Dois representantes de cada região do Brasil vão apresentar as coleções em um desfile especial na edição 55 da Casa de Criadores
Neste sábado, 7 de dezembro, 10 trabalhos finalistas criados por estudantes de moda, serão apresentados na final do 3º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores. Cada coleção terá 6 looks completos, sendo, pelo menos, dois em denim. A composição das peças tem, no mínimo, 70% de algodão. Fazendo parte do line-up oficial da semana de moda, os desfiles vão acontecer no Viaduto do Chá, em São Paulo, às 19h. Pela primeira vez, a grande final será com dois representantes de cada região do Brasil. A beleza será assinada por Maxi Weber e o styling por Maika Mano.
“Estamos entusiasmados para conhecer as coleções e o próximo nome da moda autoral brasileira. Ter uma final com candidatos de todas as regiões do Brasil celebra a nossa diversidade e a riqueza, dando oportunidade e visibilidade a estudantes que representam o futuro do setor. O 3º Desafio, acima de tudo, é uma forma de revelar novos profissionais”, comemora André Hidalgo, diretor da Casa de Criadores.
Clarisse Fonseca, Coordenadora do Curso de Design de Moda da Estácio Pará, destaca justamente a preocupação do Desafio em observar a participação de várias regiões do país. “Isso torna o concurso ainda mais plural. Ao longo de todo o trabalho, fomos tratados com muito respeito e cordialidade, com uma atenção especial às nossas características culturais aqui do Norte, especialmente na seleção de casting, beleza e acessórios. Certamente, essa foi uma experiência que está impactando a vida acadêmica dos nossos alunos de forma muito transformadora”, comemora.
Silmara Ferraresi, diretora de relações institucionais da Abrapa e gestora do movimento Sou de Algodão, comemora a final com todas as regiões do Brasil representadas. “É um sinônimo de vitória. Trabalhamos para que a moda nacional seja, cada vez mais, valorizada e reconhecida. E ficamos ainda mais felizes quando conseguimos juntar o nosso algodão brasileiro, que é uma fibra versátil e de qualidade, com o futuro do mercado”, explica.
Walvyker Alves de Souza, Professor Mestre em Design no Departamento de Artes e Design (DAD) da PUC-Rio e orientador das finalistas Laura Diniz e Yohanna Oliveira, acredita que o Sou de Algodão abre espaço para a conscientização dos jovens designers. “Iniciativas como o Desafio, permitem que eles produzam criações com foco na reorganização estrutural de um novo mundo na cadeia têxtil, mais consciente e menos agressivo.”
Os três primeiros colocados receberão produtos das tecelagens parceiras do movimento Sou de Algodão e um programa de orientação profissional, promovido por apoiadores do concurso. O grande vencedor será contemplado com um prêmio no valor de R$ 30 mil, e passará a integrar o line-up oficial da Casa de Criadores a partir da primeira edição do próximo ano. O professor orientador do primeiro colocado também será reconhecido com um prêmio: uma bolsa orientação no valor de R$ 10 mil, destinada à pesquisa sobre algodão. Em edições passadas, o Desafio revelou nomes como Mateus Cardoso, Dario Mittmann, Rodrigo Evangelista e Guilherme Dutra.
“Participar do Desafio é uma oportunidade incrível para os estudantes se conectarem com o mercado, trocarem experiências e se desenvolverem profissionalmente. Estou muito entusiasmada com os resultados e confiante de que ele abrirá muitas portas para os nossos futuros designers”, comemora Suely Moreira Borges Calafiori, Coordenadora do Curso de Design de Moda do Centro Universitário UNIVERSO, de Goiânia, e orientadora do finalista Lucas Caslú.
Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa, acredita que os novos talentos revelados têm um compromisso fundamental com a responsabilidade ambiental, social e econômica ao trabalharem com o algodão nas coleções. “Esse envolvimento é muito importante, pois eles são o futuro que continuarão a promover o uso desse recurso natural, reforçando a relevância de uma moda mais consciente”, finaliza.
CONHEÇA OS 10 FINALISTAS
Júlia Theophilo, de Brasília/DF, do Instituto Federal de Brasília (IFB). Orientada pela professora Rafaela Felipe Asmar. Coleção “Redefinindo Curvas”
Inspirada na sua experiência pessoal com a escoliose, uma curvatura atípica da coluna vertebral, a coleção é uma breve história dessa jornada que influenciou diretamente a percepção da estudante sobre o significado da beleza. É possível ver, na construção das peças, os aspectos estéticos da escoliose, como o desalinhamento dos ombros e quadril, a presença da gibosidade nas costas e na escápula, a assimetria das mamas e da cintura e as curvaturas da coluna.
Lucas Caslú, de Goiânia/GO, da Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Orientado pela professora Suely Moreira Borges Calafiori . Coleção “Experiências”
O estudante é um acumulador assumido e sua coleção é um reflexo disso. Ele misturou fotografias, embalagens, suas próprias roupas, retalhos e acessórios para construir peças assimétricas e cheias de criatividade. O look produzido especialmente para o 3º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores foi confeccionado com oito metros de tricoline branco 100% algodão, dois metros de brim e retalhos para as tiras.
Artur Leovegildo, de Crato/CE, da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Orientado pela professora Cleonisia Alves Rodrigues do Vale. Coleção “Exposição de fatos extraordinários”
Tendo a região do Cariri cearense como ponto de partida, a coleção traz um suposto acontecimento no século XIX: “o milagre da hóstia”, que ocorreu na cidade de Juazeiro do Norte, no sul do Ceará. Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo foi definida, segundo os poucos registros existentes, como uma mulher preta, pobre e analfabeta que protagonizou esse acontecimento, ao lado de Cícero Romão Batista, o Padre Cícero. Esse projeto se uniu a outros grupos da região, encabeçados pelo movimento feminista, a educadores e pesquisadores, para contribuir com a reabilitação da memória dessa personagem secular através da moda.
Natália Ferreira, de Salvador/BA, da Universidade Salvador (Unifacs). Orientada pelo professor Maurício Portela. Coleção “Yo Soy Latino-Americano”
O projeto visa desconstruir noções eurocêntricas da moda e dos corpos que refletem este mesmo padrão, através da conexão entre aqueles que não são vistos como potência criativa. Com referências tradicionais como bordados, patchwork e chita, a coleção celebra os latino-americanos utilizando técnicas de beneficiamento de resíduos têxteis. A coleção tem foco no México, Brasil e Colômbia, países que se destacaram enquanto formadores da moda autoral, representada, respectivamente, pelos Pachucos, pela brasilidade dos bordados e rendas de Zuzu Angel e pela cultura indígena colombiana, com o foco na tapeçaria das bolsas Wayuu.
Fernanda Bastos, de Belém/PA, da Faculdade Estácio do Pará (FAP). Orientada pela professora Clarisse Fonseca Chagas. Coleção “Na esquina do Rio”
Quando a cultura é usada como um espelho do artista, ela reflete a identidade daquele indivíduo e, consequentemente, dos grupos dos quais ele faz parte. E foi assim que a coleção da Fernanda, que traz a forma da locomoção hidroviária, mais especificamente no trajeto Macapá/AP — Belém/PA, foi construída. É sobre as estradas da Bacia Amazônica, seus inúmeros rios e tudo o que foi visto durante essa travessia constante da estudante para estudar Design de Moda. O look produzido é o mapa dessa estrada, composto de bordados em máquina de costura, feitos em fios de barbante e macramê, com texturas com fio de malha e resíduos de cortes de brim. Com detalhe para as costas, os punhos originais de rede fazem a amarração.
Bruno Babildri, de Belém/PA, da Universidade da Amazônia (Unama). Orientado pela professora Felícia Assmar Maia. Coleção “CAUPÉ: Uma Ode à mulher amazônica”
O projeto celebra “Caupé”, uma deusa da mitologia Tupi-Guarani, conectando as tradições indígenas, ribeirinhas e caboclas com influências europeias e destacando a diversidade e resiliência das mulheres da região. No look confeccionado, os desenhos azuis, inspirados no cacau e no açaí, transportam-nos para as ilhas ao redor de Belém. As bordas douradas em relevo evocam a sofisticação e o esplendor da Belle Époque, auge do ciclo da borracha na região de José. Além das fronteiras do catolicismo, esta coleção se expande para abraçar outras tradições e mitologias que veneram a feminilidade divina. De deusas à sereias, de entidades a amazonas, cada peça é um testemunho da diversidade e da beleza que permeia as histórias e crenças ao redor do mundo.
João Freitas, do Rio de Janeiro/RJ, da Universidade Anhembi Morumbi. Orientado pela professora Maria Fernanda Cintra. Coleção “Mechanitis”
Inspirado no seu próprio processo de amadurecimento, enquanto estilista, a coleção deve ser vista como uma analogia ao processo de metamorfose da borboleta, do gênero Mechanitis. João desenvolveu diversas habilidades que estavam adormecidas durante a pandemia, o que o motivou a criar o primeiro look apresentado para sua inscrição no 3º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores. A peça retrata a fase “larva” pré-pandemia, quando o estudante, ao mesmo tempo em que era muito ingênuo, precisava se proteger do mundo. O tie-dye verde simula a larva, fase inicial da borboleta, e o volume e a pele à mostra marcam essa dualidade da ingenuidade e do medo.
Laura Diniz e Yohanna Oliveira, do Rio de Janeiro/RJ, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Orientada pelo professor Walvyker Alves de Souza. Coleção “Corpo Mutante”
A crise ambiental é tratada nesta coleção como uma ferramenta de questionamento político, tendo como objetivo incentivar a produção e consumo responsável, incluindo a redução de resíduos e a utilização sustentável dos recursos naturais. As peças retratam o processo de “refazimento do corpo” a partir do reconhecimento de si e de estar interconectado com o meio em que vive. Mostrando o despertar dos seres humanos num contexto individual e coletivo: individual em relação às tomadas de consciência e mudanças de pensamento; coletivo a partir dessas revoluções micropolíticas, alterando a forma de se relacionar com o ambiente em que vivemos.
Nanda Oliveira e Queren Santos, de Curitiba/PR, da UniSenaiPR. Orientadas pela professora Amanda Calixto de Castro. Coleção “A ausência daquela que EXISTE”
A dupla traz o conceito de “brega street” para sua coleção, um segmento agênero que mistura a estética street, muito vinculada ao vestuário masculino, com silhuetas tipicamente “femininas”. As peças são baseadas na vivência pessoal das criadoras com um corpo negro feminino, nas estruturas da branquitude do Sul do Brasil. A mescla entre os estilos de streetwear (simbolizando o negro) e alfaiataria (simbolizando a branquitude) foram cuidadosamente pensados para estruturar essa narrativa e traduzir, de maneira visceral e artística, as sensações vividas durante a complexa trajetória de existir em ambientes estruturalmente racistas.
Vitoria Antunes, de Porto Alegre/RS, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-RS). Orientada pela professora Mariana Dourado Castro. Coleção “Sapiens Caribal”
Sapiens Caribal, da etimologia de origem: homo-sapiens, do latim “homem que sabe”, pela presença de autoconsciência, sapiência; e caribal, do espanhol “selvagem”, pelo comportamento arbitrário de alimentação da própria espécie. A coleção é a construção de uma narrativa tangível e literal na busca da sensibilização sobre a função individual real e ativa, enquanto coletivo social, dito civilizado, e a urgência de um olhar mais gentil para a nossa biodiversidade. É com a riqueza de técnicas têxteis e artesanais existentes que o algodão, na sua essência natural e variadas formas, enaltece as manualidades brasileiras, advindas das culturas originárias indígenas, das referências africanas e europeias. As cores presentes nas peças retratam as áreas dos biomas: vermelho, laranja, amarelo e azul, sobretudo, com destaque ao vermelho, que, pela psicologia, denota a intensidade, a força e o perigo cabíveis à mensagem que a estudante deseja passar.
Fotos: Divulgação / Sou de Algodão