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OURO DE MINAS

Inspiradas pela avó, as irmãs Livia e Isabela trazem um garimpo chique, circular e afetivo ao Brechó Albertini, em Belo Horizonte

Sabe quando a brincadeira de criança vira coisa séria? Com as irmãs Livia e Isabela Albertini, virou. Desde pequenas costumavam experimentar as roupas e os acessórios da avó, de origem italiana, Dona Cerize, trocar ou vender peças que não queriam mais entre as amigas e primas, garimpar por diversão e fazer dessa paixão um negócio, o Brechó Albertini.

Livia é formada em jornalismo e Isabela em moda, e na época da faculdade, as duas, com mais uma amiga que era fotógrafa profissional, faziam a concepção de editoriais de moda, oferecendo seu trabalho às marcas. Depois de formada, em 2020, Livia seguiu na área de jornalismo e trabalhou na comunicação de uma grande empresa têxtil mineira até o início deste ano, quando tomou a decisão, com sua irmã, Isabela, de investir no negócio próprio.

Elas contam que o Brechó Albertini nasceu primeiro de forma on-line, no dia 27 de abril de 2023, dia do aniversário do avô, marido da avó Cerize, musa inspiradora do empreendimento que carrega, em seu DNA, uma boa dose de carga afetiva. Mas este ano, as irmãs decidiram apostar também no espaço físico do brechó, inaugurado na mesma data, 27 de abril, em uma casinha no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte.

Lívia e Isabele Albertini com a avó, Cerize. / Arquivo Pessoal

“Foi nossa avó quem nos ensinou a apreciar o valor das peças e dos acessórios que carregam história, amor e qualidade. Foi com ela que aprendemos a arte do garimpo, a misturar o antigo e o novo, o clássico e o moderno, o simples e o sofisticado”, conta Lívia.

“Nosso trabalho é garimpar peças para pessoas que buscam valorizar seu estilo e seu espírito de viver, sem se prender a padrões ou tendências passageiras. Aqui, os clientes poderão encontrar roupas que se conectam à sua essência, à sua história. Nosso propósito é fazer com que as pessoas consumam de acordo com seu propósito pessoal e de vida”, pontua Isabela.

MODA CIRCULAR EM ALTA

A experiência de ambas no mundo da moda fez com que percebessem que o consumo de roupas descartáveis, de baixa qualidade e sem personalidade, é um problema que afeta não só o meio ambiente, mas também a autoestima e a identidade das pessoas.

Em 2021, o mercado global de roupas usadas era da ordem de US$ 15 bilhões e, em 2025, deve chegar perto de US$ 80 bilhões, de acordo com a ThredUp, empresa on-line de moda dos Estados Unidos. Nesse levantamento, 76% dos consumidores consultados revelaram querer ter um mix maior de peças de segunda mão no guarda-roupa. Ou seja, tudo indica que a garimpagem de peças exclusivas encontradas nos brechós está em alta.

E é nesse cenário que o Brechó Albertini traz a proposta de oferecer peças únicas e selecionadas com a curadoria das irmãs Lívia e Isabela à clientela que busca uma nova forma de se vestir, mais consciente, criativa e autêntica.

Fotos: Marcio Rodrigues

CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA COM AS IRMÃS LÍVIA E ISABELA ALBERTINI

De que forma os laços familiares influenciaram a vida de vocês na formação do estilo pessoal, na escolha e no compartilhamento de itens de vestuário?

Desde novinhas tínhamos o sonho de ter um negócio juntas. Já tínhamos o hábito de pegar roupas que não queríamos mais e trocar com nossas amigas, primas e, sem compromisso, fazíamos garimpo por diversão. Mas a coisa foi tomando uma proporção que, no dia 23 de abril de 2023 surgiu o Brechó Albertini, numa decisão de realmente começarmos esse negócio juntas. Coincidentemente, esse é o dia do aniversário do nosso avô, marido da nossa avó Cerize, nossa musa inspiradora.

Sempre fomos muito adeptas ao garimpo, adoramos fazer isso, e também adeptas da moda circular. Além da preocupação com a sustentabilidade, temos paixão pela exclusividade, pela história por trás da roupa ou do acessório, pelo frio na barriga quando saímos para garimpar, pois é sempre uma surpresa. Você bate o olho e diz: Isso aqui é muito especial!

Contem sobre a trajetória profissional de vocês antes de decidirem abrir o Brechó Albertini.

Eu, Livia, me formei em jornalismo em 2020, e durante a faculdade, junto com a irmã, montávamos produções e fotografava mini editoriais para as marcas, oferecendo nossos serviços junto com uma amiga fotógrafa profissional. No final da faculdade, trabalhava com criação de conteúdos para empresas e no final de 2020 para 2021, fui trabalhar numa grande indústria têxtil mineira, onde fiquei até o início de 2024. Foi um lugar de muito aprendizado para mim, fui responsável pela área de comunicação da empresa, participando dos processos dos editoriais, das criações, tanto do setor workwear quanto de moda e, um ano depois, fui convidada pela diretoria a assumir a área de comunicação. Foi onde cresci e aprendi muito do processo da indústria têxtil, como ele funciona, e pude aplicar isso agora no brechó. No final de 2023, percebi que minha vontade maior era me dedicar ao brechó, onde me sentia mais feliz, mais completa. A Isabela foi morar em São Paulo e começamos a dividir mais as tarefas, então, minha decisão foi sair da empresa onde eu estava para me dedicar 100% ao brechó.

Eu, Isabela, passeei um pouco na vida profissional. Logo após o ensino médio, eu fiz vestibular para Engenharia Mecânica e fiquei 2 anos cursando, até que fui fazer intercâmbio em NY e lá descobri que eu realmente amava moda e queria seguir minha carreira com isso. Voltei, larguei o curso de engenharia e comecei moda na Fumec, em BH. Durante o curso, trabalhei com produção de foto, styling e fiz vários ‘bicos’ (risos). Até que surgiu a oportunidade de trabalhar em uma indústria têxtil como estilista e desenvolvimento de produto. Foram 5 anos nessa empresa, e hoje trabalho em uma outra indústria têxtil em SP, exercendo o cargo de desenvolvimento de produto. Já era muito realizada profissionalmente, agora com o brechó, esse sentimento é ainda mais completo. Por trabalhar em uma indústria, a criatividade às vezes fica mais contida, mas por meio do brechó, consigo usá-la pra me inspirar e inspirar nosso público. O meu lado poético e artístico é mais aguçado no brechó e amo que eu e minha irmã somos iguais nesse ponto. Compramos as ideias uma da outra e nossa paixão pelo nosso negócio só cresce.

Como foi a decisão pela abertura do brechó? Pesou mais o lado empreendedor ou afetivo nesta decisão?

Começamos mais pela emoção mesmo, sem muita noção do que isso poderia virar do ponto de vista de negócios. Porém, nascemos numa família de empreendedores, e com o auxílio dessas pessoas que estão ao nosso redor e tendo os pés mais no chão, queríamos consolidar o brechó como um negócio sólido, com potencial de crescimento, e que também que não deixasse de ter a nossa cara e nossa base, que são nossos valores, tão importantes para nós.

E como tem sido essa experiência empresarial para vocês, investimentos, o que têm descoberto nesta trajetória?

Empreender é uma experiência muito desafiadora e onde aprendemos todos os dias, especialmente em trabalhar com moda, que é ultraglamourizado, e no dia a dia não lidamos com esse glamour todo. Temos muitas planilhas e contas para lidar, parte administrativa, atendimento, investimento, trabalhar o tempo todo pensando no negócio e melhorá-lo. Mas o brechó é o nosso propósito de vida.

Começamos investindo R$ 500. Sempre fomos muito independentes dos nossos pais e eles sempre nos incentivaram a correr atrás daquilo que a gente quer e acredita, por isso, queríamos começar com o nosso dinheiro. Era pouco, mas colocamos esta verba inicial para testar e, até hoje, somente nós colocamos dinheiro no brechó.

Descobrimos nesta trajetória que temos muita força de vontade de aprender, de crescer, que temos que ser mais pacientes, ter mais pé no chão, um passo de cada vez, pois é uma construção diária, e principalmente, que o nosso amor pela moda e pelo garimpo é muito maior do que a gente imaginava.

Vocês duas são responsáveis pelos garimpos ou dividem as tarefas?

Nós duas somos responsáveis pelos garimpos. A Isabela mora em São Paulo e acha muita coisa legal, e eu, Livia, garimpo em Belo Horizonte e cidades vizinhas. Temos planos de garimpar em outros estados além de Minas e São Paulo. Recentemente fomos à Buenos Aires, o que nos deixou ainda mais exigentes com a nossa curadoria. Está em nossos planos visitar outros lugares fora do Brasil para expandir nosso negócio e trazer peças realmente diferenciadas aos nossos clientes, com exclusividade, um ponto muito importante para nós.

E o que mais prezam na hora de escolher um item para o acervo de vocês? Além de roupas e acessórios, vocês também garimpam itens de decoração?

Na hora de escolher uma peça, prezamos sempre pela qualidade, construção, exclusividade, os detalhes, a história por trás, estudamos de que ano ou década pode ser. Temos muito cuidado, pois também fazemos restauração de peças para valorizá-las ainda mais.

Adoramos peças com ‘CGC’ (lembram dele, antes de ser CNPJ?), que garante que ela tem mais de 25 anos, que é vintage. Inclusive, recebemos muitos pedidos assim em relação a objetos para casa, o que tem muito a ver com o Brechó Albertini, e que está em nossos planos.

Garimpamos mais roupas femininas, mas também temos peças masculinas como camisas, blazers, coletes e tricôs. Essas peças vendemos tanto para mulheres quanto para homens, e vão do tamanho P ao G. Trabalhamos só com a compra de peças, nada consignado. E na hora de escolhê-las, prezamos por roupas e acessórios que são a cara do brechó Albertini e de nossos clientes.

Como descreveriam o “estilo Brechó Albertini”, ou a personalidade dele?

Tem um estilo que não se prende a regras, incentiva a criatividade de cada pessoa, e nosso maior diferencial é a produção e o styling: gostamos muito de inventar moda, pegar uma peça e dar inúmeras possibilidades de uso para ela, basta testar e ousar.

Vocês pegaram um momento de mercado em que os brechós estão sendo desmistificados, saindo de públicos nichados e se abrindo a um público mais diversificado. Como estão percebendo este momento na moda, na economia e no comportamento das pessoas?

Temos muitas clientes que não tinham costume de comprar em brechós, já ouvimos várias vezes isso delas, e também notamos que as pessoas estão ficando mais conscientes em relação às questões de sustentabilidade.

A moda circular cresceu muito. Em 2021, o mercado global de roupas usadas era de US$ 15 bi, e em 2025 deve atingir US$ 80 bilhões.

Também observamos que as pessoas estão valorizando mais peças bem construídas, de qualidade e exclusividade. Houve um boom dessas ultrafast fashion, mas reparamos que, agora, estão procurando peças que irão durar mais. Antes do brechó, tivemos uma história no setor de moda e percebemos que esse consumo de baixa qualidade e sem personalidade, que é o fast fashion, é um grande problema, pois afeta não só o meio ambiente, o espaço onde a gente vive, como também a autoestima das pessoas. O fast fashion padroniza as pessoas, e a moda circular, ao contrário, inspira, traz mais estilo e criatividade, além da exclusividade. E nosso brechó inspira muito nossas clientes, palavras delas mesmas.

Além disso, os brechós são um grande vetor para que consigamos conscientizar as pessoas sobre economia e moda circular, e sua importância para a sustentabilidade do planeta. Percebem clientes mais engajados e interessados nesta pauta? Vocês têm alguma forma de despertar isso neles?

Sim, principalmente clientes da geração Z, que costumam consumir peças em brechós têm essa preocupação com peças de segunda mão. Despertamos esse interesse pela moda circular por meio da produção que fazemos, dos looks, mostramos que é possível estar bem-vestida e ter personalidade com peças garimpadas e de segunda mão, pois mostramos o valor que elas têm, a construção, transmitimos nosso amor por meio desse discurso.

Falem para nós sobre o espaço físico do brechó.

O espaço físico surgiu a partir de uma necessidade que vimos por conta da expansão do brechó on-line. Estávamos com um acervo muito grande de peças. E como temos um lado emocional muito aflorado, queríamos ter um espaço para compartilhar isso, de aconchego, de carinho, de moda, que fosse a cara do Brechó Albertini, representasse os valores da nossa família, que são amor, alegria, união, aquele gostinho de um café gostoso, e queríamos que nossas clientes participassem desse ambiente, prezamos muito essa troca presencial com elas.

Para dar vida ao espaço, tivemos apoio da nossa arquiteta, Luiza Araújo, que preza por escutar as necessidades do cliente. Ela trabalha muito com essa arquitetura que se se conecta com as emoções, os valores, e ela desenvolveu a ideia junto com a gente. O objetivo era realmente fazer as pessoas entrarem no brechó e imergirem no nosso espaço, na nossa história. Cada peça que está ali está conectada com a nossa essência.

Os móveis foram praticamente todos garimpados na nossa avó e na nossa família; o baú de tricôs é da nossa tia há muitos anos; a mesa e as cadeiras eram do nosso avô, porque lá era o escritório dele; as nossas louças, onde a gente adora servir os cafezinhos e biscoitinhos que as clientes tanto amam, eram um presente de casamento da nossa mãe; temos fotos da nossa avó, nossa maior musa inspiradora, por todo lado; o espelho, paixão das nossas clientes, nós garimpamos num “topa tudo” e é de madeira de sucupira, a mesma do brechó.

Por fim, nos contem como foi a criação deste editorial MARAVILHOSO que fizeram para marcar esta nova fase do Brechó Albertini e a intenção com ele.

Em nossa trajetória no mundo da moda tivemos o prazer de conhecer vários profissionais maravilhosos e, em outubro do ano passado, quando estávamos discutindo sobre ter um espaço físico do brechó e apresentar nosso material a outras pessoas, queríamos que fosse por meio de um editorial de moda, que pudéssemos representar a nossa essência, saindo um pouco do comercial que fazíamos diariamente para irmos para o conceitual, que representasse nossa personalidade.

Assim, escolhemos profissionais que sempre admiramos e que estiveram conosco desde o início, como o fotógrafo Marcio Rodrigues, aqui de Minas Gerais, que tem um olhar muito peculiar e especial; a Maria Cândida, que é uma produtora de moda e stylist que admiramos, pois ela transforma looks em poesia; o Bruno Cândido, responsável pela beleza, trouxe muita personalidade para a produção; também tivemos a participação da Moyo, agência de modelos aqui de BH, que nos apresentou a nossa “Zendaya brasileira”, que a gente brinca, que é a Eliza Fer; e a Conte-me Agência, aqui de BH, só de mulheres, que produziu nosso fashion film que todo mundo ama.

Contato: @brechoalbertini

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