Apoiadas pelo movimento Sou de Algodão, o bordado filé, patrimônio cultural e imaterial do estado, vem ganhando destaque e melhorando a vida de artesãs
A técnica do filé consiste na elaboração de uma rede em linha 100% algodão, que é esticada pelas bordas usando um cordão sobre uma peça de madeira de formato quadrado ou retangular (um tear), onde são bordados os pontos com agulha especifica, resultando prioritariamente em peças decorativas e de vestuários. Os motivos dos pontos traçados são características florais ou geométricas, em uma única cor ou multicolorido; sendo que a policromia destaca a singularidade ao bordado filé alagoano, além de sua variedade de pontos e grande harmonia de cores para bordar as peças. Este trabalho artesanal é uma tradição da região, com conhecimentos geralmente repassados de geração para geração.
Mas também pode ser “uma preciosidade” aprendida entre amigas, como foi o caso de Petrucia Lopes, vice-presidente do Instituto Bordado Filé da Região das Lagoas Mundaú Manguaba (INBORDAL), que abrange seis municípios: Coqueiro Seco, Maceió, Marechal Deodoro, Pilar Santa Luzia do Norte e Satuba. “Com 14 anos, fui morar em Maceió, no bairro do Pontal da Barra, conhecido como o bairro das rendeiras. Lá, aprendi o bordado filé com as amigas em minha adolescência”, diz Petrucia.
Mas não existe bordado sem linhas de boa qualidade. Para garantir um insumo de excelência para as bordadeiras, o movimento Sou de Algodão, uma iniciativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), ajuda a promover a união de todos os agentes da cadeia, desde os produtores rurais e da indústria têxtil dessa fibra até o consumidor final, passando por tecelões, artesãos, fiadores e designers de moda.
Trabalhar com linhas 100% algodão faz toda a diferença no bordado filé, por isso as artesãs não renunciam à qualidade. “Trabalhamos com um único insumo: a linha 100% algodão. Nenhum outro tipo sem ser este”, diz Petrucia. Para as bordadeiras terem uma boa matéria-prima, o trabalho começa com o agricultor na lavoura.
“O movimento Sou de Algodão reforça a importância da qualidade da fibra em toda a cadeia de consumo. Para um algodão de qualidade, é preciso ferramentas e soluções inovadoras no campo. É preciso um trabalho colaborativo que envolva players desta cadeia, por isso, acreditamos e apoiamos o movimento”, conta o líder do negócio de algodão da Bayer para a América Latina, Rafael Mendes.
Para a Bayer, esta é também uma forma de ampliar o diálogo com a sociedade e conhecer projetos de sucesso, como este desenvolvido pelo Instituto Bordado Filé da Região das Lagoas Mundaú Manguaba. “O trabalho desenvolvido com instituições como a Abrapa são fundamentais para construirmos novas soluções e tecnologias para um futuro mais sustentável, impactando positivamente todos os elos da cadeia produtiva do algodão”, acredita Mendes.
O bordado filé da Região Das Lagoas Mundaú Manguaba recebeu a indicação geográfica (IG) em 2016, na modalidade Indicação de Procedência (IP), por ser o território onde se encontra o nascedouro e maior núcleo de produção do bordado filé no estado de Alagoas, conhecido e afamado pela produção desse bordado. “Há artesãos em outras regiões do estado, mas sem contar com a mesma escala de produção e número de produtores estabelecidos no complexo ecológico formado pelas duas lagoas Mundaú e Manguaba e suas comunidades de pescadores artesanais”, diz Petrucia.
BORDADO QUE INCREMENTA A RENDA
Na região, existem várias associações de artesãs que fazem o bordado filé. O INBORDAL é o organismo regulador deste tipo de trabalho na Região das Lagoas Mundaú Manguaba. A emissão do selo de procedência está consignada à residência na área delimitada da IG e a um produto em conformidade com os processos descritos no Caderno de Instruções do Bordado Filé de Alagoas – Um guia de como fazer o tradicional bordado da IG Região.
“Para estas mulheres alagoanas, o dinheiro proveniente do bordado filé é um complemento de renda familiar muito importante. Há artesã que consegue tirar R$ 500 por mês, valor superior ao Bolsa-Família ou um Bolsa-Gás”, diz a vice-presidente. “É um diferencial na renda familiar”, acrescenta.
Por esta razão, o INBORDAL vem investindo na produção de coleções, de oficinas de repasse de pontos e de técnicas de conservação, orientações sobre a correta lavagem das peças e de informações sobre a origem do bordado. “Como também na melhoria da qualidade das peças executadas e nas boas práticas de fazer o filé; através da captação de recursos via editais e ou convênios com instituições, fábricas de linhas e instituições culturais”, comenta Petrucia.
Muito mais que um complemento financeiro, o bordado filé promove o empoderamento feminino. “Paula Gomes, uma associada, nem falava quando chegou ao INBORDAL. Mas depois das oficinas do SEBRAE-AL, da convivência entre as mulheres, ela desabrochou”, conta Petrucia. Segundo conta, Paula costuma dizer que, antes, pedia dinheiro ao marido, mas agora é ele quem pede emprestado a ela. Além disso, a artesã – que outrora deixava seus bordados na loja de uma amiga – hoje tem seu próprio ponto de venda.
EFEITO PANDEMIA E A DIGITALIZAÇÃO
A baixa do turismo causada pela Covid-19 impactou a demanda por bordado das artesãs, que trabalhavam sob encomenda para lojistas com comércio em orla de praia e balneários. Mas a pandemia também trouxe oportunidades. “Em um ano, crescemos 10 anos em mídia social”, diz Petrucia. A associação recebeu curso de redes sociais do SEBRAE-AL e Rede Nacional do Artesanato Solidário (Artesol) sobre como ampliar o alcance em Instagram e Facebook. Embora a demanda dos lojistas ainda não tenha se reestabelecido, as bordadeiras abriram novos mercados, apoiadas por padrinhos, como o movimento Sou de Algodão, Rede Nacional do Artesanato Solidário (Artesol), Programa do Artesanato Brasileiro (PAB/AL) e SEBRAE-AL.
“Não tenho nem palavras para agradecer esta parceria, que nos proporciona tantos benefícios”, diz Petrucia referindo-se ao Sou de Algodão, uma iniciativa que visa despertar uma consciência coletiva em torno da moda e do consumo responsável.
A vice-presidente do INBORDAL cita o fato do movimento Sou de Algodão ter atraído reconhecimento para o bordado filé por meio de parcerias com estilistas da Casa dos Criadores, principal evento dedicado à moda autoral brasileira.
QUALIDADE NA LAVOURA
Hoje, 75% da produção do algodão no país possui certificação socioambiental. Além disso, os produtores têm adotado tecnologias para aumentar a produtividade da fibra enquanto, simultaneamente, reduzem a aplicação de defensivos e aumentam a proteção contra as principais pragas da lavoura.
A biotecnologia Bollgard®, da Bayer, é um exemplo. Líder para o algodão no Brasil, a solução Bollgard II RR Flex™ está presente na maioria dos campos da cultura do país, segundo o mapeamento da safra 2019/2020 realizado pela BIP/Spark. E ainda este ano, a empresa vai lançar a terceira geração da tecnologia Bollgard (III RR Flex™), que trará mais produtividade e novos manejos a pragas.