Projeto de pesquisa desenvolvido no Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras apresenta alternativa sustentável para a indústria têxtil e cosmética
Utilizar vias biológicas para a produção de novos insumos já é uma realidade que tem contribuído para a criação de alternativas a produtos quimicamente produzidos. Com o objetivo de agregar valor aos resíduos da indústria, foi engenheirado geneticamente um microrganismo com potencial de obter carbono e convertê-lo em um biocorante azul.
Giulia Aranha, pesquisadora do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos e Fibras, explica que o projeto de produção de corantes por rotas microbiológicas, surgiu após identificarem a demanda da indústria por processos mais verdes relacionados as cores. “Ser sustentável não é apenas uma obrigação, mas sim uma estratégia de posicionamento de produtos pela indústria. Pensar em um resíduo rico em Carbono e Nitrogênio, como nutrientes para bactérias, nos permite desenvolver novos bioprocessos”, ressalta.
MAS, POR QUE A COR AZUL?
O azul índigo é um dos pigmentos naturais mais antigos. Extraído da Indigofera tinctoria L., há mais de 4.000 anos, na Índia, ele chegou na Europa no século XVIII. Diferente de outras cores, o azul índigo ganhou popularidade pela sua estabilidade e versatilidade. Por conta dele e de alguns bons temperos, as civilizações se lançavam ao mar durante as grandes navegações.
O Índigo sintético, que atende à maior parte da demanda comercial de têxtil e de alimentos, é produzido em uma fusão química sob pressão. Uma alternativa de obtenção do Índigo também pode ser por vias naturais de extração de plantas, o que demanda um processo que ocupa área cultivável, mas tendo um menor rendimento. Essa produção dos corantes artificiais tem seu uso permitido no Brasil, pela Anvisa (INS 132), para doces e sobremesas.
A utilização dos microrganismos na produção dos corantes apresenta várias vantagens, como o reciclo de resíduos como matéria-prima sustentável; obtenção de um produto eco-friendly, análogo à sua versão sintética; não é necessário limitar-se a uma única molécula; além de não se demandarem hectares de cultivo, o que facilita a logística, quando comparado a uma produção extrativista vegetal.
“Existe a demanda industrial de inovar e ser competitivo. A biodiversidade brasileira é um parque de diversões em termos de conteúdo e possibilidades para os cientistas. Ter os diversos manuais de instruções, em mãos, ou seja, os genes de um organismo, nos permite pensar em como transformar aquela receita em algo real para a sociedade”, conclui Giulia.
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Corantes sintéticos são mais recentes em nossas linhas de produção, mas os corantes naturais foram os responsáveis por termos as documentações de nossas origens, em pinturas rupestres, com o uso de, majoritariamente, minério, como (vermelho) hematita, (amarelo) goethita, (pretos) óxido de ferro, preto carvão e calcita, no período Paleolítico, entre 2,5 milhões de anos até 10 mil anos atrás*.
Evoluindo na história e sofisticando os hábitos, não apenas se desenvolveram as vestimentas mais sofisticadas e tonalizadas, como também se passou a pintar corpos e cabelos, como o caso dos egípcios, com a henna e a camomila. Também foi nessa civilização específica, juntamente com a chinesa, que se desenvolveu, concomitantemente, o nanquim, essencial para manufatura de acervos literários. Avançando rumo ao ocidente, se encontra um dos maiores polos de tinturaria e estamparia, a Índia. Esta se manteve, por milênios, como referência no mundo, tendo inclusive festas culturais associadas as cores.
Com a demanda cada vez maior de se desenvolver aplicações para os corantes naturais, as tecnologias passaram a evoluir em conjunto, de forma a terem maior durabilidade e resistência. Os gregos buscaram refinar as técnicas egípcias utilizando proteínas de ovo, contudo, nesse caso específico, os microrganismos não colaboraram para que as histórias fossem contadas, degradando esses corantes*.
*Material de Referência: ISBN 978-65-994960-7-3