Como parte do investimento no projeto Algodão Paraíba, o que era produzido em 8 meses será feito em apenas 72 horas
De 225 para 4.000 quilos de rama de algodão beneficiado por hora. Este é o salto de produtividade garantido pela máquina adquirida pela Cooperativa dos Agricultores Familiares do Município de Ingá e Região (Itacoop) para beneficiamento do algodão orgânico. O equipamento será inaugurado oficialmente na Paraíba no dia 08 de maio (segunda-feira).
O evento, que será realizado pela prefeitura local, é mais um passo do projeto Algodão Paraíba, a fim de expandir e consolidar a região como polo do algodão orgânico do país. A compra do equipamento industrial foi viabilizada pela união das indústrias Dalila Têxtil (SC) e da Companhia Industrial Cataguases (MG). A negociação, que garantiu cinco anos para o prazo de pagamento, teve o apoio da Texpar, do grupo paraibano Unitextil, e o apoio logístico da Prefeitura de Ingá.
EQUIPAMENTO DE PONTA
Com 32 toneladas e seis metros de altura, a imponente Lummus chegou em Ingá desmontada, transportada por duas carretas. Uma parte veio da Bahia e a outra do Espírito Santo. A máquina ocupará 500 dos 600 metros quadrados no galpão local. A montagem mobilizou 12 pessoas, entre engenheiro e técnicos, que trabalharam durante 90 dias. “Até o momento, oito pessoas já estão treinadas para a operação do equipamento que transformará, por hora, cerca de 4000 quilos de algodão em rama em oito fardos de 190 kg de algodão em pluma”, comemora Antônio Barbosa da Silva, presidente da Itacoop.
Importante destacar que a fibra é o principal produto do algodão (40%), mas seus co-produtos (caroço, óleo e torta) representam 60% e contribuem com o valor agregado da cadeia produtiva. Com a industrialização, a ideia é atender a produção da Paraíba e expandir para o mercado do Rio Grande do Norte e do Ceará. “Nós levamos oito meses para descaroçar o algodão (em turnos diários de oito horas), e hoje nós podemos fazer em 72 horas (nove dias em turnos de oito horas), sobrando tempo para beneficiar algodão de outros produtores”, explica o presidente da cooperativa.
O equipamento deve servir apenas aos produtores de algodão agroecológico branco e colorido. Por isso, o beneficiamento será feito em cubas separadas: duas cubas exclusivas para o algodão branco e para o colorido já certificados como orgânicos; e outra cuba para o algodão agroecológico em processo de transição para a certificação.
INDUSTRIALIZAÇÃO DO CAMPO
Para dar conta da demanda nacional e internacional é preciso escalar, e isso vai além da expansão do cultivo no campo: é preciso que a rama seja convertida em pluma com rapidez e qualidade para atender a uma dinâmica de mercado. Além disso, a pluma gera maior valor econômico para o agricultor. “Muitos vendem o algodão em rama ganhando menos por não terem acesso ao beneficiamento”, diz o presidente da Itacoop.
André Klein, diretor da Dalila Ateliê Têxtil, encontrou no projeto Algodão Paraíba a possibilidade de não precisar mais importar algodão orgânico da Ásia. Ao conhecer os campos em Ingá, comprou 12 toneladas, mas percebeu que só seria possível dar continuidade ao negócio melhorando o processo do algodão da Paraíba. Para isso, era preciso investir em tecnologia. Logo no início convidou a Cataguases para este grande desafio. “Foi quando tomamos a decisão de viabilizar, juntamente com a cooperativa dos agricultores, e em parceria com a Natural Cotton Color e a prefeitura de Ingá, uma estrutura mais moderna”, disse.
A Cataguases, então, concebeu um projeto com a premissa de ser social e ambientalmente responsável, colocando os cooperados como eixo central, para promover o desenvolvimento da Itacoop e do município de Ingá com a máquina de beneficiamento e investindo na infraestrutura do galpão. Além disso, garantiu, em parceria com a Dalila Têxtil, a compra integral do algodão produzido pelos agricultores locais, seguindo o modelo pioneiro de contrato de compra garantida – iniciado pela empresa paraibana Natural Cotton Color.
“Faz parte do nosso DNA desenvolver e apoiar ações e projetos de sustentabilidade. Para nós, o projeto algodão orgânico é muito mais do que um produto sustentável. É um olhar e um resgate desta região do Paraíba, que visa a geração de renda local e benefícios para comunidade”, disse Tiago Inácio Peixoto, CEO da Cataguases.
Na visão do diretor da Dalila Têxtil o foco é preparar o processo e a qualidade do algodão orgânico paraibano para viabilizar a emissão das certificações internacionais, como o GOTS, para levar este algodão aos mercados de exportação. “Esta é uma jornada longa e desafiadora. Estamos agora em um momento divisor de águas, onde os investimentos estão todos focados na emissão das certificações internacionais para que possamos valorizar devidamente o projeto”, completou. Klein esclarece que o mercado brasileiro está amadurecendo em relação aos produtos com viés de sustentabilidade. No entanto, o algodão orgânico da Paraíba, por ser artesanal, ainda tem um custo muito alto comparado ao algodão tradicional, que é feito em alta escala e com uso de agrotóxicos. “Por esta razão, é tão importante seguirmos investindo na melhoria dos processos do algodão orgânico da Paraíba, para que esta matéria-prima seja valorizada de forma adequada”, esclarece.
A máquina de beneficiamento representa a revolução industrial de Ingá, que vem se adequando para a transformação que isso deve causar, como novos fluxos de pessoas e o aumento do consumo. “O beneficiamento, ou seja, a industrialização, vai fortalecer ainda mais a agricultura familiar. Em consequência, a demanda por novos negócios relacionados vai gerar ainda mais movimento econômico para toda a região. Estamos preparados e muito felizes”, conclui o prefeito Robério Burity.
SERVIÇO:
Inauguração Usina de Beneficiamento de Algodão Orgânico
Cultivado pela Agricultura Familiar de Ingá e Região
Segunda-feira, 08 de maio, a partir das 10h
Local: Sede da Fábrica – Bairro da Estação (Ingá – PB)
Foto: Leo LM / Divulgação