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PARA SUPERAR GARGALOS, MAERSK AMPLIA INVESTIMENTOS EM TODA A CADEIA LOGÍSTICA

Companhia é responsável por 20% da movimentação diária da logística global

Em meio à maior crise portuária global em 65 anos e com uma pandemia obstinada, que se recusa a ceder completamente, a A.P. Moller – Maersk, responsável por movimentar diariamente 20% da logística no mundo, vem liderando na busca por soluções e melhoria da cadeia internacional de suprimentos. A meta do conglomerado dinamarquês, em operação desde 1904, é ser o integrador da logística global – de ponta a ponta -, que vai desde a planta produtora até o ponto de venda, integrando todos os processos da cadeia e mitigando os gargalos logísticos.

“CRISE DOS CONTÊINERES”

Desde que a Covid-19 se instalou -primeiro na China, paralisando cidades, indústrias e exportações, e depois como pandemia, o mundo assistiu a todo o desajuste de abastecimento da cadeia global de toda a sorte de suprimentos, mostrando o quanto ela é frágil e sua dependência do fluxo contínuo e ininterrupto de funcionamento.

“Da noite para o dia, a demanda caiu 30% com o lockdown na China”, comenta Julian Thomas, presidente da Maersk para a Costa Leste da América Latina. “Depois, com a retomada inesperada do comércio global e a disparada do e-commerce, a demanda que já estava quase saturada antes da pandemia, só fez o problema de distribuição se agravar: de um lado, havia a demanda reprimida e a injeção de dinheiro dos governos para fomentar as exportações; de outro, havia falta de trabalhadores, caminhões e trens para escoar toda a mercadoria.”

De acordo com Julian, isso fez com que navios ficassem presos em portos com contêineres cheios para descarregar, os prazos triplicaram de tempo e o sistema saturou. O efeito cascata estamos vivendo até agora, com a demora e falta de cadência nas entregas, prejudicando as produções industriais e, consequentemente, o abastecimento de praticamente todos os setores.

“Hoje, precisaríamos do dobro de contêineres para dar conta, e ninguém tem. A cadeia está estressada, qualquer eventualidade mexe com a estrutura logística mundial atualmente, gerando um impacto multiplicador”, ressalta Julian.

Há cerca de 350 navios de transporte de contêineres em todo o mundo estacionados fora de seus portos designados e sem espaço para atracar. Com 90% do comércio internacional realizado por via marítima, esta questão global não está apenas impactando a importação e exportação, mas também criando gargalos logísticos.

Embora seja um problema que já existe há muitos anos, o ecossistema em evolução do comércio internacional deve ser considerado. A atual crise logística atinge também a América do Sul, como no Brasil, onde o apetite do mercado é maior do que a oferta logística disponível atualmente.

Com o comércio global interrompido, houve pouco ou nenhum investimento em desenvolvimento no ano passado. Agora, as empresas de navegação estão sendo forçadas a evoluir rapidamente para atender ao aumento na demanda, que engloba não somente a produção de novos contêineres e navios, mas a melhoria de estrutura nos portos globais. No caso do conglomerado, Julian destaca que a Maersk já encomendou novos contêineres e navios, que serão entregues em 2023.

“Disponibilizamos todos os nossos navios e liberamos a capacidade ociosa. Também reforçamos outros meios de transporte como barcaças, trens, caminhões, armazéns e feeders. Nós também reposicionamos os navios entre as rotas de comércio e portos de modo a obter maior eficiência”, destaca Julian. 

Imagens: Divulgação Maersk

FRETE NAS ALTURAS

Outro efeito pandêmico na logística foi diretamente no preço dos fretes, especialmente os spots, que flutua diariamente. Com toda a demanda reprimida, 100% da frota global de navios está fechada, não há ociosidade. Somado a isso, há o aumento no preço dos combustíveis, que compõe a maior fatia do custo dos fretes – entre 30% e 40% -, e a queda da previsibilidade para atender às demandas dos clientes. Atualmente, 50% dos fretes estão em contratos fechados com armadores e operadores de logística em todo o mundo, onde os valores têm previsibilidade. Mas para quem faz parte do mercado spot, como o têxtil, de confecção e maquinários para esses segmentos, por exemplo, para reduzir o valor de frete um forecast seria necessário, mas difícil de fazer, já que depende da demanda do mercado.

Porém, o presidente da Maersk para a América do Sul explica que o cenário atual de oferta e demanda fez com que as taxas de frete aumentassem, mas esta não é uma situação de longo prazo nem um cenário bem-vindo para as companhias de navegação. “Com uma lucratividade histórica de apenas 2% – inferior ao custo de capital – as operadoras não podem investir em medidas como capacidade de buffer e projetos de rede mais flexíveis. Precisamos de uma nova maneira de ver as coisas, com flexibilidade, agilidade e resiliência, atribuindo um valor no custo do produto. É por isso que, para construir a resiliência necessária e evitar uma situação semelhante no futuro, os remetentes, despachantes e outras partes interessadas precisam perceber que há um custo associado a tornar as cadeias de suprimentos mais resilientes. Dito isso, no entanto, esses custos iniciais mais altos resultarão em ganhos significativos de longo prazo para os clientes, à medida que o ecossistema melhora em geral. Então, o que precisamos fazer é “descomoditizar” o transporte e criar uma mentalidade de parceria”, analisa.

LOGÍSTICA INTEGRADA, DIGITALIZAÇÃO E BLOCKCHAIN

Julian Thomas destaca a importância de desenvolver uma integração no setor, pois toda a cadeia logística se compromete quando há um aumento significativo no volume transportado, causando gargalos em todas as etapas. “Se temos um aumento de demanda nos navios, precisamos desenvolver os portos e, consequentemente, o modal ferroviário, que irá transportar a carga para outras regiões. Tudo está interligado”, explica.

Para ajudar no enfrentamento desses gargalos, a Maersk vem investindo tanto na digitalização de processos e uso de blockchain, como a plataforma desenvolvida em parceria com a IBM, a TradeLens, fazendo o rastreio de todo o processo logístico nos principais portos mundiais, trazendo mais agilidade e, principalmente, transparência.

“Estamos na vanguarda do desenvolvimento de soluções inovadoras de cadeia de suprimentos, unindo nossa rede global e profunda experiência com inovações digitais pioneiras para permitir que nossos clientes fiquem à frente da curva”, ressalta o presidente.

O executivo ainda lembra que a pandemia do novo coronavírus mudou os padrões do consumidor e a logística global deve seguir o mesmo exemplo, e que o lockdown significa que estar presencialmente em determinados lugares não é mais viável em muitas regiões.

“A Maersk iniciou seus esforços para se transformar digitalmente em 2017. Contudo, a pandemia de Covid-19 nos levou a alcançar em 9 meses o que esperávamos fazer em três anos. Ao invés de ser apenas uma empresa armadora, queremos ser uma empresa de logística integrada”, afirma.

“Atualmente, temos mais de 6.000 pessoas em todo o mundo trabalhando em TI e desenvolvimento digital. E todas as unidades de negócios participam desse processo. O objetivo da Maersk é tornar uma operação de logística global tão fácil quanto para o consumidor entrar em serviços de e-commerce e fazer compras. Alguns cliques e pronto”, completa.

ENTRADA NO MERCADO DE FRETE AÉREO E TERRESTRE

Como parte da integração objetivada pela Maersk, a companhia está investindo alto no frete multimodal – incluindo o aéreo e terrestre -, armazenagem, manejo e serviços de cabotagem aqui no Brasil.

Na parte aérea, a empresa começou os serviços aqui no país no início de 2021, com equipes próprias que podem auxiliar nas demandas de seus clientes em qualquer aeroporto nacional. Na parte terrestre, a intenção é facilitar o escoamento de mercadorias para o interior do Brasil.

De acordo com Julian, os setores mais beneficiados seriam aqueles que não podem ter suas linhas de produção paralisadas, que possuem uma demanda muito rápida de transporte e, consequentemente, necessitam de alta velocidade na logística.

PERSPECTIVAS PARA 2022

Para o próximo ano, Thomas acredita em um mercado mais preparado. “Com base nos pedidos feitos atualmente, é esperado um aumento da capacidade de navios em 22% do mercado mundial”, destaca. A entrega dos navios está programada para o período de 2021 a 2025, com maior volume em 2023. 

Em relação aos contêineres, o presidente da Maersk destaca algumas ações. “Estamos adquirindo novos contêineres e conseguimos diminuir o tempo que o contêiner leva para sair e voltar do porto, ganhando mais agilidade no processo. Além disso, esperamos que as restrições impostas pela pandemia de Covid-19 sejam reduzidas com o aumento da vacinação”, analisa. 

Nas demandas, o volume deve permanecer nos níveis atuais do segundo semestre de 2021, com previsão de aumento entre 2 e 4% em 2022.

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