Por Coletivo Cria
Ao longo de quase 200 anos de operação, a indústria têxtil brasileira coleciona uma série de números que evidenciam a grandeza de sua potência na economia nacional: é a segunda maior empregadora da indústria de transformação – perdendo apenas para alimentos e bebidas -, está entre as cinco maiores produtoras e consumidoras de denim no mundo e entre as quatro maiores produtoras de malha mundial, além de ser a maior cadeia têxtil completa do ocidente – atuante desde a plantação do algodão até os eventos de moda nacional – segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit).
No entanto, apesar de tamanha relevância, o setor vem enfrentando uma série de dificuldades e sofre com os efeitos das crises provocadas pela pandemia de Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Dado que comprova que o momento é delicado para o segmento é a estimativa de crescimento médio do setor que, segundo a Abit, não deve ultrapassar 1,2%, neste ano. Segundo a entidade, mesmo com as adversidades, o setor trabalha de maneira firme e planejada suas estratégias para manter o crescimento com ganhos de produtividade e com forte ênfase nas agendas de sustentabilidade, inovação, tecnologia, investimentos e geração de postos de trabalho de qualidade.
No âmbito nacional, os problemas são muitos e se acumulam ao longo dos anos, como a falta de políticas de incentivo industrial, falta de mão de obra qualificada, ineficiências da malha logística, aumento nos custos de insumos, instabilidade cambial, além da concorrência desleal com os produtos importados, uma vez que seus impostos são menores e a mão de obra é extremamente desvalorizada – e, em muitos casos, análogas à escravidão. A pandemia que desencadeou uma crise econômica, somando-se à guerra entre Rússia e Ucrânia, países estratégicos para a exportação de insumos têxteis e fertilizantes, geraram entraves com efeitos em escala global que contribuem para o agravamento do setor enfraquecido nacionalmente.
Diante do complicado cenário atual, empresas se movimentam e apostam em soluções inovadoras para enfrentar as adversidades e avistar novas perspectivas para o futuro. A busca por novas alternativas de matérias-primas e modos de fabricação dos tecidos – como a redução do uso de água para a produção do jeans e, até mesmo, a reutilização de resíduos têxteis e de outros materiais recicláveis para produção e desenvolvimento de novos produtos – se tornou um caminho promissor para o fortalecimento da competitividade do setor.
Outra perspicaz aposta do segmento consiste na criação de grupos e coletivos formados por empresas do setor – concorrentes ou não – e indústrias relacionadas. Como exemplo, temos a realização do Coletivo Cria, evento que recentemente realizou a sua segunda edição, com o objetivo mostrar o poder criativo em uma coleção cápsula, com tudo o que a indústria da moda precisa, no que diz respeito à tecnologia e inovação, ofertando, além de produtos, serviços e recursos para atender às demandas de confeccionistas.
O Coletivo Cria nasceu com a proposta de mostrar que a união das empresas pode ser um grande diferencial para o mercado, além de lançar um salão de negócios para a moda casual brasileira que não existia. A exposição foi uma realização das indústrias Cataguases, Dalila Ateliê Têxtil, Lancaster, Perfeito, RenauxView, Tecnoblu e Texneo, com o apoio da Santa Catarina Moda e Cultura (SCMC) e da Faap. Ao longo de três dias, o evento, que se propõe a movimentar a indústria têxtil brasileira e seus confeccionistas, recebeu profissionais do setor, estudantes e clientes.
A expectativa é que esse movimento cresça, siga adiante e contribua para que a moda tenha cada vez mais consistência própria. Esse esforço mútuo, junto ao compartilhamento de know-how, é depositado em pesquisas, desenvolvimento de coleções, novas estratégias e eventos que movimentam o mercado, além da promoção de debates sobre o cenário da moda nacional como forma de enxergar perspectivas futuras para a estrutura da indústria têxtil.
Além desses movimentos, a indústria têxtil nacional começa a aderir a investimentos em digitalização de seus processos, por meio da indústria 4.0, que integra o físico ao digital, automatizando dados e investindo em novos maquinários integrados, até mesmo à inteligência artificial, bem como a adoção das práticas de ESG.
Tais estratégias denotam que o momento é propício para o desenvolvimento de produtos inovadores – para além de ser apenas mais um tecido no mercado -, que ofereçam verdadeiras experiências aos clientes. Validadas pelo mercado e pelos consumidores, a mudança de pensamento, de valores e investimento em soluções tecnológicas se tornam fatores indispensáveis para a retomada do crescimento e configuram-se como o caminho mais assertivo para a evolução da competitividade do setor têxtil nacional no exterior.
*Coletivo Cria é um grupo formado pelas indústrias têxteis Cataguases, Dalila Ateliê Têxtil, Lancaster, Perfeito, RenauxView, Tecnoblu e Texneo.
Foto: Designecologist / Unsplash