Você está aqui
Home > Destaque > BLUE ECONOMY

BLUE ECONOMY

O papel fundamental da moda em uma economia de preservação aquática

Ela não tem a ver com mais uma “modice” ou “a cor da vez” na cartela de desenvolvimento de produtos, mas a Blue Economy, ou Economia Azul, deveria ter sido tomada como tendência desde sempre.

O termo foi usado pela primeira vez em 1994, pelo economista belga Gunter Pauli, quando fundou a Zero Emissions Research and Initiatives (ZERI.org), uma plataforma de networking global, apoiada pelo governo japonês, onde estudiosos de diversas áreas são desafiados a encontrar soluções para questões de grande impacto ao meio ambiente e às pessoas.

Em 2009, lançou o livro The Blue Economy: 10 years, 100 innovations, 100 million jobs, que hoje já está na terceira edição (A Economia Azul: o casamento da ciência, inovação e empreendedorismo criando um novo modelo de negócios que transforma a sociedade, na tradução para o português).

Entre os pilares da Blue Economy está o da transformação da economia linear para a circular, para o fazer “mais com menos”, vendo os resíduos como recursos (ecodesign e inovações sustentáveis de baixo custo), gerando riqueza, trabalho e reduzindo a poluição aquática (mares, rios, oceanos e águas subterrâneas), já que esse ambiente influencia todo o nosso ecossistema terrestre, e corresponde a 75% do nosso planeta. É utilizar recursos aquáticos para promover o crescimento econômico, mas de forma a proteger a biodiversidade, sem comprometer a saúde dos seres vivos e do planeta. A chamada à ação aqui é regenerar.

Nas palavras de Pauli, “Economia Azul é ser constantemente inspirado pela Natureza, mudando as regras do jogo, primeiro fazendo crescer a economia local, para melhor responder às necessidades das pessoas por meio de um foco muito maior na utilização do que está disponível localmente.”

DÉCADA DOS OCEANOS

Como desdobramento e parte da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), com base no Acordo de Paris, foi lançada, em 2017, a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, ou a Década dos Oceanos, também pela ONU, focando no ODS 14 (Vida na Água). A Década dos Oceanos começou a valer em 2021 e vai até 2030, neste projeto. A ideia é unir setores públicos, privados, acadêmicos e cientistas em prol de ações que preservem a saúde dos oceanos, que concentram a maior biodiversidade do planeta. A Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI), da Unesco, é quem está coordenando o Plano de Implementação da Década, para definir um conjunto de avanços científicos e tecnológicos de alto nível, necessários ao alcance de sete resultados desejados: um oceano limpo; saudável e resiliente; previsível; seguro; sustentável e produtivo; transparente e acessível; e conhecido e valorizado por todos.

O Brasil também está participando dessa ação por meio do Programa Ciência no Mar, do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações (MCTI), além de outros programas de limpeza e preservação, como o Amazônia Azul.

GANHOS PARA O MEIO AMBIENTE E PARA OS NEGÓCIOS

Os ambientes aquáticos, sobretudo os marinhos, têm uma riqueza biodiversa incalculável, necessária à vida no planeta, para alimentação, regulação climática, entre muitos outros aspectos, inclusive o de desenvolvimento de inovações tecnológicas e sustentáveis, como a biotecnologia azul, na qual, por meio do estudo de microrganismos oceânicos, é possível produzir uma infinidade de artigos e aplicações (de farmacêuticas até roupas), incorporando uma cadeia produtiva menos impactante ao meio ambiente de forma geral. Porém, precisa ser feita com cautela para não causar o efeito contrário, como o desequilíbrio de ecossistemas.

A fim de auxiliar pesquisas globais nessa área, na ação Década dos Oceanos, um projeto de destaque é o Seabed 2030 (seabed2030.org), que está mapeando, com imagens em alta definição, todo o fundo oceânico, pretendendo finalizar essa em 2030. Até junho deste ano, tinham sido concluídos pouco mais de 26%, o equivalente à área da União Europeia. De acordo com a organização do Seabed 2030, conhecer a forma e o chão do fundo do mar é fundamental para compreender a circulação oceânica e os modelos climáticos, a gestão de recursos, a previsão de tsunamis e a segurança pública, o transporte de sedimentos, as alterações ambientais e as infraestruturas necessárias, entre outros benefícios, como oportunidades às empresas em fornecer ou desenvolver soluções para essas e outros milhares de aplicações.

Outra parte importante é a que está no e sobre os mares: a geração de energias limpas, incluindo a eólica, e a geração de empregos nas áreas costeiras e mais remotas do planeta, fortalecendo, também, o desenvolvimento socioeconômico das populações. Para o Brasil, que possui uma extensa costa no Oceano Atlântico, a Economia Azul é essencial, inclusive ao ecoturismo.

PLÁSTICO: UM PROBLEMA PARA SÉCULOS

Falta de direcionamento correto de esgotos, produtos químicos, combustíveis e fertilizantes são alguns dos vetores mais poluentes do sistema aquífero e, no marinho, o plástico ganha disparado esse triste pódio.

Segundo o programa Ocean Conservancy, ligado à ONU, mais de 430 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente, sendo 2/3 descartáveis. Se continuar assim, o lixo plástico triplicará até 2060. Nos oceanos, por ano, chegam cerca de 11 milhões de toneladas métricas de plásticos. É desesperador imaginar a quantidade, e esses efeitos já estão intrínsecos até em nossos órgãos, visto que os micro e os nanoplásticos, aqueles que não são tão perceptíveis e não se biodegradam, fazem parte do novo cardápio de peixes e humanos. Tomara que não tenhamos o peixe-glitter e o peixe-pet como novas espécies.

Dados da fundação Plastic Soup apontam que nem todos os microplásticos são causados ​​pela fragmentação, mas podem resultar do desgaste dos pneus dos automóveis, do uso e lavagem de roupas sintéticas, do enxaguamento de produtos de higiene pessoal e cosméticos e do “derramamento” de nurdles, pequenos grânulos de plástico, pela indústria do plástico. Além disso, apenas 0,5% do plástico do oceano flutua realmente na superfície da água. O resto fica mais fundo na coluna de água ou fica no fundo do mar.

Dos 11 milhões de toneladas plásticas que chegam aos oceanos anualmente, se nada for feito agora, este número deve saltar para 29 milhões de toneladas – ao ano – em 2060, de acordo com Breaking the Plastic Wave, um estudo lançado, em 2020, pela Ellen MacArthur Foundation com as universidades de Oxford, Leeds e a organização Common Seas. Uma curiosidade: Ellen MacArthur é uma velejadora britânica.

Ainda segundo o estudo, apenas a gestão de resíduos ou a reciclagem não são suficientes para aplacar esse quadro: o ponto é aumentar nossa capacidade de manter os itens plásticos que já foram produzidos em reúso, sem descarte, inserindo-os no design para a circularidade. Temos que eliminar o plástico desnecessário e de uso único da linha de produção e consumo (garrafinhas, sacolinhas, talheres, aquelas embalagens de e-commerce, etc.) e fazer circular o plástico indispensável, pensando também em sua composição para que sejam reutilizáveis e compostáveis.

Vale lembrar que, além de tudo, os plásticos contribuem para o aumento na emissão de gases de efeito estufa, no aquecimento das águas e, consequentemente, no aquecimento global. Por sua vez, essa elevação da temperatura das águas oceânicas, por absorverem maior quantidade de CO2 vindos dos dejetos, tornam-se mais ácidas, desregulando a produção de fitoplanctons, responsáveis por produzir metade do oxigênio que nós, seres humanos, respiramos.

VÍDEO LIFE IS PLASTIC, DA PLASTIC SOUP FOUNDATION: https://www.youtube.com/watch?v=WpYOeszOx-A&t=75s

UMA NOVA ECONOMIA TÊXTIL

Uma fatia considerável da poluição global, como já sabemos, é a da indústria da moda, desde os fios ao descarte, sendo a etapa de tingimento bastante impactante no sistema aquífero, assim como os micro e nanoplásticos liberados na produção de fios e fibras, lavagens e aterros.

Um dado atual é que quase 70% de todos os têxteis e vestuário são feitos de plástico proveniente do petróleo (náilon, poliéster, acrílico), e apesar de termos empresas do setor verdadeiramente empenhadas em mudar essa matriz, o fast e o ultrafast fashion bagunçaram tudo com suas peças descartáveis e de péssima qualidade. Pense ainda nos paetês, glitters, miçangas e outros adereços que são puro plástico na composição.

Por isso, uma nova economia têxtil é necessária para já, e o design e a produção circulares são imperativos para o tempo que estamos vivendo, com a substituição de materiais de origem fóssil para os de base biológica na fabricação e tingimento dos fios e tecidos. E estes, por sua vez, precisam retornar à linha de produção, para que sejam reduzidas a exploração de recursos naturais, as emissões de gases poluentes e a poluição ambiental de forma geral. É essencial repensar as formas que os têxteis e as roupas são feitos, vendidos, usados e descartados em final de vida útil. Repetiremos isso o quanto for preciso.

BONS EXEMPLOS

A Ecoalf é uma marca espanhola de moda sustentável criada, em 2009, por Javier Goyeneche, que utiliza redes de pesca retiradas do mar, transformando-as em novos materiais e produtos com a mesma qualidade de um material virgem. Em 2015, foi criada a Ecoalf Foundation, com seu maior projeto, o Uplcycling the Oceans, com expedições para a limpeza do lixo marinho, que contam com a ajuda de milhares de pescadores. As expedições começaram na Espanha e já partiram para novos horizontes, como outros países da bacia do Mediterrâneo, Tailândia, Itália, Grécia, França e Egito. (@ecoalf)

A brasileira Marulho também se utiliza das redes de pesca descartadas para tornar a moda mais limpa, e os oceanos também. Fundada, em 2019, por Bia Mattiuzzo e Lucas Gonçalves, os dois, que viviam em Ilha Grande (RJ), sempre deparavam com restos de redes no litoral e, o que era um incômodo, transformou-se em um negócio socioambiental. Com os caiçaras da comunidade de Matariz, começaram fabricando saquinhos multiuso, daqueles que podemos levar ao mercado para colocar frutas e legumes, por exemplo, com a ajuda e o conhecimento do Seu Filhinho, um pescador aposentado com mais de 80 anos que sabia direitinho como costurar aquelas redes. A linha de produtos aumentou e vai desde porta-tudo até chapéus, colares e pulseiras feitas com as redes descartadas. (@marulhoeco)

Outra marca nacional, a Kitecoat® é também um projeto. Por meio de upcycling de pipas de kitesurf inutilizadas, são criadas jaquetas únicas, fomentando a moda circular, já que os materiais são de doação de escolas e praticantes do esporte. A ideia partiu de Alexandre Rezende, arquiteto e velejador, que se incomodava com o ciclo de vida das pipas, que iam para o lixo. Com o apoio de sua parceira, a publicitária, Paula Lagrotta, colocou o projeto em prática.

De acordo com eles, cada pipa que chega é fotografada de forma que a modelagem da jaqueta utilize diferentes partes de náilon, formando uma padronagem única. Cada jaqueta produzida ganha uma tag que conta sua história: de onde veio, os lugares por onde velejou, curiosidades, além do modelo original e ano de fabricação. Vale destacar que Kitecoat® é marca registrada. (@kitecoat)

A SENSIL®, marca de poliamidas premium da Nilit, tem investido pesado em transformação de suas fontes. Um exemplo é o SENSIL® BioCare, que tem uma tecnologia especial integrada ao polímero que permite a desintegração acelerada das fibras, tanto em aterros quanto na água, em comparação à poliamida convencional, comprovada por laboratório independente. 

Enquanto isso, a startup brasileira de biotecnologia Phycolabs, fundada pela pesquisadora, estilista e mestre em têxtil e moda Tamires Pontes, vem ganhando tração na pesquisa para produção em escala de uma fibra têxtil feita de macroalgas marinhas, a PhycoFiber. Thamires desenvolveu uma fibra têxtil orgânica e biodegradável a partir de um polímero, o ágar-ágar, extraído de algas vermelhas do tipo Rhodophyta, abundantes no Nordeste brasileiro. Seu desenvolvimento vem ganhando prêmios e notoriedade mundo afora, por exemplo, o Global Change Fashion Award 2023, da Fundação H&M, entre outros. Daqui, estamos torcendo para que ganhe ainda mais!

Conheça o projeto Upcycling the Oceans, da Ecoalf, acessando: https://ecoalf.com/en-int/pages/upcycling-the-oceans

NILIT E A PARCERIA COM A THE OCEAN FOUNDATION

Em 2021, a NILIT uniu-se à Blue Resilience Initiative (Iniciativa da Resiliência Azul, em tradução livre), da fundação americana The Ocean Foundation, para restabelecer e proteger a vegetação oceânica e outros hábitats costeiros. Essas plantas marinhas, que estão sendo danificadas a uma taxa de dois campos de futebol por hora, são ecossistemas vitais para controlar o CO2 da atmosfera, reduzir o aquecimento global e a acidez dos oceanos. Além disso, as plantas oceânicas sustentam a vida marinha, protegem as áreas costeiras contra a erosão e as tempestades e apoiam as economias em todo o mundo.

“O investimento da NILIT na Blue Resilience Initiative, da The Ocean Foundation, complementa e reforça nossas ações para proteger os ecossistemas oceânicos”, disse Sagee Aran, head de Marketing Global da companhia. “A NILIT e a The Ocean Foundation podem, juntas, colaborar com os dois lados da equação para gerar um impacto mais substancial na luta pela saúde dos oceanos e do nosso planeta.”

Sua poliamida premium 6.6 SENSIL® BioCare, por exemplo, é desenvolvida com um aditivo especial que acelera a biodegradação para reduzir o acúmulo de microplásticos em ambientes marinhos durante e após o uso das peças de roupa. O produto, que foi testado de acordo com a norma internacional ASTM 6691 em laboratório independente, mostrou biodegradação de cerca de 40% em 500 dias. Além disso, foram criadas etiquetas com QR Codes para as peças produzidas com SENSIL® BioCare, com o objetivo de orientar os consumidores sobre a preocupação com a sustentabilidade nas peças que estão adquirindo e o trabalho da The Ocean Foundation na preservação do ecossistema.

NOVO DESTINO ÀS GARRAFAS PLÁSTICAS JOGADAS NO MAR

A Unifi, por meio de sua marca REPREVE®, está ajudando a dar um novo destino às garrafas plásticas que vão parar no mar: é o REPREVE® Our Ocean®, fio de poliéster feito 100% de garrafas PET pós-consumo, retiradas de regiões costeiras ou em um raio máximo de 50 km, mais suscetíveis a poluir os oceanos. Os fardos de garrafas PET são certificados pela OceanCycle, uma entidade independente que atua na área socioambiental, com foco em ajudar países subdesenvolvidos no processo de coleta e separação desse material em áreas consideradas de risco, devido à poluição plástica oceânica. O REPREVE® Our Ocean tem durabilidade e características similares a um produto virgem, garantindo a mesma qualidade e o desempenho técnico para os clientes que o utilizam. Além disso, o fio possui um rastreador, para garantir o máximo de segurança, transparência e rastreabilidade no processo. Essa tecnologia da Unifi é chamada de FiberPrint, uma digital que garante que o fio seja auditável em qualquer etapa do processamento têxtil.

Deixe um comentário

Top