REFORMA TRIBUTÁRIA E O FUTURO DO SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÃO NO BRASIL

Por Eduardo Cristian

A indústria têxtil e de confecção é uma das cadeias produtivas mais relevantes do país – tanto pela geração de valor quanto pelo seu impacto social. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o setor movimentou cerca de R$ 215 bilhões em 2024, registrando crescimento de 7% em relação ao ano anterior. A produção têxtil, sozinha, responde por aproximadamente 40% desse montante, e o segmento emprega diretamente mais de 1,3 milhão de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Trata-se de um setor estratégico, ligado ao desenvolvimento e polos regionais, à inclusão produtiva e ao fortalecimento da economia nacional. Por isso, qualquer alteração estrutural que afete sua operação repercute não apenas na economia, mas na geração de renda de milhares de famílias.

Nesse contexto, a Reforma Tributária aprovada em 2023 e com implementação prevista a partir de 2026, representa um marco importante para o ambiente de negócios brasileiro. Embora o objetivo central seja oferecer mais simplicidade e eficiência ao sistema, a transição está longe de ser simples. O atual sistema tributário brasileiro é conhecido por sua complexidade – com grande quantidade de impostos e tributos existentes – fatores que penalizam especialmente setores intensivos em mão de obra, como o têxtil e o de confecção.

A migração gradual para o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e para a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), prevista para ocorrer entre 2027 e 2033, acende um sinal de alerta para as empresas. Apesar do potencial de simplificação, o novo modelo introduz revisão de toda a cadeia de fornecedores e adequações operacionais. Pequenas e médias confecções – que representam a maioria do setor – devem sentir de forma mais intensa essa fase de adaptação, seja pelo aumento do custo administrativo ou pela necessidade de investimentos em gestão fiscal e digitalização. Essa combinação pode pressionar margens já comprimidas e elevar o preço final das peças ao consumidor.

Outro ponto que deve ser discutido é a competitividade internacional, que não dá trégua. O setor já enfrenta forte concorrência de países asiáticos, com custos significativamente menores e acesso fácil ao mercado brasileiro. Caso a reforma não tenha medidas compensatórias ou políticas claras de defesa comercial, a disparidade tende a aumentar. Isso não apenas ameaça a sustentabilidade das empresas nacionais, como amplia o risco de fechamento de postos de trabalho e esvaziamento de polos têxteis tradicionais.

Por outro lado, os potenciais benefícios são relevantes e não devem ser ignorados. A reforma promete maior previsibilidade tributária e diminuição da informalidade, tornando as cadeias mais transparentes e eficientes a longo prazo. É por isso que muitas empresas já começaram seu processo de adaptação: revisão de contratos, reorganização produtiva, investimentos em automação, digitalização fiscal, capacitação de equipes e adoção de ferramentas de gestão capazes de acompanhar a nova lógica tributária.

Ainda assim, é fundamental reconhecer que a transição não pode ser conduzida com a ideia equivocada de que todos os setores são iguais. O setor têxtil e de confecção possui peculiaridades que vão desde a dependência de mão de obra até a sensibilidade a oscilações de custos logísticos e cambiais. Por isso, políticas de transição calibradas, regimes específicos e mecanismos de proteção à competitividade serão essenciais para garantir que a reforma não penalize um dos setores que mais geram oportunidades em todo o país.

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Nesse cenário, iniciativas de qualificação e atualização profissional ganham papel ainda mais relevante. O MBA Fashion Day, por exemplo, que será realizado nos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro de 2026, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, surge como um espaço estratégico de fortalecimento da gestão para pequenos e médios empreendedores, oferecendo conteúdos atualizados, networking qualificado e orientação prática sobre temas que vão desde inovação e operação até os impactos regulatórios que o setor precisará enfrentar.

O verdadeiro teste da reforma tributária será sua capacidade de conciliar eficiência econômica com justiça competitiva. A indústria têxtil e de confecção está disposta a se adaptar e evoluir — mas precisa de uma regulamentação que reconheça sua importância estratégica e ofereça condições reais para a continuidade de sua relevância econômica e social. Nos próximos anos, esse será um debate decisivo não apenas para o setor, mas para o futuro de toda a indústria brasileira.

Eduardo Cristian é fundador da Costurando Sucesso, plataforma especializada em gestão do conhecimento para confecções
@eduardocristianoriginal