colocado em prática na fábrica da Tip Top. “A Sandra ficava na modelagem e trazia ideias de fora, viajava muito para isso”, recorda Roberto Saverin. “Eu chegava na fábrica cedo e ficava na tecelagem, apoiando o desenvolvimento de tecidos e a produção.”
TDB E VAREJO
Logo depois disso, em 1987, Eugênio Saverin vendeu a fábrica para a TDB Têxtil David Bobrow, empresa fundada em 1933 e que até hoje comanda a Tip Top. Atualmente, e desde 1995, o CEO da empresa é David Bobrow, neto do fundador da TDB.
A TDB, conta Roberto Saverin, conseguiu realizar um sonho antigo seu, que era levar a Tip Top para o varejo, com lojas próprias. “Na época que apresentamos essa ideia, a ‘velha guarda’ não aprovou”, diz. Isso porque, na visão de Eugênio Saverin, ir para o varejo com lojas próprias geraria uma concorrência com os grandes magazines que já vendiam as peças da Tip Top, como o Mappin e a Mesbla. “Havia espaço para todo mundo, mas naquela época nem todo mundo percebia isso”.
Bobrow conta que, quando assumiu a Tip Top e decidiu ir para o varejo, enfrentou a mesma resistência dos gestores mais antigos. “Os grandes magazines eram o ‘core’ do negócio, representavam 70% das vendas, e os outros 30% ficavam com as multimarcas.”
A ida para o varejo aconteceu em 2008. “Percebi que teríamos que ir para o varejo para melhorar a nossa margem”, conta Bobrow.
Assim, em 2010 a Tip Top inaugurou a sua primeira loja, no Bourbon Shopping, em São Paulo – em funcionamento até hoje como loja própria. Na época era uma loja-piloto já com “business plan” para o projeto de expansão por franquia. A marca operou a unidade por seis meses e partiu para o modelo de franchising, abrindo cinco lojas franqueadas no primeiro ano – todas com pessoas do relacionamento da Tip Top. Dois franqueados, por exemplo, eram ex-gerentes de dois grandes magazines que compravam da Tip Top em grandes quantidades.
Bobrow conta que, nesse processo de migração, rapidamente chegou à conclusão que não entendia nada de varejo. “Fui atrás de profissionais qualificados no mercado para me ajudarem nessa nova etapa e para que a gente pudesse crescer rápido e de forma sustentável.” Naquela época, a previsão da consultoria que fez o projeto de expansão traçou a meta de 100 lojas em cinco anos. “Achei surreal, mas realmente aconteceu.”
Com o varejo tomando corpo com lojas próprias e franqueadas, a Tip Top foi parando de vender nos grandes magazines. Principalmente por causa de preço, já que a margem era bem apertada. As multimarcas continuaram na estratégia de vendas da companhia e hoje representam cerca de 55% dos negócios. O restante fica com a rede de franquias.
Em 2012, a Tip Top ampliou suas opções de loja lançando a mega store que vende, além de roupas, acessórios como carrinhos, mamadeiras e tudo mais para o enxoval do bebê. É um modelo de negócio que requer um espaço maior – as mega store têm cerca de 150 metros quadrados – e investimento de aproximadamente R$ 650 mil.
Durante a pandemia, a marca fortaleceu seu e-commerce. Antes restrito às vendas da franqueadora, passou a abarcar as lojas franqueadas também. Foi também na pandemia que a Tip Top promoveu o redesenho da marca e a repaginação de seus identidade visual, incluindo um novo projeto para as lojas. Ao adotar o novo visual, a loja do Shopping Bourbon – primeira inaugurada pela marca, em 2008 – alcançou a liderança de vendas no ano passado. “As lojas com o projeto novo estão com resultados melhores”, diz Bobrow. “Não dá só para pensar em apagar o fogo, no caso os desafios da pandemia. A gente tem que ir resolvendo outras frentes também”, diz o CEO, mostrando que a Tip Top não fica parada no tempo.