Você está aqui
Home > Destaque > ÁGUA PARA O QUE IMPORTA

ÁGUA PARA O QUE IMPORTA

O setor têxtil e o confeccionista têm papel fundamental para a garantia da segurança hídrica

Aceita um copo de água? Uma pergunta tão trivial como essa pode não ser, ainda, uma preocupação tão grande nos dias de hoje aqui no Brasil. Ainda. Mas você já parou para pensar na importância que a água tem na sua vida, no seu dia a dia, para a sua atividade econômica? Pois é daí que queremos partir: e se a água, um recurso finito, se tornasse tão escasso que afetasse completamente seu modo de vida, seja em um simples, mas essencial, gesto de matar a sede com um copo de água limpa, fresca e abundante, seja para cozinhar, seja para tomar um banho? Já se imaginou nessa situação que, de tempos em tempos, acontece por aqui devido à falta de água das chuvas, só que de forma permanente?

Falar em crise hídrica é um assunto de suma importância, pois, com a aceleração das mudanças climáticas, temos visto algumas amostras de sua força e do que ela é capaz de causar. Enchentes de um lado, estiagem e queimadas de outro, efeitos do desequilíbrio ambiental que nós mesmos causamos durante séculos, mas mais ainda nos últimos 50 anos. Até o Departamento de Defesa e Análise de Risco Climático dos Estados Unidos lançou, em 2021, um report ao Conselho de Segurança Nacional americano falando sobre os riscos iminentes de uma catástrofe ambiental e seus impactos, mostrando que isso não é um assunto para depois. O Fórum Econômico Mundial também está em alerta. E com o crescimento da população mundial, que já alcançou os 8 bilhões de pessoas, a preocupação com a disponibilidade de água cresce na mesma proporção. O 2030 Water Resources Group (Grupo de Recursos da Água), financiado pelo Banco Mundial, prevê que o mundo enfrentará, até 2030, um déficit hídrico de 40%, isso em um cenário “sem alterações”. Porém, já estamos enfrentando as climáticas e o aumento populacional já citados. Para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), também em um cenário “sem alterações”, seria preciso, até 2050, 60% mais alimentos e 50% a mais de irrigação agrícola no mesmo período, mas não há como, é um estresse hídrico.

Aqui no Brasil a Confederação Nacional da Indústria (CNI), como representante do setor industrial brasileiro, intensivo no uso de recursos hídricos, vem monitorando a forma como este vem utilizando a água e as ações que trazem maior eficiência nos processos produtivos, assim como melhores práticas no uso racional desse recurso.

Mas, mesmo com uma disponibilidade hídrica de 12% das reservas mundiais, o Brasil possui grandes desequilíbrios em sua distribuição, lembrando que o desafio da segurança hídrica nacional está mais pautado em sua gestão – uma governança hídrica – do que na quantidade de água, recurso, aliás, que tem 80% de sua concentração na Região Hidrográfica Amazônica (Amazonas, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Pará e Mato Grosso), onde vivem apenas 9,2% da população. Já a Região Hidrográfica Sudeste (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Paraná), que abriga cerca de 48% dos brasileiros, possuiu apenas 1,7% de todo o recurso hídrico nacional. Somado a isso, há também as perdas no abastecimento e a qualidade da água disponível, fatores que estão intimamente relacionados ao desenvolvimento sanitário e econômico da população.

Por isso, nos estudos da CNI junto a entidades do setor e à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o risco hídrico é tratado com alta relevância para a estratégia de negócios de diversos setores industriais, com uma agenda prioritária para 2023, a qual inclui a participação em reuniões e discussões técnicas com o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) e a criação de uma Política Nacional de Infraestrutura Hídrica.

Esses estudos vêm ao encontro das preocupações de grandes investidores globais, de que a insegurança hídrica os impeça de operar com licenciamento, cadeia de abastecimento, estabilidade financeira e, consequentemente, redução de sua capacidade de crescimento. Essas preocupações também se refletem nos dados estimados pelo Banco Mundial, de que as regiões mais afetadas pela escassez de água podem ver sua taxa de crescimento cair cerca de 6% do PIB até 2050, resultado de perdas na agricultura, renda e propriedade.

“Ainda que isso nem sempre seja reconhecido por todos, a água claramente tem valor. Sob alguns pontos de vista, o valor da água é infinito, pois a vida não existe sem ela e não há o que a substitua. Talvez isso seja mais bem exemplificado pelos esforços e investimentos realizados na busca por água extraterrestre e a recente euforia com sua descoberta na Lua e em Marte. É uma pena que, com demasiada frequência, ela seja vista como algo garantido aqui na Terra. Os riscos de não se dar o devido valor à água são grandes demais para serem ignorados.”

Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2021 – O Valor da Água

O TÊXTIL NO CONTEXTO

Apesar de ser um forte demandante de uso de água, o setor têxtil não está no topo da lista de consumo desse recurso: o pódio é do setor agropecuário, que consome em torno de 70% dos recursos hídricos de água doce em âmbito global; em países em desenvolvimento, a taxa pode chegar a 95%, de acordo com o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2021, chamado O Valor da Água.

Em território brasileiro, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) é a responsável pelo balanço hídrico e o coeficiente entre a oferta e a demanda de água para os mais diversos usos. No relatório produzido pela entidade, chamado Água na indústria: uso e coeficientes técnicos, de 2017 (procurada para esta reportagem, a ANA não forneceu dados atuais), os setores mais expressivos no país em uso de água são: alimentos e bebidas (21%), biocombustíveis e derivados de petróleo (11%), químicos (10%), veículos automotores (9%) e metalurgia (6%). O têxtil, por sua vez, teve uma vazão de 5,2%, e o de confecção de vestuário, 3,6%.

Já a relação de consumo industrial de água por região brasileira, segundo o relatório, está distribuída da seguinte forma: Sudeste (47,32%), onde está a maior concentração de indústrias; Nordeste (27,25%), que se destaca no ramo têxtil; Centro-Oeste (12,52%); Sul (11,49%), segunda região mais desenvolvida industrialmente; e Norte (1,42%). 

No caso dos setores têxtil e de confecção, há uma vocação em cada região do país, mas, de qualquer forma, a produção é pulverizada. Diogo Taranto, diretor de desenvolvimento de negócios do Grupo Opersan, que atua na área de soluções ambientais para tratamento de águas e efluentes há mais de 30 anos, conta que na região Nordeste, por exemplo, onde há maior concentração de lavanderias têxteis voltadas ao jeans, em virtude da escassez hídrica, as práticas de reúso de água são mais comuns, enquanto na região Sul, onde há mais tecelagens, malharias e curtumes, bem como maior abundância hídrica, pouco se realiza o reúso de efluentes, uma prática que se torna cada vez mais importante. Afinal, como diz uma das campanhas da marca Malwee, precisamos de água para o que realmente importa.

“Não podemos dizer que não houve avanços, mas eles foram muito pequenos comparados ao potencial a que as indústrias poderiam chegar na abordagem e implantação de sistemas mais eficientes de tratamento e produção de água de reúso. Houve também pequenos avanços de cunho fiscalizatório, na intensificação e no fortalecimento de órgãos ambientais”, comenta Taranto.

Em sua opinião, muito se fala em sustentabilidade, vende-se sustentabilidade, mas ela é pouco aplicada no setor.

“A indústria têxtil é um setor muito competitivo, com imensa pressão de custos, e, na visão do empresário, o tratamento de efluentes é um – senão o principal – custo. Portanto, melhorar a qualidade de seu efluente além do exigido na legislação ou fazer reúso investindo em tecnologias não é prioridade quando se tem a disponibilidade hídrica de um rio às margens de suas fábricas”, diz.

Claro que essa não é uma prática generalizada, mas é bem verdade que a indústria têxtil ainda tem um caminho a percorrer na evolução do uso eficiente e consciente da água em seus processos. Claudio Mendonça, diretor-executivo da Arca Sustentabilidade, revela que, atualmente, as grandes marcas, principalmente as que têm capital aberto, ou seja, as que negociam ações na bolsa de valores, são as que mais buscam iniciativas de uso eficiente da água, e isso ocorre por uma demanda de mercado que vem principalmente dos investidores que buscam investir em empresas ESG, pois traz mais segurança ao seu investimento. Nesse sentido, as grandes marcas precisam fazer a parte delas e também engajarem as cadeias de valores, tornando todo o processo mais sustentável.  

“Este é um longo caminho, mas podemos considerar que foi iniciado e não tem volta, ou seja, as empresas, mesmo que menores, que não se adaptarem às questões ESG, vão perder mercado. Falando do uso de água, isso se torna vital não só pelo mercado, mas também pelo risco de ficarem sem. Aquelas empresas que sabem fazer uso eficiente e o reúso da água conseguirão manter a produção em épocas de seca nas suas regiões. Fatores como o desmatamento da Amazônia, as mudanças climáticas e o aumento da demanda por água, seguramente tornarão mais recorrentes as situações de falta de água, como já ocorrem em muitas regiões do Brasil. A empresa que trabalhar de forma correta sofrerá menos ou até mesmo encontrará uma oportunidade de mercado em situações climáticas de seca, que serão cada vez mais frequentes”, avalia Mendonça.

BOAS PRÁTICAS NO SETOR

Apesar de precisar de melhoras de forma constante, as cadeias têxteis nacional e internacional também trazem exemplos de boas práticas que vêm implementando ao longo dos anos, a fim de construir uma indústria mais sustentável em todos os âmbitos. A seguir, veremos alguns exemplos em diferentes elos.

FIOS E FIBRAS

O desenvolvimento sustentável tem como pressuposto a busca pela incorporação aos processos produtivos cada vez mais de recursos renováveis, aliada ao uso responsável dos recursos naturais limitados – como a água – à disposição das empresas e das pessoas, e organizações como a Rhodia, do Grupo Solvay, um dos maiores players mundiais em química e em materiais, estão empenhadas há muitas décadas nesse modelo de produção, tendo em vista de que se trata de medida fundamental para o crescimento perene das empresas.

Marcello Bathe, gerente comercial de Fibras e Fios de Poliamida da Rhodia, diz que a visão da empresa é gerir da melhor forma todos os recursos oferecidos pelo planeta e, para avançar na sustentabilidade em suas atividades, o Grupo Solvay lançou, no início de 2020, um ambicioso e ousado programa chamado Solvay One Planet, que contempla alcançar 10 metas principais até 2030. Os avanços nessas metas são analisados e auditados externamente, seguindo as melhores práticas de avaliação.

Ele explica que as metas do Solvay One Planet estão divididas em três grandes eixos: Clima, Recursos e Vida Melhor. A água, no caso, está no eixo Recursos, e o alvo da companhia é reduzir em 25% a captação hídrica.

Marcello Bathe, gerente comercial de Fibras e Fios de Poliamida da Rhodia / Divulgação

“No Brasil, a trajetória da empresa sempre foi marcada pelo engajamento em sustentabilidade, antes mesmo da existência dessa expressão.  Por exemplo, a Rhodia é a pioneira no país na adoção da rota alcoolquímica para a produção industrial: em 1942 iniciou a implantação da unidade de Paulínia (SP) com a plantação de cana-de-açúcar para destilação de álcool (etanol) para sua produção química em Santo André (SP). Especificamente sobre a questão de uso, reúso e recuperação de água na indústria têxtil, a Rhodia tem sido um bom exemplo para o setor. Em Santo André, onde são fabricados fios e fibras têxteis, a empresa está continuamente melhorando o tratamento da água utilizada nos processos para garantir 100% de reúso e, assim, diminuir a captação de água de poços. A Rhodia utiliza água do serviço público (Semasa), mas o volume comprado é bastante baixo, somente para atender às necessidades do restaurante local”, conta Bathe.

Outra informação relevante que ele traz é que no conjunto industrial da Rhodia, em Paulínia, onde são produzidas as matérias-primas do processo de fabricação de fios têxteis, 97% da água captada volta para a natureza em boa qualidade, depois de tratada em estações de tratamento especiais. A água captada é usada nos sistemas de refrigeração das unidades industriais ali instaladas e, ao longo dos últimos anos, a empresa também tem investido em ampliar os sistemas de reúso dessas unidades industriais.

Em seu portfólio atual de poliamida têxtil, com as marcas Amni, Emana e Rhodianyl, fabricadas na planta de Santo André, de acordo com Bathe, há uma estratégia de valorização de economia de recursos limitados, como a água, tanto para seu processo produtivo quanto para os processos de fabricação dos clientes, por meio de uma gama de fios tintos de poliamida que já saem coloridos de fábrica, sem necessidade de tingimento por parte das tecelagens.

“A gama de fios têxteis Amni Colors, fabricada naquela unidade, permitiu aos clientes, em 2022, a redução de 33 milhões de litros no consumo de água, o equivalente ao volume de água necessária para 700 mil banhos de chuveiro ou para encher 13 piscinas olímpicas”, revela o gerente comercial da Rhodia. “A redução de efluentes alcançou os mesmos números. Quanto ao insumo energia, foi registrada uma redução do consumo da ordem de 80 mil KWh, que equivale ao consumo anual de 230 geladeiras ou de 360 mil chuveiros”, completa.

Na Hyosung, maior produtora de elastano do mundo, detentora da marca creora®, vem investindo tanto na ampliação de sua planta fabril aqui no país, localizada em Araquari (SC), quanto nas práticas sustentáveis em sua produção e seus produtos, como conta Jessé Moura, gerente de marketing da Hyosung Brasil.

“Oferecemos uma gama completa de produtos com alta tecnologia, desempenho e redução de impacto ao meio ambiente quando comparado com outros elastanos disponíveis no mercado. Reconhecido mundialmente, o elastano creora® é destaque no mercado por sua qualidade, rendimento e durabilidade. Nosso marketshare global é de 36%, e no Brasil atendemos quase 70% da demanda do mercado. Com inovação e tecnologia de ponta, desenvolvemos produtos pensando na redução do uso de recursos hídricos. A captação de água da chuva é uma alternativa eficiente para o reaproveitamento da água, podendo reduzir pela metade as despesas de consumo, e temos esse sistema implantado em nossa fábrica brasileira. O método é indicado para atividades que não exijam água potável, como descargas, irrigação, lavagem de calçada ou carro. Assim, o sistema contribui para evitar escassez desses recursos, uma vez que substitui o consumo de água potável em seus usos secundários. Além disso, por meio de nossa estação de tratamento de efluentes, toda a água utilizada em nossa fábrica retorna ao meio ambiente sem mudanças em suas características”, destaca.

Hyosung, produtora dos fios creora® / Divulgação

A gama de produtos creora® disponível possui tecnologias inovadoras e com menor impacto ambiental, com soluções têxteis que usam materiais 100% reciclados, materiais de base biológica, e fios que podem economizar energia e água durante o processo e prolongar a vida útil do produto acabado. 

Entre eles, Jessé destaca o creora® Black, desenvolvido para eliminar o brilho e a sensação de transparência dos tecidos, garantindo alta solidez da cor. É um fio tinto preto em massa com alto power que, mesmo após diversas lavagens, mantém sua cor original, possibilitando a economia de água e energia no processo de tecimento de seus clientes, promovendo, ainda, redução do uso de produtos químicos, já que o fio é preto desde sua origem. Isso pode se converter em uma economia do consumo de água de até 90%, gerando menos efluentes, reduzindo a emissão de CO₂ ao meio ambiente em até 60%. Outro é o creora® ecosoft, que reduz o consumo de energia do processo, permitindo o tecido ser processado a baixas temperaturas, proporcionando melhor toque e branco mais branco, além de diminuir a emissão de CO2 no meio ambiente. Já os elastanos creora® biomassa (à base de milho) e o creora® regen (à base de resíduos industriais reciclados) consomem 39% menos água em seus processos fabris.

Na NILIT, empresa reconhecida globalmente por sua poliamida premium 6.6 Sensil®, a ordem é abraçar processos mais limpos e ecoeficientes em todos os seus aspectos, revertendo isso em produtos que contribuirão para o bem-estar das pessoas e do planeta.

Paulo De Biagi, diretor-presidente da NILIT para a América Latina, conta que todas as poliamidas 6.6 Sensil® são produzidas de acordo com rigorosos critérios do programa da empresa chamado Total Product Sustainability (TPS), o qual visa, prioritariamente, reduzir a pegada de carbono, conservar água, energia e outros recursos naturais e eliminar resíduos e emissões tóxicas de sua linha de produção.

Ele explica que como 100% do foco da empresa é o têxtil e sua produção é verticalizada, produzindo os próprios polímeros que darão origem aos fios que abastecem as tecelagens, suas plantas fabris (Israel, China, Brasil e Estados Unidos) operam nos mais altos princípios de excelência e responsabilidade social e ambiental, citando como exemplos, na questão hídrica, ações para diminuir o consumo em sua produção, como o reúso, novos procedimentos de recuperação de resfriamento e filtragem, e também a osmose reversa em seus efluentes.

“Além disso, nossos produtos oferecem benefícios ambientais relevantes que minimizam os impactos na terra, na água, nos oceanos e em hábitats naturais. Buscamos continuamente métodos inovadores para melhorar a pegada de carbono, performance, vida útil, desempenho na lavagem, biodegradabilidade e conteúdo reciclado dos produtos que fornecemos ao mercado global. Eles se desenvolvem em três pilares: a preservação de água, com um amplo portfólio com produtos tintos em massa, produtos que tingem a temperaturas menores e com menor uso de corantes e químicos, e produtos cujas propriedades são permanentes e não se desprendem nas lavagens das peças e tecidos; reciclagem e redução de resíduos, em que nossa poliamida 6.6 reciclada pré-consumo tem característica de produto virgem e são biodegradáveis; e a longevidade, pois a poliamida 6.6 de alta qualidade, extremamente durável e confortável ao mesmo tempo, permanece no guarda-roupa por anos a fio, podendo ser doada ou reciclada após uso”, destaca De Biagi.

SENSIL® WaterCare, da NILIT: redução considerável de uso de água nas tecelagens.

Em seu amplo portfólio, Fabianne Pacini, diretora global de marketing da NILIT, destaca alguns dos produtos que ajudam tanto na redução do consumo quanto na preservação da água: a poliamida 6.6 premium pré-tingida SENSIL® WaterCare, que elimina volumes substanciais de água necessários para o processo tradicional de tingimento têxtil, uma redução entre 50% e 100% da água que seria utilizada no processo produtivo; a SENSIL® EcoCare é a poliamida reciclada pré-consumo que apresenta as mesmas características e alta qualidade da poliamida 6.6 convencional da NILIT com redução da água, pegada de carbono e menor uso de energia no processo produtivo; já a SENSIL® BioCare contém uma tecnologia única que ajuda a reduzir a persistência de resíduos têxteis no oceano. Fabianne destaca que essa poliamida premium foi testada e provou ser biodegradável na água do mar muito mais rapidamente do que a poliamida convencional, e resultados recentes indicam 80% de biodegradação após 3 anos em água do mar. “Ainda temos uma ampla família de fibras SENSIL® com variados níveis de absorção de corante, permitindo que se obtenha efeitos melange, listras e estampas com apenas um processo de tingimento”, lembra.

“A NILIT investiu consistentemente nos últimos anos em pesquisa e desenvolvimento para ampliar o portfólio de produtos sustentáveis de poliamida 6.6, sob sua marca SENSIL®. Hoje podemos dizer que a companhia oferece o maior portfólio de poliamida 6.6 sustentável do mercado, criando produtos SENSIL® que inspiram designers conscientes e atraem consumidores preocupados com a sustentabilidade. A NILIT pode influenciar mais rapidamente mudanças positivas em vários pontos ao longo da cadeia de valor têxtil junto aos seus parceiros.  São várias as possibilidades de produtos que oferecemos para atender à necessidade de cada marca parceira, com conceitos inovadores e únicos para que possam ofertar produtos melhores para os consumidores que querem mais”, reforça Pacini.

Com sua plataforma Planet Agenda implantada desde 2008, a The LYCRA Company vem, a cada ano, revendo seus processos e produtos de forma holística, a fim de ter na sustentabilidade uma de suas principais chaves de mudança no mercado, pois durabilidade e performance já estão bem aderidas à marca.

“Observamos a melhoria em sustentabilidade como parte de nossa responsabilidade como empresa, fundamental para o futuro das comunidades onde atuamos e também para o futuro do próprio negócio. O uso da água é um dos principais aspectos, justamente com energia e resíduos, em que atuamos para utilizar cada vez menos recursos em nosso processo produtivo”, diz Sergio Stella, diretor regional de operações da The LYCRA Company para as Américas.

Como exemplo, ele cita que, apesar de a produção do fio de elastano só utilizar água no resfriamento do equipamento e limpeza de componentes, globalmente, em todas as unidades fabris da LYCRA, o consumo de água é monitorado para identificar possíveis perdas, o efluente é tratado e o condensado de vapor é reutilizado nas caldeias. Na planta de Paulínia, no interior paulista, cerca de 60% do efluente tratado é reutilizado nos processos internos e, desde 2021, a unidade implementou uma “tecnologia seca” nos sanitários, que reduz o acionamento de descargas e, consequentemente, de água. O projeto foi um dos ganhadores do desafio proposto pela companhia na Fashion Hub, plataforma de open innovation voltada ao setor.

LYCRA® Black, da The LYCRA Company. / Divulgação

Bianca Giacomin, coordenadora de operações da planta de Paulínia, reforça que o modelo produtivo da The LYCRA Company não exige um uso intenso de água, apesar de esse recurso ser tratado com a maior importância e sempre estarem em busca de maior eficiência hídrica. “Temos a meta de reduzir em 10% a pegada hídrica de todas as plantas produtivas da The LYCRA Company no mundo até 2030, considerando o ano-base de 2021. Para isso, temos trabalhado com startups e um hub de open innovation para desenvolver soluções sustentáveis”, comenta.

Em termos de produtos que ajudam as tecelagens a reduzir seu consumo de água, Carlos Fernandes, diretor comercial da The LYCRA Company para a América do Sul, traz como exemplo o fio LYCRA® Black, elastano que é fabricado originalmente na cor preta, permitindo que tecelagens reduzam o uso de corantes e, dependendo da construção do tecido, diminuam o consumo de água no tingimento, gerando grande economia de tempo e recursos.

Sob a ótica da companhia, Carlos diz que a crise hídrica e a escassez de água são temas latentes e que estão na pauta das principais empresas do setor têxtil. Em sua opinião, o país tem, localmente, uma legislação ambiental bastante avançada, que protege os recursos naturais disponíveis, tornando a indústria têxtil brasileira uma das mais sustentáveis do mundo. “Mas sempre há espaço para melhorias”, observa.

Mais uma empresa na área de fibras têxteis que já nasceu com propósito sustentável é a Lenzing. Suas fibras produzidas a partir da polpa de madeira (TencelÔ Lyocell, Modal, EcoVeroÔ, entre outras) consomem menos água em todo o seu processo, gerando menor impacto na escassez hídrica. Alguns desses produtos, em especial, reduzem os impactos posteriores no uso de água nos processos produtivos, por exemplo, a fibra Tencel® Modal com tingimento Eco Color, uma tecnologia que evita a grande quantidade de água e químicos usados no tingimento convencional. Outra é o Tencel® Modal com tingimento índigo, voltado ao denim, que também reduz consideravelmente o consumo posterior de água no processo de tingimento nas tecelagens.

“O Lenzing Group considera a água um recurso extremamente valioso, permitindo a produção de celulose solúvel e produtos de fibra celulósica. A gestão da água é, portanto, a chave para interagir cuidadosamente com este recurso natural. Sendo a água um recurso precioso, sua crescente escassez em muitas partes do mundo constitui uma ameaça às pessoas, ao meio ambiente e ao desenvolvimento econômico sustentável”, comentam Thomas Matiz, analista de sustentabilidade, e Gilberto Campanatti, responsável pelo suporte técnico da Lenzing na América do Sul.

Eles dão o exemplo de plantações de madeira que, mal manejadas, podem pressionar o balanço hídrico regional.

“A Lenzing adquire madeira certificada de florestas geridas de forma sustentável e, portanto, mitiga os impactos potenciais do estresse hídrico. Entretanto, alguns materiais usados nas cadeias de abastecimento têxteis ocasionalmente criam altos impactos hídricos por meio do consumo e da poluição da água, e questões-chave na administração desse recurso são o seu uso eficiente na produção e o uso de tecnologias de ponta no tratamento de águas residuais. Por isso, o Lenzing Group visa contribuir para o uso sustentável da água onde quer que ela possa exercer influência, direta ou indireta. Isso inclui o consumo de água potável, bem como o descarte de água de processo e efluentes, que são objeto da Norma Ambiental da companhia, e também a utilização da metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), útil para identificar pontos críticos e apoiar a tomada de decisões estratégicas”, explicam.

Matiz e Campanatti ainda reforçam que a companhia fornece fibras com menor impacto hídrico do que outras fibras celulósicas, a fim de satisfazer a crescente demanda – atual e futura – por fibras e inovar em produtos que mitigam as etapas posteriores da cadeia de valor. Destacam também que, no final de seu ciclo de vida, as fibras da Lenzing são biodegradáveis e compostáveis em ambientes marinhos e de água doce e, portanto, não contribuem para a poluição, como as fibras baseadas em matérias-primas fósseis.

TECELAGENS

Esta etapa do processo têxtil possui um volume importante de consumo de água com o beneficiamento e o tingimento dos tecidos, é justamente por isso que as tecelagens brasileiras estão empenhadas em reduzir esse índice. A Santista é uma delas.

Desde a década de 1970, a tecelagem começou a aplicar iniciativas que hoje denominamos sustentáveis, como um programa de redução no uso de combustível fóssil, investimentos em biomassa, maquinários de ponta que consomem menos água e energia, captação e uso de água de chuva, tratamento de efluentes, devolvendo aos rios água mais limpa do que a captada – que se tornou uma referência para a Cetesb, entre muitas outras, como a criação do projeto Acquasave®, que tem como foco a economia de 75% no uso de água e energia em todo o processo têxtil.

Projeto Aquasave®, da Santista Têxtil.

“Temos uma grande preocupação com o meio ambiente e tentamos minimizar cada vez mais o uso de recursos naturais, além de tratar nossos efluentes para que retornem aos rios em condições adequadas”, reforça Newton Coelho, diretor comercial da Santista Jeanswear. Ele conta que o projeto Acquasave® continua ativo e, em 2022, além de praticar o tema internamente, criaram uma coleção de artigos chamada Eco Laundry®, que leva benefícios muito importantes para uma etapa primordial na fabricação de jeans, que é a lavanderia. “Nossos produtos foram testados pela Jeanologia, da Espanha, e mostraram um desempenho excepcional nos testes LSF (Laser Sensitive Fabric). Na prática, isso significa produzir jeans com menos água, químicos, energia e tempo na etapa de lavanderia. Somos a primeira tecelagem nas América a obter pontuação verde nestes testes, comparada aos melhores tecidos europeus e asiáticos.”

E, para engajar parceiros e colaboradores, a tecelagem, por meio da Universidade Santista e no atendimento aos seus clientes, coloca à disposição sua equipe de moda e consultoria em lavanderia, além de realizar treinamentos e desenvolvimentos de coleções aos clientes que desejarem, sempre com o olhar na redução do impacto ambiental de seus beneficiamentos, e, ao mesmo tempo, um produto de desejo aos consumidores.

“Não há mais espaço para desperdício. A união da cadeia têxtil é essencial e nos faz produzir de forma mais consciente, reduzindo tempos de processos e uso de recursos, além de unir tecnologia e informação à sustentabilidade”, reflete Newton.

Quando se fala em redução de consumo hídrico, outra têxtil brasileira que automaticamente vem ao holofote é a Covolan. Localizada em Santa Bárbara D’Oeste, interior paulista, a empresa investiu, nas duas últimas décadas, em aperfeiçoar as práticas sustentáveis em seus processos internos, e continua em constante evolução.

Um desses investimentos foi na estação de tratamento de efluentes, considerada a mais eficiente, moderna e tecnológica do setor têxtil brasileiro. Ela tem um sistema de tratamento por membranas, a Membrane Bio Reactor (MBR), que, por meio de um sistema de ultrafiltragem, oferece um efluente tratado que atende às mais exigentes legislações ambientais nacionais e internacionais. A Covolan também utiliza um sistema fechado em toda a água utilizada em seus processos de acabamento e sanforização, o que evita e reduz a utilização de novos recursos hídricos.

“Sabemos o quão raro e caro é este recurso natural chamado água. Por isso, esse foi um processo planejado e de longo prazo, o que nos permite afirmar que a sustentabilidade não é algo que uma empresa consegue implantar da noite para o dia. Para isso, faz-se necessário o compromisso empresarial, pela responsabilidade de seus gestores, do envolvimento dos colaboradores, da participação e integração de clientes, fornecedores e comunidade em geral”, salienta James Nadin, diretor do sistema integrado de gestão da qualidade, meio ambiente, saúde ocupacional e segurança da Covolan Denim.

Estação de tratamento de águas e efluentes da Covolan: considerada a mais eficiente, moderna e tecnológica do setor têxtil brasileiro. / Divulgação

Quer mais? Tem mais. A Covolan foi a primeira empresa brasileira do setor a conquistar a certificação ZDHC (zero discharge of hazardous chemicals), a qual atesta que, ao longo do seu processo produtivo, não descarta químicos danosos ou perigosos aos seres humanos e ao meio ambiente.

“Somos a empresa têxtil do segmento de denim no Brasil com o maior número de certificações ambientais, da qualidade, da saúde e da responsabilidade social. O ZDHC veio como um reconhecimento por todas as práticas desenvolvidas e investimentos em sustentabilidade implantados na Covolan Denim nos últimos anos. Tais práticas iniciadas no passado estarão cada vez mais presentes no futuro, com o incremento de novas metodologias e ações sustentáveis, o que nos faz ser reconhecidos como a empresa mais sustentável do segmento têxtil em todo o continente americano”, orgulha-se Nadin.

Parte do mesmo grupo, a Canatiba Têxtil segue a mesma filosofia da Covolan: ter a sustentabilidade em todas as etapas de seus processos, não como forma de propaganda, mas incorporada ao dia a dia da empresa. Fábio Covolan, diretor de marketing e exportação da Canatiba, revela que hoje a tecelagem trabalha com vários processos e sistemas produtivos que permitem reaproveitar água, calor, o uso de químicos em espuma, que requerem infinitamente menos água e tingimentos que eles chamam de Eco Dye, os quais permitem uma economia de, no mínimo, 80% em recursos hídricos comparados aos processos convencionais. Inclusive, os corantes usados pela empresa são livres de anilina e possuem as certificações ZDHC e OEKO-TEX®. Outro passo foi a instalação, em 2022, de um reator para tingimento do urdume, deixando as cores mais intensas e menor consumo de água.

A escassez hídrica é algo que vem preocupando a empresa há algum tempo. Com planta fabril também instalada em Santa Bárbara D’Oeste, a Canatiba sempre esteve muito bem servida em termos fluviais, mas Fábio Covolan levanta uma questão: apesar da abundância, tem faltado água na cidade. 

“Isso é algo inimaginável, que nunca fez parte do dia a dia do cidadão de Santa Bárbara D’Oeste. Por isso, a preservação hídrica é importantíssima e precisa estar no radar de todas as empresas, e as que não se preocupam estão fadadas a não existir mais em um futuro próximo. O único jeito de cuidar disso de forma real é adotando processos modernos que utilizem cada vez menos água, fazer o descarte de água de uso com ótima qualidade aos rios, além de se preparar para reutilizar o máximo possível em circuito fechado. As empresas responsáveis têm que estar ligadas na questão hídrica porque falta de água é algo real, atual e que necessita de ações agora para que não falte água para a indústria e, principalmente, para o consumo humano”, ressalta.

Atualmente, a empresa, que possui uma lavanderia interna e uma equipe dedicada a ela, tem aberto duas semanas ao mês para promover workshops aos seus clientes, a fim de difundir conhecimentos de como extrair o máximo dos artigos Canatiba com o mínimo uso de água, químicos e tempo.

“Nossos tecidos, quando bem utilizados, permitem resultados incríveis com poucos processos e/ou processos curtos de lavanderia e laser”, diz Fábio. “Ser sustentável só tem sentido se for algo adotado por toda a cadeia têxtil. Não adianta a tecelagem se preocupar com o meio ambiente se isso não chegar até o consumidor final. Por isso, incentivamos nossos clientes confeccionistas a adotarem práticas que reduzam o uso de recursos naturais.”

Canatiba: “sustentabilidade não pode ser um apelo de marketing, tem que estar na cultura diária da empresa.”/ Divulgação

Para a catarinense Texneo, investir na inovação dos nossos processos e produtos com as melhores práticas é garantir a sustentabilidade do negócio, com a consciência da importância de suas escolhas e os impactos que elas terão no presente e no futuro. A malharia, que é detentora das maiores certificações ambientais no setor têxtil, investe em tecnologias de ponta e em produtos com uma carga especial de matérias-primas sustentáveis e também tem com a água o mesmo cuidado.

Anna Paula Tamovski, diretora industrial da Texneo, diz que a busca por processos que envolvam menor consumo de água e químicos é constante, e por isso aproveitam todas as fontes de recuperação de recursos naturais que encontram na empresa, como o reaproveitamento de 30% de água captada do resfriamento de seus trocadores de calor e reutilização de seus efluentes tratados com ozônio em seu sistema interno de tratamento.

Ela conta que o efluente quente descartado do tingimento é utilizado para pré-aquecer a água utilizada no processo, diminuindo o consumo de biomassa e, por consequência, diminuindo a geração de CO2. A energia das chaminés dos equipamentos de acabamento é igualmente reaproveitada para pré-aquecimento da água de processo, além de contribuir para a diminuição dos gases de efeito estufa, com melhora nas emissões por meio de seu filtro eletrostático.

“A escassez dos recursos hídricos é uma realidade em que todo negócio, de certa forma, será impactado. Nós aqui na Texneo realizamos um mapeamento hídrico e com ele buscamos iniciativas de redução e reaproveitamento do recurso. Procuramos, ainda, cada vez mais aprimorar nossas ações e temos o entendimento do impacto do nosso negócio neste cenário”, avalia Anna.

Em seu amplo portfólio de bases sustentáveis, um destaque para a tecnologia INK, na qual o corante é adicionado durante o processo de produção do fio e a malha já é produzida na cor desejada pelo cliente, sem precisar passar por processo de tingimento. Segundo a Anna, essa tecnologia, além de oferecer uma excelente solidez à malha, ajuda a reduzir o consumo de água, evita sua poluição com químicos e ainda reduz a emissão de CO2 no processo.

“Adotar práticas conscientes e oferecer novas opções de malhas sustentáveis ao mercado têxtil é uma ação que a Texneo abraça em seu dia a dia para ajudar a reduzir o impacto da indústria e incentivar clientes e confeccionistas a conhecer e levar para suas coleções opções mais sustentáveis”, conclui a diretora industrial.

Na Diklatex e Latina Têxtil, que fazem parte do mesmo grupo, há também uma busca constante por soluções mais sustentáveis aos seus produtos e processos.

Cleusa Maria Viera de Oliveira, gerente industrial e líder do Comitê de Sustentabilidade das empresas, conta que desde 2003 possuem maquinários com uma baixa relação de banho, em que o que antes era 10/1, hoje é de 4/1, fazendo com que seja necessário menos água e, consequentemente, gere menos efluentes. “Também nas duas empresas temos implantado o sistema de captação de água da chuva. Na Diklatex, essa água é utilizada no processo produtivo e, devido à sua característica, não há necessidade de tratá-la, resultando em um menor consumo de produtos químicos. Também nela há um sistema de reaproveitamento de calor no processo, fazendo com que seja necessário menor energia para aquecimento e, consequentemente, menor consumo de água”, diz Cleusa.

A gerente industrial revela que, este ano, por meio do Comitê de Sustentabilidade, será intensificada a conscientização dos colaboradores referente a diversos temas ambientais; dentre eles, o consumo consciente de água. No comitê também serão abordadas as novas possibilidades de engenharia visando à redução do consumo hídrico.

Latina Têxtil e Diklatex: Comitê de Sustentabilidade empenhado em reduzir o consumo hídrico. / Divulgação

Em seu portfólio, a Diklatex e a Latina têm artigos que utilizam técnicas de produção e tingimento de fibras sintéticas chamadas Dope Dyeing e Bye Dyeing, reduzindo cerca de 80% o consumo de água em relação aos artigos convencionais têxteis e 90% menos efluentes. Isso se deve ao fato de que os pigmentos de cor são adicionados à solução de polímeros ainda líquida, antes da produção dos fios, fazendo com que a cor seja parte da fibra. O tingimento tradicional requer que as fibras sintéticas sejam produzidas sem cor e, posteriormente, é feita a aplicação de cor na superfície da fibra, gerando maior consumo de água, efluentes e consumo de produtos químicos.

“Além de ser mais sustentável, o processo agrega ao tecido alta solidez da cor, atestando o compromisso da Diklatex com a qualidade e com um mundo mais consciente”, reforça Cleusa.

Mais uma empresa catarinense no time, a Dalila Ateliê Têxtil vem se destacando no mercado pelas misturas de fibras e tingimentos naturais, que se refletem também na forma de produzir seus tecidos.

André Klein, diretor da Dalila Têxtil, conta que a cultura do cuidado com o meio ambiente sempre esteve presente na empresa, e que recentemente foram feitos importantes investimentos na aquisição de novas máquinas ao setor de tingimento, economizando 40% de água no processo.

“Esta é uma revolução nos tingimentos de fibras naturais como o algodão, e uma tendência tecnológica que veio para ficar”, celebra. “Creio que nos próximos 5 anos o mercado como um todo seguirá avançando fortemente nesse caminho, pois, além da enorme melhoria no impacto ambiental, a amortização do investimento é relativamente rápida, já que a economia no processo se torna bastante relevante. Esses investimentos, que estão gerando uma economia muito relevante de água em todo o processo, ou seja, em todas as malhas do nosso portfólio, também vêm em um momento de consolidação no processo de internacionalização da Dalila, que segue com certificações internacionais que demandam rígidos controles ambientais. Ao nosso olhar, uma oportunidade de aprendizado e melhoria contínua”, destaca o empresário.

As malhas da linha Infinitty, provenientes de fibras de algodão recicladas, são sempre o destaque no quesito economia de água na Dalila Têxtil. Isso porque eles separam os resíduos de malha coloridos das mesas de corte das confecções, desfibram e transformam em novos fios, mas já coloridos. Ou seja, com esse processo, evitam um novo tingimento, sendo necessário apenas lavar a malha para limpeza das impurezas do processo. A economia de água neste caso chega a 80% quanto comparada a um processo comum. As malhas da linha Terra também têm o mesmo viés de economia. Nesse caso, é utilizado o algodão que já nasce colorido naturalmente, evitando também a necessidade de corantes no processo.

A parte de tratamento de água e efluentes da Dalila Têxtil foi outra que recebeu grandes investimentos e melhorias em 2022, acompanhando as evoluções tecnológicas: nos sistemas de limpeza da água na ETA, por meio de tratamentos pressurizados, e na ETE avanços importantes no sistema de aeração para eficiência do tratamento biológico, além de novas tecnologias no sistema de flotação para a fase de tratamento físico-químico.

Nascida em 1967 no Nordeste do país, uma região de extrema escassez de recursos hídricos, o uso responsável da água pela Vicunha sempre esteve entre seus pilares, para promover iniciativas que contribuam tanto para a economia quanto para a destinação correta desse recurso natural.

Marcel Imaizumi, COO da Vicunha, aponta que devido a escassez hídrica nos locais onde as fábricas da empresa estão instaladas, seus principais esforços são para reduzir a captação de água de concessionárias provenientes de açudes localizados em regiões de estresse hídrico.

“Por ano, a Vicunha utiliza 6,8 mil toneladas de reaproveitamento interno de fibras de algodão recicladas e reutilizadas dos resíduos gerados nos processos de fiação a tecelagem, bem como promovemos a economia de mais de 83 milhões de litros de água e de 11 mil Mwh de energia, além de compensar 30 mil toneladas de CO2. Estamos sempre de olho em inovações que possam trazer maior sustentabilidade para os processos fabris, assim como diminuir constantemente o impacto de nossas atividades ao meio ambiente, pois sabemos que o futuro da Vicunha, do Brasil e do mundo depende da disponibilidade de água. Investimos em tecnologias pioneiras e desenvolvemos projetos relevantes, visando ao uso e à destinação correta da água que utilizamos em nossos processos. Uma das nossas atitudes nesse sentido foi que, recentemente, firmamos compromisso com o Pacto Global da ONU aderindo a dois ODS para contribuir com a Agenda 2030, e um deles é o ODS de número 6: “Água Potável e Saneamento”, que visa assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos. Além disso, a sustentabilidade e a responsabilidade social são pilares estratégicos da Vicunha desde o início, a fim de reduzir o impacto ao meio ambiente e promover um crescimento sustentável, social e econômico das comunidades onde atuamos”, conta Marcel.

Marcel Imaizumi, COO da Vicunha. / Divulgação

Para os processos produtivos com efeito direto em seus tecidos, a Vicunha lançou o selo Eco Cycle, que engloba práticas e uso de materiais e acabamentos mais responsáveis. As classificações Less Water e Recycle, por exemplo, incluem produtos que promovem a economia de até 95% de água nos processos de acabamento e de até 90% no consumo de químicos. O COO da Vicunha também destaca os artigos compostos com fibras sustentáveis que economizam água em seu cultivo, como o cânhamo, e as de material reciclado, como a Refibra®, da Lenzing, proveniente da polpa de algodão extraída de calças.

A estratégia da empresa não para por aí. Por meio de sua V.Academy, a companhia consegue disseminar os conhecimentos de seus profissionais aos seus parceiros e clientes, identificando, por exemplo, processos de lavanderia mais sustentáveis que beneficiam todo o seu ecossistema.

PEGADA HÍDRICA VICUNHA

Em 2018, em parceria com o movimento Ecoera, com a Arca Sustentabilidade (antes H2O Company) e a Iniciativa Verde, a Vicunha lançou um projeto inédito no Brasil: o Pegada Hídrica, que desenvolveu métricas próprias para conseguir mapear – e calcular – o impacto ambiental do uso da água em todos os processos que envolvem a produção de um par de jeans.

O projeto Pegada Hídrica, que continua em andamento, identificou que 5.196 litros de água são utilizados no ciclo de produção de cada calça jeans no país, desde o plantio do algodão até o consumidor final. Dessa quantidade, 4.247 litros são usados no processo de cultivo até a colheita do algodão, que utiliza 92% da água da chuva em sua cultura, e 127 litros na tecelagem, na transformação do algodão em fio.

Segundo Marcel Imaizumi, COO da Vicunha, os resultados e as descobertas do estudo são importantes por diversos motivos. “Em primeiro lugar, quebram um estigma e demonstram que a indústria têxtil e a cadeia de moda brasileira tratam com transparência, cuidado e muita seriedade as questões ambientais relacionadas ao consumo de água e matéria-prima. Além disso, e tão importante quanto, é o fato de que essas informações permitem identificar a situação atual de cada elo da cadeia de produção do jeans, possibilitando ao nosso mercado como um todo a criação de metas de redução do consumo de água e formas de compensação por meio de projetos socioambientais, como recuperação do solo, conservação dos recursos hídricos, estoque de carbono e criação de corredores para a biodiversidade ao longo de toda a cadeia produtiva do jeanswear. Com essas informações, a Vicunha seguiu seu compromisso de reduzir continuamente o impacto de sua atividade, mantendo o compromisso de cuidado com a água, promovendo melhorias nas fábricas e investindo em tecnologias que permitam menor uso do recurso.”

CONFECÇÕES

Conseguir fazer uma calça jeans com apenas um copo de água é para poucos, mas a Malwee segue firme nesse propósito: o de conseguir reduzir, cada dia mais, o uso da água em seus processos produtivos.

Taise Beduschi, gerente de sustentabilidade do Grupo Malwee, diz que a água é um tema prioritário na gestão da companhia e há diversos investimentos realizados em tratamento de efluentes, processos de reúso e também em inovações de processos industriais, como os de tinturaria e de estamparia, em que estão os maiores consumos de água dentro da indústria. Outro ponto é ampliar a inserção da água de reúso nos processos, que hoje está em torno de 200 milhões de litros. Para isso, o Grupo Malwee possui um plano de investimento aos próximos 5 anos visando aumentar essa capacidade de reúso.

“Para nós, cada gota conta, e reduzir o consumo de água já faz parte da jornada da Malwee, definimos meta de redução desde 2015. Neste ciclo, a nossa meta do Plano 2030 era reduzir em 30% o uso de água captada por peça produzida na nossa indústria em relação a 2020; calcular a pegada hídrica organizacional e promover ações de redução de consumo de água ao longo de toda a cadeia; além de zerar substâncias restritas nos efluentes da nossa indústria até 2030 em relação a 2020. Em 2022, tínhamos como meta alcançarmos 17,64 litros por peça produzida, e conseguimos chegar em 17,41, o que foi ainda mais baixo do que o nosso objetivo. Em 2021, o índice era de 18,41 litros”, divulga Taise.

Malwee Lab Jeans: única lavanderia 5.0 da América Latina e que consegue fazer o jeans com um copo de água./ Divulgação

Outra das ações de destaque da companhia está em conseguir fazer “o jeans mais sustentável do Brasil”, e a Malwee não vem medindo esforços para isso: investiu R$ 9 milhões em uma moderna lavanderia com tecnologia 5.0 – a única da América Latina, o Lab Malwee Jeans, inaugurado em 2020. “Fomos a primeira marca de moda brasileira a desenvolver este produto com economia de até 98% de água (usou apenas 300 mL, ou seja, um copo de água) e sem produtos químicos nocivos ao ser humano e ao meio ambiente. Em 2021, cerca de 34 mil peças foram produzidas nesse sistema, representando uma economia de 3,4 milhões de litros de água em relação a uma lavanderia tradicional. Em 2022, aumentamos em quase 50% o número de peças produzidas com essa tecnologia”, celebra a gerente de sustentabilidade do Grupo Malwee.

Ela conta que, ao contrário da forma tradicional de produzir o jeans, na qual muitos processos químicos utilizam água para obter os efeitos de lavagem, puídos e rasgos na peça, no Lab Malwee Jeans esses efeitos são produzidos com laser e nanotecnologia. Eles são desenhados em um software e aplicados por um equipamento de alta precisão. Os feixes de laser, nessa fase do processo, substituem grande parte da água e os químicos nocivos, que seriam utilizados em um processo convencional.

“Além disso, há tecnologias como o uso de ozônio, nanobolhas para aplicação dos químicos e o laser, cujo consumo de água é zero ou muito próximo de zero. Isso é possível com os equipamentos da Jeanologia, com os quais substituímos os processos manuais por uma tecnologia que nos permite reutilizar até 30 vezes a mesma água. É importante dizer que nós somos uma das únicas lavanderias a utilizar a solução completa da Jeanologia, que tem sido uma parceria estratégica para o Grupo Malwee”, destaca Taise.

Na Ufoway, uma das maiores confecções brasileiras especializadas em produção de jeans private label, água também é assunto sério. Fernanda Pasetto, coordenadora de compliance na Ufoway, conta que, na empresa, o processo que mais demanda o uso de água é a lavanderia e, preocupada em conseguir captar e não poluir os sistemas hídricos locais, em 2013 foi instalado um moderno sistema de tratamento de água e efluentes, e em 2018 conseguiram alcançar 100% do uso da água em circuito fechado, ou seja, é tratada e retorna ao processo produtivo. Ou seja, aproveitamento total e descarte zero. A água utilizada para reabastecimento é vinda da captação de chuvas, outro processo com total aproveitamento pela empresa.

“Além disso, existe uma busca incessante pelo setor de lavanderia da Ufoway por processos que utilizem menos água e entreguem o mesmo resultado. Já utilizamos na empresa os processos a laser e estonagem por nebulização”, conta Fernanda.

Ufoway: confecção consegue fazer um circuito 100% fechado de uso de água. / Divulgação

Segundo a coordenadora de compliance, a empresa sabe de sua responsabilidade junto à sociedade, e as primeiras ações em relação à água foram tomadas justamente por esse motivo.

“Hoje buscamos novos processos e tecnologias que, além do baixo consumo hídrico, nos proporcionem peças com muita qualidade, pois entregamos aos nossos clientes peças com a sustentabilidade como valor agregado, confeccionadas pensando em quem vai vesti-las e, além disso, certos de que fizemos nossa parte protegendo o meio ambiente. Acreditamos que, se cada um fizer a sua parte, diminuiremos consideravelmente os impactos das mudanças climáticas.”

A Lupo, uma das maiores produtoras de meias, underwear e activewear sem costura da América Latina, que possui a fiação em seu processo fabril, é outra que vem intensificando suas ações no sentido de minimizar o consumo de água em suas 4 plantas industriais (no Nordeste, inclusive), seguindo os princípios de: mapear, reduzir e otimizar o uso de água nos processos; estudar e/ou desenvolver equipamentos, materiais e sistemas que operem com menor necessidade de água; utilizar a recirculação interna da água industrial; tratar e reutilizar água; e o mais importante, sensibilizar nossos colaboradores por meio de treinamento e qualificação sobre a importância deste e outros temas para a sociedade. Como resultado desses esforços, a companhia conseguiu um tratamento de 100% de seus efluentes e uma reutilização média de 30% dessa água na tinturaria de fios.

Mas outra contribuição significativa aconteceu recentemente: a adoção, pela Lupo, em sua linha de cuecas boxer, da poliamida premium Sensil® WaterCare, que não necessita de tingimento, reduzindo o consumo de água em 50% nessa etapa do processo.

Linha de cuecas Lupo Sport, feitas com a poliamida SENSIL® WaterCare: 50% menos água no tingimento. / Divulgação

Luiz Rosalim, coordenador do Comitê de Sustentabilidade da Lupo comenta esse assunto. “A utilização do fio de poliamida tinto em massa, ou seja, extrusado já na cor, é um material usado pela Lupo há bastante tempo, e por ser um fio que vem pré-tingido é, portanto, uma escolha mais sustentável. Temos utilizado fios tintos em massa em todas as linhas de produtos que possibilitem aplicar essa inovação. Iniciamos utilizando nas meias e agora estamos aplicando nas cuecas. O emprego desse fio aumenta a produtividade, reduz o consumo de água no processo, minimiza os resíduos gerados na estação de tratamento de esgoto industrial e impacta positivamente o meio ambiente. O objetivo da Lupo é buscar, desenvolver e aplicar toda tecnologia, processos e materiais disponíveis para reduzir ao máximo o consumo de água em todas as etapas da produção.”

QUÍMICOS

Conseguir colocar no mercado químicos que agridam o meio ambiente o mínimo possível não é uma tarefa fácil, mas há empresas, como a CHT e a Polygiene, que não abrem mão da química verde, revolucionando o mercado dos têxteis.

Principal parceiro de grandes indústrias têxteis no Brasil e no mundo, a alemã CHT é reconhecida por oferecer excelência em soluções e produtos inovadores, principalmente na área de preparação de tecidos em geral de diversos segmentos, passando por vestuário, tecidos técnicos, decoração, cama, mesa e banho e até o mais exigente mercado automobilístico. Além de metas agressivas para a redução do consumo de água e de energia nos nossos processos produtivos, tem o compromisso de oferecer soluções eficientes que reduzam o consumo de água nas etapas de produção de seus clientes.

Mayra Montel, gerente de marketing brand & retail da CHT no Brasil, explica que entre as soluções oferecidas pela CHT atualmente está, por exemplo, o processo Shortcut, pois possibilita ganhos expressivos na redução de água, tempo e energia para as empresas que trabalham com artigos de poliamida. “O Shortcut, como o nome já diz, reúne as etapas de preparação, tingimento e fixação, possibilitando realizá-las simultaneamente. Reunindo esses três processos, alcançamos redução em torno de 60% no consumo de água, 30% na necessidade energética, trazendo um expressivo aumento na produtividade, tudo isso mantendo os níveis de solidez e a qualidade de acordo com as exigências das marcas, e sem deixar resíduos nas máquinas.”

Para o segmento de jeanswear, a empresa oferece dois químicos para lavanderia: o Denim Wash FEC e Dyeging Wash FEC, ambos trazem ganhos enormes em redução de água (até 70%) se comparados a um processo convencional. Mayra explica que esses processos possibilitam mais limpeza, mais marcação, reduzem custos, e seu grande diferencial é que os processos utilizam soluções químicas CHT biodegradáveis e podem ser realizados em qualquer tipo de maquinário.

Outro grande produto é o Cotoblanc PCS, um agente de lavação para corantes reativos (usado em algodão) que traz significativa redução no consumo de água nos processos de tingimento. Graças à sua formulação inteligente, o Cotoblanc PCS permite que a lavação dos artigos de algodão possa ser realizada em menores temperaturas e com redução no consumo de água de até 45% em relação a um processo com um agente convencional. Tudo isso com excelentes níveis de solidez.

Mais um destaque vem na tecnologia de aplicação de amaciantes por espuma, em que a CHT tem sido pioneira, com produtos e equipe técnica especializada com mais de 20 anos nesse processo.

“Para exemplificar os ganhos em redução de água, podemos estimar que uma empresa que produz 600 toneladas de tecido por mês utilizando o processo convencional de aplicação de amaciantes por foulard consome neste processo 450 mil litros de água (não estão contemplados neste cálculo o descarte de banho, limpeza de máquina, etc.), pois a água nesse processo é o veículo que leva o amaciante para o têxtil. E o processo utilizando os amaciantes CHT com a aplicação por espuma para a mesma quantidade de tecido, 600 toneladas por mês, utiliza somente 150 mil litros de água, podendo economizar 300 mil litros de água mensais”, demonstra Mayra.

Ela ainda destaca que um grande diferencial hoje da CHT é a atuação do time de marketing e brand & retail da CHT, com o marketing das empresas têxteis, para traduzir, tangibilizar e comunicar todos os benefícios das soluções e ganhos do processo. “Hoje estamos vivendo a era da transparência e é fundamental comunicar tudo o que está sendo feito desde o processo de produção do tecido até a peça final. Muitas pessoas pensam que a química é ruim, mas tudo é química! E a química responsável pode ser muito benéfica para trazer ganhos em redução de recursos tão importantes como a água.”

Avançando no Brasil, temos também a Polygiene, empresa sueca que desenvolveu uma solução própria – um aditivo à base de sal de prata obtido a partir da prata reciclada. As partículas do produto, pelo fato de concentrar uma grande quantidade de íons de prata por área de superfície, fazem com que uma dose mínima seja necessária para um tratamento eficaz e permanente nos tecidos, além de não exigirem uma etapa extra no processo fabril, pois o Polygiene é aplicado nas fases finais da produção da base têxtil, com outros tratamentos, gerando ganho de tempo, eficiência, economia de água e energia. Esses aditivos, no caso, não causam alergia na pele, agem somente na fibra do tecido, bloqueando a proliferação de bactérias que causam o mau odor, tanto de suor quanto de gordura e cigarro, por exemplo. A diferença? É que essa solução poderosa reduz consideravelmente as lavagens de roupa em casa ou no ambiente fabril.

“Nossos esforços se resumem em abranger a consciência em todas as pontas da cadeia têxtil, desde a produção eficiente na indústria e seus processos até os hábitos de lavagens desnecessárias dos consumidores”, diz Marcelo Vicari, diretor de novos negócios da Polygiene Brasil.

Ele conta que, recentemente, a Polygiene realizou junto à Sweco®, consultoria de engenharia líder na Europa, uma Avaliação de ciclo de vida, mostrando que basta pular 1 ou 2 ciclos de lavagem doméstica para reduzir drasticamente o impacto ambiental de uma peça.

“A pesquisa apoia nossa mensagem de “Use Mais. Lave Menos™” de maneira científica, bastando pular uma lavagem. Isso é possível graças às nossas tecnologias que mantêm a roupa fresca, higiênica e sem cheiro. Poupando apenas uma lavagem, você economiza mais de 3.800 litros de água em um ano, e isso é uma grande economia! Fornecendo mensagens claras e ferramentas para apoiar essa mensagem às nossas marcas, que vão assim transmitir aos seus clientes, podemos começar a ver um impacto real simplesmente porque os consumidores decidiram usar uma peça por mais tempo. Isso é emocionante!”

LAVANDERIA

Aqui chegamos a um ponto crucial para a economia de água no setor têxtil: o bom uso da lavanderia e a escolha de maquinários que possibilitem isso.

No Brasil, temos algumas grandes fabricantes nacionais de maquinários de lavanderia industrial, como é o caso da Hi Tech, no Rio de Janeiro, presente em empresas de todo o país. Para Caique Bordignon, o desafio da Hi Tech hoje é desenvolver produtos e processos cada vez mais sustentáveis, que otimizem os recursos naturais e reduzam o tempo de produção. Ele conta que hoje, além dos nossos processos químicos, a empresa possui um portfólio de máquinas que reduzem o uso dos insumos e aumentam muito a produtividade das lavanderias. Entre elas estão o Nebulizer e nossas máquinas de laser, a Smart Plus e HTS, e todas podem trabalhar aliadas aos processos de lavanderia.

Delta Máquinas: sua lavadora de amostras de tecidos Concept Smart, que serve para fazer teste de aceleração de encolhimento, criada e fabricada pela própria Delta. Hoje, as confecções e tecelagens cortam pedaços de 50 × 50 cm e fazem esse teste em máquinas de lavar e depois secar, levando de 2 a 3 horas. A lavadora de amostras faz o processo de lavagem e secagem em 15 minutos com uma amostra de tecido de 19 × 19 cm. No processo convencional, essa operação utiliza 23 litros de água e, na lavadora de amostra, apenas 3 litros.

“No segmento de processos que envolvem químicos, temos uma gama de produtos em nosso catálogo, cada um com o objetivo de trazer peças com maior qualidade e valor agregado, como o processo de desengomagem e estonagem simultânea. Aqui, podemos utilizar o Denim LUB LPC, o Bioclean Premium Plus e o Power Dry. Com eles, reduzimos para uma etapa dois procedimentos importantes em lavanderia. Em consequência disso, também diminuímos enxagues. No processo de Redução Ecológica, conseguimos fazer clareamentos sem utilização de permanganato de potássio e cloro. Por esse motivo, preservamos a fibra e reduzimos consideravelmente o consumo de água. Isso pode ser feito com a utilização dos nossos Eco-Bleach PCE1 e Eco-Bleach PCE2. Temos também o Sky Oxy, que é o processo de oxidação que substitui processos que utilizavam cloro ou permanganato nas lavanderias, e posteriormente neutralização e seus respectivos enxagues. Nossos produtos principais neste processo são o Hi-Oxy Fast Conc e o Active Oxy Fast. Este é um processo que não agride a fibra e agrega valor ao produto do cliente”, explica Caique.

Em sua opinião, as empresas de moda têm consciência da questão hídrica, no entanto percebe que em muitos momentos elas têm dificuldades de se adequar e até receio de que isso traga uma redução em seus lucros, o que não é verdade.

Smart Plus, máquina a laser da Hi Tech. / Divulgação

“Na Hi Tech temos, todos os dias, o compromisso de inovar e realizar processos que busquem trazer maior produtividade e, por meio de pesquisas, ajudar nosso mercado a caminhar para uma produtividade eficiente, lucrativa e sustentável. Quando um processo é bem desenvolvido e bem executado, conseguimos reduzir os custos de produção, aumentando a produtividade e, consequentemente, a rentabilidade dos clientes”, reforça.

Uma das referências incontestáveis no assunto é a empresa espanhola Jeanologia, que tem em sua MissionZero o objetivo ousado de desidratar e desintoxicar as lavagens no universo denim, um dos que mais demandam esses processos, desde o tecido à roupa, passando do uso de 100 litros de água a apenas 1 litro. Mas, de acordo com Fabio Canelada, área manager da Jeanologia no Brasil, a empresa conta com tecnologias para conseguir alcançar isso. Só em 2022, por meio de uma conta poupança ecológica anual, com a qual medem a quantidade de água poluída que deixa de ser despejada nos rios e mares do planeta, graças às suas tecnologias, foram mais de 19.375.000 m3 de água despoluída, o suficiente para abastecer cidades como Manágua, Oslo ou Marrakech por um ano.

“Na parte de têxtil, fornecemos diferentes alternativas sustentáveis ​​para vários processos tradicionais de acabamento de tecidos mais poluentes e consumidores de água. Nesse sentido, destacam-se nossas tecnologias Anubis e G2 Dynamic, que conseguem reduzir o consumo de água em até 95%, o consumo de produtos químicos em 100%, o consumo de energia em 80% e a pegada de carbono em até 40% em relação aos métodos convencionais, ao acabamento convencional. Na parte de acabamento de vestuário, desenvolvemos sistemas que, em vez de lavar com água, o fazem com ar. Assim, a tecnologia de ozônio G2 confere às roupas uma aparência envelhecida natural sem o uso de pedra-pomes e sem água. Também destacamos a tecnologia e-Flow que, em vez de usar a água como veículo para transportar produtos químicos, o faz por meio de nanobolhas, uma tecnologia com descarga zero que representa uma economia de 95% de água, 90% de produtos químicos e 40% de energia. Além das lavadoras ecoeficientes Dancing Box, uma tecnologia patenteada que minimiza a proporção do banho nos processos de acabamento, temos a mais revolucionária tecnologia para reduzir ao mínimo o uso de água: H2Zero. É um sistema de circuito fechado que, sem a necessidade de produtos químicos, trata a água, deixando-a em condições ótimas para seu posterior reaproveitamento em novos processos de lavagem para acabamento de roupas. Uma tecnologia-chave para alcançar MissionZero”, relata Canelada.

Jeanologia: missão de zerar o consumo de água e químicos nos processos em jeans./ Divulgação

CALCULANDO A PEGADA HÍDRICA

Sabia que dá para calcular a pegada hídrica da sua empresa de forma prática? A organização Water Footprint Network possui uma calculadora em seu site: https://waterfootprint.org. A ferramenta Avaliação da Pegada Hídrica (water footprint assessment) fornece uma base sólida de análise quantitativa, que pode ser usada para desenvolver uma estratégia hídrica corporativa e a empresa poder comparar sua pegada hídrica direta e indireta e a sustentabilidade de seus vários componentes, a fim de priorizar estratégias de resposta e definir metas de redução corporativa de uso da água. Para saber mais, acesse: https://waterfootprint.org/en/water-footprint/business-water-footprint/.

NILIT E A PARCERIA COM A THE OCEAN FOUNDATION

Em 2021, a NILIT se uniu à Blue Resilience Initiative (Iniciativa da Resiliência Azul, em tradução livre), da fundação americana The Ocean Foundation, para restabelecer e proteger a vegetação oceânica e outros hábitats costeiros. Essas plantas marinhas, que estão sendo danificadas a uma taxa de dois campos de futebol por hora, são ecossistemas vitais para controlar o CO2 da atmosfera, reduzir o aquecimento global e a acidez dos oceanos. Além disso, as plantas oceânicas sustentam a vida marinha, protegem as áreas costeiras contra a erosão e as tempestades, e apoiam as economias em todo o mundo.

“O investimento da NILIT na Blue Resilience Initiative, da The Ocean Foundation, complementa e reforça nossas próprias ações para proteger os ecossistemas oceânicos”, disse Sagee Aran, head de Marketing Global da companhia. “A NILIT e a The Ocean Foundation podem, juntas, colaborar com os dois lados da equação para gerar um impacto mais substancial na luta pela saúde dos oceanos e do nosso planeta.”

Sua poliamida premium 6.6 SENSIL® BioCare, por exemplo, é desenvolvida com um aditivo especial que acelera a biodegradação para reduzir o acúmulo de microplásticos em ambientes marinhos durante e após o uso das peças de roupa. O produto, que foi testado de acordo com a norma internacional ASTM 6691 em laboratório independente, mostrou biodegradação de cerca de 40% em 500 dias. Além disso, foram criadas etiquetas com QR Codes para as peças produzidas com SENSIL® BioCare, com o objetivo de orientar os consumidores sobre a preocupação com a sustentabilidade nas peças que estão adquirindo e o trabalho da The Ocean Foundation na preservação do ecossistema.

NOVO DESTINO ÀS GARRAFAS PLÁSTICAS JOGADAS NO MAR

A Unifi, por meio de sua marca REPREVE®, está ajudando a dar um novo destino às garrafas plásticas que vão parar no mar: é o REPREVE® Our Ocean, fio de poliéster feito 100% de garrafas PET pós-consumo, retiradas de regiões costeiras ou em um raio máximo de 50 km, mais suscetíveis a poluir os oceanos. Os fardos de garrafas PET são certificados pela OceanCycle, uma entidade independente que atua na área socioambiental, com foco em ajudar países subdesenvolvidos no processo de coleta e separação desse material em áreas consideradas de risco, devido à poluição plástica oceânica.

O REPREVE® Our Ocean tem durabilidade e características similares a um produto virgem, garantindo a mesma qualidade e o desempenho técnico para os clientes que o utilizam. Além disso, o fio possui um rastreador, para garantir o máximo de segurança, transparência e rastreabilidade no processo. Essa tecnologia da Unifi é chamada de FiberPrint, uma digital que garante que o fio seja auditável em qualquer etapa do processamento têxtil. Conheça mais do REPREVE® Our Ocean acessando: https://repreve.com/repreve-our-ocean .

V.LAUNDRY: INÉDITO HUB DE INOVAÇÃO SERÁ INAUGURADO NO CEARÁ

A comunidade de jeanswear brasileira está em contagem regressiva para a inauguração do V.Laundry, um hub tecnológico inédito que, de acordo com Marcel Imaizumi, da Vicunha, promete ser um marco no que se refere à inovação e à sustentabilidade para os setores têxtil e de moda. O local escolhido foi Maracanaú, no Ceará. Com uma área de mais de 2.300 m2, o espaço está em fase final de execução e contará com equipamentos de última geração, softwares inovadores e uma equipe altamente qualificada para proporcionar uma experiência única aos nossos parceiros de negócios.

“Em termos de tecnologia, o V.Laundry contará com equipamentos e softwares importantes, como o EIM, que mede o impacto das lavagens ao meio ambiente e nos dá visibilidade dos pontos de melhoria para controle e redução desse mesmo impacto, e também uma das máquinas da Jeanologia, que realiza intervenções e testes a laser nos tecidos sem utilizar água ou químicos. Ao utilizar os equipamentos e as tecnologias disponibilizadas pelo novo hub de inovação da Vicunha, como o software MYR, o cliente poderá montar a peça ideal digitalmente, escolher processos e acabamentos e sair de lá com uma peça-piloto ideal. Isso diminui o número de mostruários, assim como testes em lavanderia, o que, consequentemente, reduz a utilização de água. É uma grande revolução em termos de lavanderia do futuro”, celebra Imaizumi.

Deixe um comentário

Top