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A TRILHA DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

Eficiência, agilidade, transparência e sustentabilidade são apenas alguns dos atributos que a digitalização traz aos processos produtivos e à economia das empresas e do país

(Foto: Freepik)

Como você tem monitorado sua confecção? Insumos, sala de corte, pagamentos, performance de vendas? Tem e-commerce ou está em algum marketplace? Muito provável que em algum ponto sua empresa tenha digitalizado algum processo, mas as coisas têm acontecido tão rápido e quase organicamente que você nem tenha se dado conta de que está começando a trilhar um caminho praticamente sem volta: o da transformação digital, que vem na trilha da inovação, ou seja, aprimorar ou trazer novas ferramentas para que o processo – seja ele produtivo ou de vendas –, torne-se mais eficiente e assertivo, tanto para a empresa quanto, e em especial, para o cliente. É uma repaginação no modelo de negócios impulsionada pela tecnologia.

Mas isso não acontece de uma hora para outra nem de uma só vez: a transformação digital dentro de uma empresa vem por etapas, de forma colaborativa, integrando pessoas e processos numa nova cultura organizacional.

A IMPORTÂNCIA EM ENTENDER E EMBARCAR NESTA JORNADA

Em uma publicação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 2020, chamada “A caminho da Era Digital no Brasil”, a entidade destaca a importância da transformação digital para impulsionar o crescimento da economia e da produtividade aqui no país, com ferramentas para melhorar as políticas públicas e tornar o ambiente mais seguro e eficiente às empresas, como acesso a serviços governamentais, financeiros, mercados internacionais, ensino on-line para qualificar trabalhadores em qualquer lugar, reduzir a informalidade com a facilitação e rastreio de operações digitais, entre inúmeros outros aspectos. A digitalização de processos é, sem dúvida, um ponto crucial de ganho competitivo, mas, acima de tudo, tem como norte beneficiar a sociedade de forma geral, e nisso o Brasil ainda tem desafios a enfrentar, por exemplo, prover uma internet de qualidade com alta cobertura e segurança de dados para que haja mais segurança na adoção de processos digitais.

“Temos uma jornada para trabalhar e poderíamos estar mais avançados”, afirma Angela Gheller, diretora de produtos de Manufatura da Totvs. “A boa notícia é que a indústria brasileira está mais digital do que há cinco anos: segundo a Sondagem Especial Indústria 4.0, elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2021, 69% das indústrias brasileiras já faziam uso de tecnologias digitais. Em 2016, este número era de 48%. Estamos no caminho certo, mas, sem dúvida, podemos fazer mais e buscar por mais investimentos, que incrementarão de forma relevante o mercado nacional”, complementa.

Angela também aponta que a visão sobre investimentos na transformação digital muitas vezes depende do porte da empresa: enquanto as de grande porte costumam enxergar de maneira benéfica o investimento em tecnologias que permitam acompanhar de forma atual outros mercados e players, as médias e pequenas muitas vezes têm uma visão um pouco diferente.

“Há empresas que ainda enxergam o investimento em tecnologia como “gasto”, sem analisar os ganhos que vêm no médio e longo prazo. É preciso superar esse pensamento e encarar a adoção de tecnologias e inovação não como gastos, mas, sim, como uma maneira de melhorar a produtividade dos negócios”, observa.

Angela Gheller, diretora de produtos de Manufatura da Totvs. / Divulgação

PONTOS DE RESISTÊNCIA

Mesmo com a cabeça aberta ao investimento, fazer mudanças requer planejamento. Em uma empresa de grande porte, é quase um plano tático de guerra, pois o impacto nos processos do dia a dia acabam sendo proporcionais ao seu tamanho. Já nas pequenas, com uma margem de manobra maior para fazer implantações de novas ferramentas, a questão esbarra no tempo: no setor de moda, onde o empresário está diretamente envolvido no processo produtivo, não consegue se dedicar a ações estratégicas de digitalização, observa Daniela Abdala, gestora estadual Carteira de Varejo do Sebrae-SP, mas destaca que a transformação digital no mercado da moda, assim como em qualquer outro, gera um aumento na capacidade competitiva e colabora diretamente com a economia do território. Porém, o setor ainda enfrenta apego aos métodos tradicionais e tem dificuldades em encontrar pessoas com a expertise necessária, além de, no momento, a falta de recursos financeiros.

“A transformação digital envolve vários aspectos, como a mudança na forma de pensar, de conceber e de produzir na moda; está diretamente ligada à mudança na forma de gerir a empresa e atender o consumidor. O processo de digitalização, quando bem planejado e bem implementado, traz benefícios de grandes proporções ao negócio: aumenta a eficiência e a produtividade, simplifica processos, reduz custos, evita desperdícios, reduz o índice de retrabalho, proporciona melhora na gestão do negócio, aumenta a carteira de clientes e a satisfação deles, possibilitando o aumento de lucratividade”, diz Daniela.

Neste aspecto, Angela Gheller, da Totvs, reforça o pensamento de Daniela de que é um desafio internalizar a consciência nos gestores de que a transformação digital é um passo fundamental à sustentabilidade dos negócios, ainda mais quando se olha para um setor onde a gestão, em muitos casos, ainda é familiar.

Adriana Papavero, general manager da Lectra para a América do Sul, coloca o dedo em outra ferida: o desconhecido cria receios, e este é um dos maiores pontos de tensão que a empresa encontra junto ao mercado, o da mudança no negócio atual e como isso impactará a equipe, o produto, os processos e o nível de disrupção que trará ao negócio.

“Todas essas dúvidas geram muita resistência porque não existe fornecedor que consiga garantir disrupção zero, e parte do sucesso de uma transformação depende do compromisso da empresa e das equipes envolvidas”, ressalta. Às vezes, conseguir este compromisso é um desafio. No entanto, encontramos resistência também no que diz respeito a conhecimento relacionado a tecnologia e inovação, e isso gera hesitação. Ainda, o mercado brasileiro tem uma instabilidade característica que causa alguma resistência em fazer investimentos altos a longo prazo”, analisa.

O gerente de vendas da Audaces para a América Latina, Rener Agostini, diz que costuma fazer uma analogia para exemplificar o que as inovações costumam fazer: antes de existir a faca, os homens cortavam as coisas usando pedras, porém, com a invenção da lâmina, não há mais motivos para usar a pedra.

Audaces 4D, ferramenta avançada para a criação digital de coleções.

“É assim com as transformações e inovações. Por exemplo, a partir do momento que um estilista entende que é possível desenhar num ambiente virtual 3D e rapidamente apurar seu custo prévio, não faz mais sentido o processo antigo. Da mesma forma acontece com outras dezenas de processos que estão sendo transformados. A tecnologia não veio para substituir os humanos, mas para potencializar aquilo que fazemos de melhor, seja realizando uma atividade de maneira mais rápida, completa e com menor custo, ou consumindo menos recursos.”  

DE ONDE PARTE A DEMANDA: DO CLIENTE OU DA EMPRESA?

Esse ponto segue o famoso questionamento de um antigo comercial de biscoitos: vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? A jornada da transformação digital está tão intrínseca na demanda das duas partes – empresa e clientes – que é difícil apontar para um lado só. Porém, uma coisa é certa: a digitalização dos processos passa a ser uma questão de sobrevivência, pois tem impacto direto nos custos e na satisfação e fidelização dos clientes.

“Num mercado tão dinâmico como o da moda, que inclui as confecções, calçados e acessórios, somente a digitalização dos processos pode permitir inovar com velocidade, diversificação de produtos e opções, como cores, tamanhos e modelos, e capacidade para atender à demanda, pois esta nova geração está buscando produtos inovadores e cada vez mais personalizáveis, bem como processos digitais simples, rápidos e confiáveis. E esta demanda cresce à medida que novíssimas gerações de consumidores que nasceram utilizando e consumindo tecnologia chegam ao mercado”, comentam Jacqueline Chagas e Roberto Cannavan, experts em Transformação Digital e PLM para Moda e Têxtil da Centric Software.

Segundo Patricia Costa, diretora de marketing da Lectra para a América do Sul, a visão da empresa é de que a maioria das transformações no mercado de moda partem das demandas dos consumidores, e as confecções e varejistas precisam analisar com cautela o que faz mais sentido ao negócio para atender seus clientes da maneira mais eficiente possível, sem se perder no caminho.

Soluções de encaixe Lectra, com cálculos em nuvem ultrarrápidos e espaçamento zero.

“Qualquer transformação no processo de desenvolvimento de uma coleção impacta fortemente na produção do dia a dia, então, ela deve ser bem pensada e avaliada do ponto de vista do retorno do investimento e relevância para o momento atual, bem como o plano estratégico da empresa para os cinco anos seguintes”, pondera.

SAINDO DA ZONA DE CONFORTO

Todos já sabem, mas é importante frisar: a pandemia foi um ponto de virada decisivo em relação à digitalização de diversas etapas do processo, da produção à venda, com o mundo vivendo e trabalhando de forma remota. Inclusive as confecções, pois muitas que ainda não tinham começaram a ver com outros olhos os benefícios em ter sistemas de controle como ERPs, PLM, com ferramentas e maquinários inteligentes, que poderiam ser controlados a distância e, ao mesmo tempo, à vista da equipe responsável.

Angela Gheller, da Totvs, lembra que os hábitos de consumo acabaram mudando bastante neste período, consequentemente, alterando o status quo. Dessa forma, a demanda por digitalizar processos se deu nos dois cenários: para suprir as necessidades do cliente externo, bem como o cliente interno das empresas, ou seja, aprimora as ferramentas de trabalho dos colaboradores e torna todo o processo mais eficiente.

“Um ponto importante para ter em mente é que, muito além dos investimentos em soluções tecnológicas avançadas, como Internet das Coisas (IoT) e inteligência artificial, por exemplo, ter um bom controle de processos administrativos de back office, compras e estoque é o primeiro passo indispensável. O planejamento e execução passam pelos ERPs e são essenciais na produtividade das empresas, pois permitem a otimização, a organização e o controle das informações de produção, estoque e vendas. Na Totvs oferecemos soluções que apoiam a indústria têxtil de ponta a ponta, desde o back office da operação, passando pela produção na indústria em si até chegar ao varejo”, comenta Angela.

Ainda nos hábitos de consumo, ela traz a informação de que em uma pesquisa realizada com a Totvs em parceria com a H2R Pesquisas Avançadas, chamada Índice de Produtividade Tecnológica (IPT), dos 673 varejistas entrevistados, 94% possuem ao menos um canal digital, reforçando de vez a chegada do varejo a este ambiente, a fim de alcançar e acompanhar o cliente final.

Em outra análise, desta vez da McKinsey Insights, diz que 2021 será lembrado pela entrada definitiva da moda nos canais digitais, e os dados desta ponta são valiosíssimos para abastecer de informações personalizadas toda a cadeia produtiva e estratégica em sua retaguarda. É um ciclo que se retroalimenta, e quanto mais digitalizado e inteligente (analytics), melhor seus resultados para todos os elos da cadeia.

Nathan Moojen, CEO da startup Moda Online, primeiro marketplace B2B de moda do país, diz que a transformação digital no setor é dividida em “PP”: pré-pandemia, onde embora houvesse empresas que estavam de olho no mercado digital, não priorizavam este canal de venda; e o pós-pandemia, onde, por meio das paralisações decorrentes dos lockdowns, as empresas entenderam a importância de estar no digital também. Ele frisa que a grande importância da jornada da digitalização para seus clientes lojistas, que atuam no B2B de moda, foi se tornarem multicanal, e entenderem que um canal de vendas não substitui o outro; na realidade, complementam-se, gerando diferentes experiências.

“Antigamente, com as frentes de vendas tradicionais, como lojas físicas e representantes, os fornecedores, de forma geral, tinham um pensamento de que o cliente do representante não comprava na loja física, e vice-versa. Hoje em dia não existe mais esse conceito, pois os lojistas não são clientes dos canais, e sim das marcas”, aponta Moojen. “Isso quer dizer que o cliente que compra hoje na loja física, amanhã pode comprar on-line e, semana que vem, do representante. O pensamento que prevalece hoje em dia para as indústrias é: independentemente do canal, compre de mim.”

Nathan Moojen, CEO do Moda Online. / Divulgação

O CEO do Moda Online também atenta para formatos de venda atacado já consolidados em algumas regiões, como os famosos “guias” ou “agentes de moda”, e os shoppings atacadistas, alguns já atuando com venda on-line. Mas, para ele, mesmo com tanta diversidade, uma coisa é certa: independentemente da região que a empresa esteja, o canal digital é necessário.

“Se eu pudesse dar uma sugestão para quem está começando a vender on-line é: comece com marketplace. No Moda Online, por exemplo, o fornecedor não tem riscos com inadimplência, não precisa se preocupar com logística, meios de pagamento, além de disponibilizar seus produtos para lojistas de todo o Brasil em uma ferramenta exclusiva para vendas por atacado, seja pequena, média ou grande empresa. Temos marcas de todas as frentes de vendas, como a GoBike, BoogMix e Babyhood, que trabalhavam apenas com representantes. Já a LaBijorca e Join tinham apenas lojas físicas, ou seja, independentemente como a indústria atua hoje, não impende também de estar no digital. Em contrapartida, temos empresas que começaram no digital, como a Floratta Jóias e Em Brasil, que entendem a importância e a força que as vendas on-line podem proporcionar.”

DIGITALIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Hoje, mais do que nunca, não há como não pensar em processos mais sustentáveis na cadeia produtiva e, assim, a digitalização de processos se torna uma aliada poderosa tanto na linha de produção quanto na governança das empresas, tornando as etapas mais transparentes de ponta a ponta, economizando recursos naturais e financeiros e eliminando o desperdício, quesitos que estão intimamente ligados.

Jacqueline e Roberto contam que a Centric, há alguns anos, já entendeu a importância de trazer a sustentabilidade ao processo de desenvolvimento e gestão de produtos, e vem incorporando em sua solução PLM indicadores que permitem mensurar, acompanhar e reportar diversos dados nesse sentido, como emissões de carbono de cada peça, consumo de recursos, geração de resíduos, consumo de energia e outras variáveis importantes para analisar e comprovar a evolução da sustentabilidade dos produtos. Eles ainda destacam que este pode ser um grande diferencial para as empresas.

“Nossas soluções têm rápida implementação e são cada vez mais amigáveis e intuitivas, e as novas versões trazem ainda mais facilidade para acessar as informações necessárias à operação e para facilitar a análise de diferentes cenários. Temos investido muito em acesso à informação de forma analítica e visual, para que nossos clientes possam ver seus produtos em diversas dimensões e fazer alterações ou aprovações de forma muito rápida. O que antes era feito em semanas, agora é feito em horas. Com as informações, desenhos e provas digitalizadas, melhoramos a capacidade de desenvolvimento de novos produtos e conseguimos ajudar nossos clientes a colocá-los no mercado de forma mais rápida, competitiva e assertiva”, relatam os experts em transformação digital da Centric, que tem entre seus clientes no Brasil marcas como Renner, C&A, Riachuelo, Malwee e Kyly.

PLM da Centric agora conta com ferramenta para contabilizar pegada de carbono nas peças produzidas.

Na Audaces, Rener Agostini elenca outros pontos importantes que podem ser vistos na prática ao adotar as soluções de digitalização na confecção e dão ganhos em eficiência e sustentabilidade, como o uso da ferramenta Audaces 4D na criação de peças diretamente no manequim virtual, comprovando estética, caimento, entre outros fatores, sem ter que produzir uma peça-piloto física, ou seja, além de ganhar muito tempo, não há uso de tecidos e insumos, que é outro ponto a ser destacado: o desperdício de materiais. Com soluções inteligentes de encaixe automático, em fração de segundos o programa traz a forma mais eficiente de modelar uma peça e cortá-la, também de forma automática. Outra ferramenta destacada por Rener é a ISA, que atua diretamente na gestão da criação, permitindo que o lead time da coleção seja melhorado e reduzido a cada ciclo, deixando sua concepção cada vez mais próxima ao lançamento e evitando estoques encalhados e desnecessários. Estas duas ferramentas fazem parte da multiplataforma Audaces360, que engloba soluções para criação, desenvolvimento, gestão e produção de moda.

O gerente de vendas conta que, recentemente, na entrega de duas implantações do sistema Audaces360, o primeiro cliente começou a usar a ferramenta Audaces 4D experimentando para criação de produtos e a colocar em caráter pré-venda em seu e-commerce, ou seja, antes mesmo de costurar qualquer peça, lançou modelos para que os clientes escolhessem e, só então, serem confeccionados, a partir de um determinado volume de vendas. O segundo, uma das maiores indústrias de moda do país, segundo Rener, que antes gerenciava o desenvolvimento de coleções do jeito tradicional, com planilhas de controle paralelas, passou a usar o ISA. Em poucas semanas, identificaram que algumas modelistas tinham que retrabalhar muitas vezes determinado modelo enquanto outras eram mais assertivas, atentando-se à habilidade de cada uma e direcionando a departamentos onde teriam melhor performance, como o de vestidos, calças, blusas, etc., reduzindo drasticamente o retrabalho.

“Com o aprendizado desses projetos, formatamos um serviço chamado Audaces Attiva, que tem o objetivo de levar o conceito da Criação 4.0 para confecções de todo o mundo”, revela.

Assim também acontece com as soluções Lectra e Gerber, duas empresas que agora fazem parte do mesmo grupo e têm ampla visão estratégica e cultura inovadora, capazes de decifrar tendências de mercado com muita antecedência para trazer as ferramentas certas aos seus clientes, sempre com tecnologia de ponta.

As executivas da Lectra, Adriana Papavero e Patricia Costa, contam que veem nestes clientes exemplos relacionados à produção sustentável, como a economia de matéria-prima e a eficiência no corte, reduzindo ou até mesmo eliminando o espaçamento entre peças, bem como um encaixe otimizado em nuvem, com algoritmos de velocidade inigualável para calcular e apontar a melhor alternativa ao corte da modelagem e enfesto.

“O atendimento técnico remoto às nossas máquinas evita que sempre tenhamos que deslocar um técnico ao local, ganhando eficiência e reduzindo a pegada de carbono e, por fim, o 3D é um exemplo incrível de sustentabilidade aliada à digitalização, evitando o desperdício inerente a peças-piloto que teriam que ser feitas fisicamente. A digitalização de tudo o que pode ser digitalizado no mundo da moda trará várias economias. Vale ressaltar que nossas soluções, tanto Lectra quanto Gerber, conversam entre si e cobrem todo o processo, da idealização ao ponto de venda, para conectar todos os atores da cadeia da moda. É uma forma mais inteligente de trabalhar e permite que nossos clientes possam inovar e chegar ao mercado mais rapidamente”, completam.

COMEÇANDO DO ZERO

Foto: Freepik

Diversas empresas de moda já estão em algum estágio da transformação digital, mas para as que estão começando do zero, aqui vão algumas dicas preciosas de especialistas na área, como Daniela Abdala, do Sebrae-SP, que fala de pilares básicos na implementação do processo:

  • Gestão integrada: buscar sistemas integrados de gestão (produção, estoque, financeiro, compras, logística, etc.);
  • Gestão de clientes: promover soluções e facilidades para seus clientes, gerar conteúdos de interesse e aquecer o relacionamento (mídias e redes sociais);
  • Gestão de dados: a coleta de dados é fundamental para o entendimento do comportamento do consumidor e deve ser usada de forma estratégica (transformar informações coletadas em oportunidade de gerar mais negócios);
  • Inovação e tendências: ficar de olho nas tendências e nas formas de inovar (processos, produtos e na gestão);
  • Relevância e propósito: criar relevância para sua marca (vincular a marca a ações sociais e/ou ambientais). Exemplo: divulgar como trata os resíduos de forma sustentável.

Rener Agostim, da Audaces, reforça as dicas lembrando que quem está começando nesta trilha tem uma oportunidade de ouro de questionar: “Será que não há um jeito melhor de fazer isso?”. Para ele, o questionamento é o primeiro passo para a mudança. Depois, é buscar alternativas “fora da caixa”, e isso envolve desde a assistir a vídeos no YouTube até a realização de visitas a outras empresas e troca de experiências com quem está passos à frente. Mais uma dica é entender a relação entre investimento – de tempo e dinheiro – e o retorno de cada ação, com o impacto de sua implementação nos negócios. “Uma vez que o saldo previsto seja positivo, o passo seguinte é avaliar como implementar a mudança”, arremata.

EDUCAÇÃO PARA A TRANSFORMAÇÃO

Fator essencial para que a transformação digital realmente escale em todo o seu potencial é o investimento em educação, na formação de novos profissionais preparados para este universo em franca transição. De acordo com o estudo da OCDE, A Caminho da Era Digital no Brasil, mais de 50% dos cidadãos brasileiros não se formaram no ensino médio e 17% não concluíram o ensino fundamental, números que estão bem acima da média da OCDE (2%). As matrículas em cursos de formação profissional e formação técnica também são baixas, apenas 3,8%. Isso indica que os empregadores brasileiros têm dificuldades no recrutamento de profissionais capacitados em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), e as baixas qualificações impedem trabalhadores e usuários de internet de usar tecnologias digitais com eficiência e se beneficiar dela, aumentando o gap da desigualdade digital e influenciando em baixos níveis de produtividade.  

CASES DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

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RIACHUELO

“A inovação faz parte do DNA da Riachuelo. O processo de transformação digital da empresa começou há algum tempo e foi intensificado e acelerado com a pandemia, pensando em como atender este novo tipo de comportamento do consumidor, além de otimizar a nossa operação. Aumentamos nossa dedicação ao e-commerce e otimizamos a experiência de compra do cliente por meio da omnicanalidade, oferecendo diversos facilitadores, como o Retire Rápido, serviço no qual o cliente tem a comodidade de comprar no site e retirar o produto em até 2 horas; aumentamos a operação por lockers, para garantir a retirada segura destes produtos; e a e-store, uma plataforma digital de prateleira infinita que permite ao cliente comprar o produto no e-commerce, de forma autônoma, e recebê-lo em casa ou retirar na loja.

Um dos principais benefícios dessa aceleração da transformação digital foi a possibilidade de estreitar ainda mais o relacionamento com o nosso cliente e promover uma experiência mais personalizada também. A transformação digital melhora nossa comunicação com o público, tornando-a mais humanizada e única, podendo também atender às demandas dos consumidores com facilidade e mensurar o impacto causado. 

O foco da Riachuelo é oferecer uma jornada de compra sem rupturas e ofertar a melhor proposta de valor ao cliente. Pensando nisso, passamos a oferecer uma experiência multicanal integrada, implementamos totens digitais nas lojas, onde o cliente pode comprar no marketplace da Riachuelo. Os vendedores também podem fazer essa ponte entre o físico e o digital, oferecendo produtos por meio dos seus dispositivos móveis. Outra novidade neste sentido é a RCHLO+, espaço onde o cliente pode personalizar produtos pela interatividade digital, incluindo imagens diversas que são estampadas na hora, proporcionando uma ótima experiência de compra. Trouxemos ainda novas funcionalidades, como o provador virtual e melhoramos o pós-venda, com serviços automatizados de estornos, que potencializou a experiência do cliente e, naturalmente, aumentamos a conversão de vendas por estes canais.

Seguimos aprimorando, continuamente, a jornada dos consumidores em nossos canais digitais. Nosso maior investimento foi em uma experiência de consumo cada vez mais completa, fluida e excelente, focada na omnicanalidade, que é uma realidade dentro do varejo. Investimos também em pessoas, principalmente para atender a área de e-commerce, que foi uma das mais demandadas com os canais digitais, omnichannel e marketplace, lançado no primeiro semestre de 2021, estruturado de modo que atenda aos mais diferentes estilos de vida.

A Riachuelo entende que a transformação digital é um processo contínuo, que proporciona mais agilidade e otimização ao dia a dia da companhia, gerando mais tempo para decisões e estratégias, por isso seguiremos aprimorando o conceito phygital a fim de fornecer uma melhor e mais completa experiência de compra para os nossos clientes.” – Carlos Alves, diretor-executivo de tecnologia e inovação da Riachuelo.

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BIBI

“A Bibi criou a área de Transformação Digital em 2018, com o objetivo de desenvolver e acelerar projetos de tecnologia, inicialmente com foco no varejo, sempre pensando em melhorar a experiência do consumidor. Com a pandemia, a empresa expandiu a área, dando mais velocidade à entrega de melhorias e novas tecnologias, priorizando as lojas que estavam fechadas e dependiam unicamente do digital para efetuar as vendas. Com o decorrer do tempo, a área passou a dar um foco também para os demais setores da empresa, repensando processos e propondo novas tecnologias para melhorar a experiência também do usuário interno.

Existe um grande desafio na área de tecnologia em relação ao mercado de TI, que está muito aquecido e com escassez de profissionais qualificados, o que acaba impactando na operação. Também em melhorar cada vez mais a experiência do consumidor, que hoje é uma tarefa bastante desafiadora. Antigamente, existia uma fidelização maior em relação ao consumidor e o canal onde ele efetuava as suas compras, mas como hoje ele é omnichannel, acaba transitando entre o mundo físico e o digital. Estarmos preparados para este movimento é um grande desafio nos dias de hoje.

Acreditamos muito que a transformação digital não é realizada apenas pelo setor de TD, mas, sim, por todos os colaboradores. Entendemos e temos uma grande tarefa de conscientizar os colaboradores que a transformação é feita por todos nós, apenas assim teremos capacidade de repensar os processos, a forma como são realizadas as tarefas, tendo a possibilidade de contribuir e propor melhorias. Visto isto, as mudanças são inúmeras, desde grandes projetos de novas tecnologias como também pequenos ajustes em rotinas que trazem muitos benefícios ao usuário.

Existe investimento financeiro, não temos como fugir dele, mas o maior investimento que faz toda a diferença no processo de transformação digital é das pessoas. As pessoas precisam se engajar, acreditar e se envolver, sendo assim, de maneira fluida, é possível de fato realizar a transformação necessária.

Tivemos uma pandemia, que era algo impensável, e que nos fez acelerar a transformação, mas sabemos que não podemos parar por aqui. Continuamos atentos aos movimentos de mercado, novas tecnologias e, principalmente, ao que o nosso consumidor está nos sinalizando, pois a visão dele é crucial para nortear as nossas ações. Como se trata de uma área com grande foco em melhorias de processos e tecnologias, acredito que a expansão da equipe seja algo natural em um futuro próximo, pois cada vez mais pensamos em maneiras de automatizar os processos que não agregam valor à nossa operação com o uso da tecnologia, ou seja, é algo que acredito não ter fim.” – Juliano Müller de Souza, gerente de Transformação Digital da Calçados Bibi.

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EM.BRASIL

“A EM.Brasil é uma marca nova, que mais do que vendas de roupas para o público feminino, ensina lojistas a venderem mais no ambiente digital. Trabalhei no varejo por 8 anos e sei o caminho das pedras para conseguir lucrar com as vendas: comecei com 10 peças de roupa, vendendo de porta em porta, e cheguei a faturar mais de R$ 10 milhões.

Estamos em diversas plataformas como Instagram (@em.brasil), Facebook (EM Brasil), YouTube (https://youtube.com/c/EricaMachadobrasil), e-commerce (www.embrasilmoda.com.br) e marketplace, como o Moda Online, sempre encontrando formas de ensiná-las a vender melhor, conhecendo seu público, e conquistar seus sonhos por meio do mercado da moda, seja em lives, vídeos no meu canal ou método em PDF. Hoje, o maior desafio é fazer o lojista escolher seus próprios produtos no ambiente digital sem depender de alguém auxiliando, eles ainda são bem dependentes, mas precisam se integrar aos novos tempos.” – Érica Machado, CEO da EM.Brasil

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MOVIN

“Digo que a digitalização na Movin foi desde o 1.º dia da marca, pois sempre tivemos a tecnologia e inovação como motor propulsor da empresa. Desde então, viemos olhando para cada etapa dentro dela para ganhar eficiência em termos de negócio e no desenvolvimento de produto. Fomos implementando aos poucos e isso foi ganhando cada vez mais relevância dentro do negócio.

Sabemos que hoje a indústria de vestuário tem diversas idas e vindas à fábrica para aprovação de um único produto, por isso já tínhamos em mente este valor e o tanto de impactos que ele causa, por isso digitalizamos o processo. Estudamos algumas opções, entendemos o uso de tecnologia 3D e replicamos ao desenvolvimento de produto. Toda essa parte de criação da roupa, caimento, pontos de tensão da peça, fazemos tudo digital, não sendo necessário envio algum para fornecedores para aprovação porque tudo é feito digitalmente. Conseguimos, dessa forma, reduzir tanto o tempo de desenvolvimento das roupas quanto todos os impactos gerados no processo, criando eficiência na economia de materiais e financeira.

A ideia é que futuramente possamos cobrir toda a parte de desenvolvimento de produto e comercialização de forma digital: esse é o nosso maior desafio hoje, que é desenvolver uma peça de mostruário que nem precise ser feita de forma física para ser fotografada e colocada no portfólio, mas estamos implementando isso com a tecnologia 3D de criação de modelos virtuais para vestir a roupa e colocar na pré-venda, que é nosso modelo de negócio, o Movin Zero, onde só produzimos o que for demandado. 

Outras etapas que vamos tentando digitalizar é a parte de contatos com fornecedores, showroom digital para atender os mercados nacional e internacional, e aí eu diria que os maiores desafios estão neste caso: imagina um cliente que está acostumado com a compra física, sentir o tecido para poder comprar. Quando se passa para o showroom digital, precisa de um processo inicial de confiança, por isso é tão importante passarmos de forma fiel detalhes do material, caimento e tudo o mais, pois assim o cliente consegue ter um base mais realista do que é o produto final.

Somos uma marca que sempre prezou pelas questões da sustentabilidade e da ética profissional, e a digitalização permite a transparência de externalizar os custos e processos aos clientes para que eles entendam cada etapa do que está incluído no preço da roupa que ele está comprando. Além de tudo, no formato que adotamos de pré-venda, a digitalização dos processos permite também que tenhamos a inteligência e a eficiência para só produzir o que for vendido, sem estoques, conseguindo preços mais competitivos em produtos de altíssima qualidade. É uma evolução contínua.” – Pedro Ruffier, fundador e CEO da Movin.

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BRANDILI

“Queremos ser rápidos e ágeis com o nosso cliente. Estar disponível 24 horas por dia, e sete dias por semana, tanto para ele comprar quanto para encontrar todas as informações pertinentes da nossa relação. Os investimentos que fizemos em transformação digital, na casa dos R$ 10 milhões, de forma geral é para trazer a Brandili para um novo momento que o mundo está passando, tendo como principal objetivo trazer perenidade para a empresa e garantindo que a Brandili esteja inserida e preparada para este novo mundo digital, onde se respira tecnologia, inovação e criatividade. O perfil de consumo e os anseios dos nossos clientes vêm se moldando e transformando com a nova realidade – com esse novo mundo – e é imperativo que a Brandili faça o mesmo e continue relevante no mercado, sendo possível com a construção dessa jornada de transformação digital. Entendemos que não há um prazo fixo para atingirmos a maturidade digital ideal nem há um fim nessa jornada, mas acreditamos que, quanto antes atingirmos, maior será a nossa capacidade de aumentar o nosso share. Estamos investindo em novos sistemas de CRM e B2B, pois é imprescindível entender melhor o nosso cliente e entregar um melhor nível de serviço.

Também estamos integrando nossos canais de vendas e, assim, melhorar o apoio em toda a comercialização dos nossos produtos, bem como nossos serviços prestados, integrando uma  visão 360º  Brandili com o cliente. Nesse ponto, conseguiremos permitir que os representantes e os colaboradores, independentemente da área de atuação, tenham uma visão ampla e geral e, com isso, poderão dar maior agilidade e resolução de problemas em um primeiro atendimento. Como parte da nossa estratégia, temos também a unificação das nossas áreas de Digital B2B e Televendas em uma moderna configuração chamada Inside Sales, modernizando o atendimento do nosso Televendas via plataforma digital e deixando nossa equipe de digital com uma abordagem mais comercial.

Fizemos uma parceria com a Salesforce, na qual teremos a nuvem de Service, com um catálogo de serviços para o nosso cliente, que engloba toda a integração de serviços da Brandili dentro da plataforma, que vai desde segunda via de boleto até pedido de devolução e solicitação de materiais especiais de marketing e orientações de visual merchandising como sugestão para melhorar a exposição dos produtos Brandili nos PDVs. Na nuvem de Sales (ou CRM), é onde faremos toda a gestão de relacionamento com o cliente, o que já conhecemos como CRM padrão de mercado. Na nuvem de Commerce B2B, teremos o portal de vendas para o cliente e representante, será o local onde eles terão a oportunidade de conhecer e comprar as nossas coleções, além disso, será o nosso hub de relacionamento com o cliente, em que todas as demais nuvens poderão ser acessadas deste único ponto. Ele vai substituir o portal B2B atual, porém, mais do que isso, ele vai trazer um catálogo de serviços que não temos atualmente e o CRM, que também não temos de forma estruturada. 

Também adotamos o sistema MYRP no Empreenda Brandili, 1.° ERP na nuvem do Brasil, um Sistema de Gestão Empresarial e PDV (Frente de Caixa) 100% on-line, que oferece às micro e pequenas empresas as melhores ferramentas para os negócios crescerem exatamente de acordo com as principais necessidades gerenciais, fiscais e financeiras. Será referência para melhorar o sistema de informática para os lojistas do programa Empreenda Brandili (novidade lançada em 2020 que é um modelo de licença para quem quer empreender no segmento de moda infantil). Estará vinculado ao sistema da Brandili e permitirá uma conexão e apoio maior, entre elas, a recomendação de compras ou reposição de produtos e a gestão de vendas de forma sempre muito consultiva. Sem a necessidade de instalação de qualquer software, o acesso é por meio de qualquer dispositivo, como computadores, tablets ou celulares.

Atualmente, estamos caminhando para a implantação de um sistema de PLM por meio de várias ferramentas prontas do mercado. Com essa implantação, queremos reduzir o custo de produção e de manutenção do ciclo de vida dos produtos, assim como o tempo entre a criação de um produto e sua disponibilidade no mercado. Isso possibilita medir riscos, falhas, progressos e sucessos de novos produtos.

Em um cenário em que a competição por um espaço no mercado se torna cada vez mais forte, as empresas precisam de todo o conhecimento possível, com todos os recursos disponíveis para criar condições que possibilitem sua imersão e manutenção no mercado.” – Daniela Correia, gerente de canais digitais da Brandili.

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