Por Tatiana Laschuk
Qual será a tendência para os próximos verões? Essa é uma das principais perguntas que muitos designers de moda recorrem ao desenvolver uma coleção.
Mas o sentido de tendência aqui é outro. A tendência é no sentido climático mesmo, com o aumento das temperaturas, que, no hemisfério norte, andam subindo além do que imaginávamos ser possível em um futuro tão próximo.
Mas e a moda, o que ela tem a ver com isso? Tudo!
Confira no texto algumas iniciativas que estão sendo feitas nessa indústria que está produzindo o que podemos chamar de “roupas para sobrevivência”.
PROJETANDO ROUPAS ADEQUADAS ÀS ALTAS TEMPERATURAS
O assunto é pauta recente de editoriais direcionados ao futuro, como uma coluna da BBC, que dá dicas de roupas para serem usadas nas ondas de calor.
Sem dúvida, essa é uma tendência no que se relaciona ao uso de tecidos e tecnologias, e até mesmo a formas amplas e alongadas das roupas. É uma nova oportunidade de mercado e, sob o meu ponto de vista, diria que é infeliz.
Estamos desenvolvendo roupas para amenizar os efeitos do calor extremo, em um cenário em que a própria indústria da moda contribui para isso, e a preocupação em frear as mudanças climáticas parece estar lá no final da fila.
A ROUPA PARA PROTEÇÃO DOS RAIOS SOLARES
A proteção UV é uma das tecnologias usadas nas roupas adequadas ao clima atual. É claro que o tecido com esse tipo de proteção só funciona quando cobre a parte que deve proteger. Uma camiseta de manga curta, por exemplo, mesmo com proteção solar, não terá proteção total sobre os braços.
É por isso que é cada vez mais comum vermos fotos de pessoas cobrindo o corpo todo para tomar banho de mar no hemisfério norte, incluindo o rosto, como acontece com o facekini, que são tendência em países como China, onde os termômetros ultrapassaram os 40 graus facilmente, com sensação térmica de até 80 graus Celsius em algumas partes desse país asiático.
A RESPIRABILIDADE EM TECIDOS PARA ALTAS TEMPERATURAS
Não só de proteção UV são feitas as roupas adequadas ao calor extremo. Materiais que antes eram usados prioritariamente na indústria esportiva, como os dry, por exemplo, agora são adequados também à indústria casual.
Um exemplo de tecnologia que tem sido usada para amenizar os efeitos do calor é a AIRism, da UNIQLO, que tem tido recorde de vendas no último verão no hemisfério norte pelo seu alto desempenho com as fibras de poliamida e cupro, que absorvem e liberam o suor do corpo rapidamente.
PESQUISAS AVANÇAM NA CRIAÇÃO DE TECIDOS ADEQUADOS À NOVA ONDA CLIMÁTICA
Roupas apocalípticas ainda não são uma opção para uso prático, e as soluções parecem ser mais simples do que se imagina. Cientistas no Massachusetts Institute of Technology descobriram que o equilíbrio-chave para permitir que o calor irradie para longe do corpo de forma mais eficaz é um material opaco à luz visível, que então reflete e não absorve a luz solar, mas transparente no infravermelho, permitindo que o calor saia do corpo. Isso tudo feito com fibras de náilon e poliéster mais finas.
Todas essas tecnologias vêm para amenizar os problemas gerados pelas mudanças climáticas e chegam ao sintoma, mas não à causa.
Sobre a causa, que são as mudanças climáticas, precisamos pensar, como designers, no nosso papel de agentes de transformação para diminuir a geração de gases do efeito estufa e frear o aquecimento global.
Tatiana Laschuk é mestre e doutora na área têxtil. Se dedica à pesquisa, ao desenvolvimento de produtos, e à geração de conteúdo com foco em sustentabilidade.
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LEGENDA: O facekini, vestimenta que se popularizou no último verão chinês em virtude das altas temperaturas provocadas pelo aquecimento global. / Foto: Zhang Iiwei/Imaginechina