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EM QUAL MULTIVERSO VOCÊ ESTÁ HOJE?

*Por Sueli Pereira

Você acabou de voltar férias? Seus pensamentos transitam entre passado recente e futuro, ou seja, a próxima viagem? Se, como eu, você também deve ter retornado das férias sendo bombardeado por notícias 5G e quanto isso vai impactar a forma como nos relacionamos, trabalhamos e vivemos conectados no metaverso.

Aliás muitos já sabem o que é metaverso, mas um rápido esclarecimento:  o termo metaverso apareceu pela primeira vez em “Snow Crash”, livro de ficção científica escrito por Neal Stephenson em 1992. Nele, as pessoas usam o metaverso para escapar de uma realidade distópica.  Criada a partir de diversas tecnologias como realidade virtual, realidade aumentada, redes sociais, criptomoedas etc., a ideia é que o metaverso seja uma espécie de Internet 3D, onde comunicação, diversão e negócios existirão de forma imersiva e interoperável, onde as pessoas vão interagir entre si por meio de avatares digitais.

E o que isto tem a ver com as férias? A primeira coisa que amei das férias foi contrariar a teoria do meu marido que sempre me diz: se você se apaixonou por um lugar, não volte, fique no sonho, porque você pode se decepcionar. Gostei tanto que vim querendo comprar um terreno ou uma casa neste paraíso – não tão acessível, foi aí que me deparei com a notícia que recentemente foi vendido um terreno por US$ 450 mil (R$ 2,5 milhões) no Snoopverse, um mundo virtual que o rapper Snoop Dogg está desenvolvendo dentro do The Sandbox.  

Os terrenos virtuais são as terras virtuais dispostas em mapas digitais divididos em lotes, que  existem em plataformas que se relacionam com o metaverso, como a Decentraland (MANA) e o The Sandbox (SAND). Nos últimos meses, cresceram os investimentos significativos em terrenos virtuais dentro do metaverso.

E o que isso tem a ver com a moda, que é minha praia? A moda media o real, os sonhos, o tempo e o espaço – físico e virtual – e ela não perderá a oportunidade de passear nos diversos espaços e nos levar em viagens nos túneis do tempo que se expandiram neste universo virtual.  Um exemplo deste flerte é a compra do Grupo Metaverso no “distrito da moda” da Decentraland. De acordo com o comprador, o espaço será utilizado para receber eventos de moda digital e vender roupas virtuais, outra área com potencial de crescimento no metaverso.  Não à toa, a Adidas firmou parceria com a Prada, com foco em NFT e metaverso.  A Nike também já entrou na onda do universo virtual e comprou, recentemente, uma startup com foco em tais tokens.

Voltando as férias, o fato é que eu fico aqui neste deleite nostálgico que mal consegui voltar ainda, e olha que levei um certo tempo para chegar; digamos que vivi a experiência da volta, peguei uma estrada desafiadora, parei em uma cidade por um dia, dirigimos novamente e, aí sim, pegamos o avião. E por sinal não sou só eu que nado na nostalgia em meio a onda futurista: a moda artesanal prolifera, me encantei com os biquínis feitos de tecidos tipo aqueles liberty, estampas naïves de bustiês e tanguinhas amarradas, hot pants com franzido elastizado ou aquelas malhas tipo tricô ou crochês e macramês costurando tecidos.

Mas não é bem sobre a tendência da roupa que reflito aqui. Justo eu, que trabalho pesquisando tendência e prospectando o futuro, me vejo nesta BQ (big question), já que a moda media estes contrapontos. Nesta sobreposição de mundos, que não se trata só de espaços, mas de aceleração, num mundo já tão estressado, que pede desaceleração. O que acontecerá no nosso cérebro, nesse multiverso, ou seja, múltiplas possibilidades de nós mesmos, nesta metaviagem sem distância entre mundos e experiências?

Segundo Jeremy Bailenson, diretor-fundador do laboratório que estuda realidade virtual na Universidade Stanford, EUA, o avanço da tecnologia nos próximos anos promete experiências mais poderosas, diluindo ainda mais as fronteiras e confundido o cérebro que entende esses sinais como realidade. “Para algumas pessoas, a ilusão é tão poderosa que o sistema límbico (região do cérebro envolvida com emoções e memória) entra em um estado de atividade intensa” , explica Beilenson, que lembra a experiência de um psicólogo da Universidade de Hamburgo, na Alemanha em 2014, que passou 24 horas em uma sala de realidade virtual em condições monitoradas e relatou que houve desorientação “sobre estar em um ambiente virtual ou no mundo real” e confusão a respeito de “certos artefatos e eventos entre os dois mundos”.

Não importa se na imensidão da areia ou infinito multiverso no Sandbox, enquanto as lembranças da praia e som das minhas pisadas ainda soam na minha cabeça, ao mesmo tempo aqui isolada no meu quarto, por conta da Covid-19, abraço curiosa a ideia de surfar neste metaverso. Certa de que os sentidos serão cada vez mais valorizados e perseguidos pela tecnologia para tornar o virtual mais real (porque o cérebro precisa primeiro trazer informações dos órgãos sensoriais para interpretar e criar a nossa compreensão e percepção do mundo), e incerta se a melhor escolha e investimento é um terreno no mundo material ou virtual.

E você, vai apostar neste investimento / entretenimento?

*Sueli Pereira tem mais de 20 anos de experiência no setor têxtil, é formada em Jornalismo, História da Moda e Gestão Empresarial, e uma estudiosa do comportamento humano.

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