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ROUPAS: ACIMA DE TUDO, UM GRANDE NEGÓCIO

Por Marcelo V. Prado

Quando analisamos a evolução da oferta e demanda de vestuário no Brasil nos últimos anos, com os Painéis de Pesquisa do IEMI, em que se encontram englobados a indústria, o varejo e o comportamento dos consumidores de moda, temos uma clara visão dos movimentos e da importância dessa categoria de produto para as famílias brasileiras, bem como dos desafios que as marcas locais enfrentam para poder melhorar a sua performance nesse segmento.

No Brasil e em quase todas as partes do mundo, a roupa é, acima de tudo, um grande negócio, pois, além de se posicionar como um produto de primeira necessidade, destaca-se por seus diferentes atributos de proteção, funcionalidade, cultura e estética.

Nos países desenvolvidos, onde predomina uma população com maior poder de compra, mas também custos de produção mais elevados, a roupa ocupa um papel de primeira relevância na cesta de consumo das famílias e na geração de receitas para o varejo local, ainda que na indústria ela tenda a ter menor relevância econômica.

Nos países de baixos custos de produção e em desenvolvimento, além da importância natural para o consumo das famílias e para o varejo local, a roupa costuma ocupar papel de destaque também na indústria e na geração massiva de empregos, bem como na pauta de exportações, dependendo das políticas públicas e das estratégias comerciais desses países.

Foi assim que surgiu, ao longo dos anos, na esteira da globalização, diferentes perfis de países, com características que permitem classificá-los em grupos como o dos “importadores – consumidores”, quando a ênfase está no suprimento da demanda interna (exemplos: Estados Unidos e alguns países europeus); ou “produtores – exportadores”, como no caso dos países asiáticos, com ênfase na competitividade da sua produção, intensiva em mão de obra, e foco na exportação.

O Brasil, por sua vez, destaca-se em um grupo distinto, que chamamos de “produtores – consumidores”, caso em que a indústria do vestuário local é reconhecida internacionalmente por suas dimensões, diversidade e criatividade, mas tem como destino quase restrito, o suprimento do mercado interno, e não por causa de uma opção estratégica ou planejamento nacional, mas por uma série de fragilidades estruturais e políticas econômicas erradas, que simplesmente reduziram indevidamente a competitividade dos produtores locais e a sua participação como exportadores globais, limitando o seu potencial de crescimento, a geração de riquezas, empregos e divisas para o país.

Apesar desse cenário interno adverso, a indústria brasileira do vestuário tem conseguido se manter entre as 10 maiores do mundo, respondendo ainda pelo suprimento de 80% de todas as roupas aqui consumidas (contra 97% no início dos anos 2000), e ajudando a gerar receitas de quase R$ 280 bilhões por ano no varejo local. Esses valores colocam o vestuário na terceira posição na cesta de bens adquiridos pelos consumidores brasileiros, atrás apenas de alimentos e automóveis.

Nos últimos quinze anos, após os impactos sobre o mercado de moda gerados pela crise econômica de 2015 e 2016, e dos anos de pandemia (em 2020 e 2021), dos quais o setor ainda não se recuperou plenamente, os artigos do vestuário diminuíram sua participação relativa nos gastos dos brasileiros, que chegaram a representar 6,8% do total (em 2008), diminuindo para 4,4% no último ano. Nesse período, o custo de vida dos brasileiros subiu com os picos de inflação nos momentos de crise econômica e de pandemia, e a consequente elevação dos juros, que, aliados a um maior endividamento das famílias, reduziu a disponibilidade de recursos para o consumo de bens em geral, nos quais se incluem os artigos do vestuário.

Entretanto, quando analisamos a evolução do comportamento dos consumidores de moda, nesse mesmo período as pesquisas do IEMI mostram uma clara mudança nos hábitos, preferências e valores da população, diante do avanço tecnológico e das preocupações com o meio ambiente, com a sustentabilidade, a responsabilidade e a inclusão social, com nítido impacto sobre a forma de se comercializar, comunicar e consumir artigos de moda.

O vestuário, como bem de primeira necessidade, atributos culturais e estéticos, continuará sendo um dos maiores negócios para a economia brasileira e mundial, mas os fatores que a impulsionam já não são exatamente os mesmos de dez ou quinze anos atrás, desafiando as marcas que querem subsistir e prosperar nesse mercado a entender de forma plena esses movimentos, para superar suas desvantagens competitivas e interagir melhor com os diferentes perfis de consumidores que movimentam o caixa das lojas em que os seus produtos são comercializados. Sem dúvida, nunca foi tão importante entender como esses buyers percebem, encontram e adquirem as marcas escolhidas em suas compras, para o desenvolvimento de uma estratégia eficiente para encantá-los, atraí-los e fidelizá-los. O tempo em que se desenvolvia produtos e campanhas para clientes “imaginários” não encontra mais espaço no mercado de moda atual.

Indicadores conjunturais

  • De acordo com os indicadores mensais de desempenho do mercado de vestuário, em março de 2024, último dado disponível à época da edição desta coluna, as indústrias do setor registraram um crescimento de 3,7% na produção de roupas, em relação a fevereiro de 2024, quando medida em número de peças confeccionadas. Em relação a março de 2023, os indicadores mostram que a produção industrial do setor teve um recuo de 11,1%, refletindo um início de ano ainda fraco para a indústria de moda, a ser revertido em breve com a melhora prevista para o varejo local.
  • Os dados para as vendas do comércio varejista, em março de 2024, já indicam um crescimento de 14,6% no volume de peças comercializadas e de 14,8% em valores nominais (sem descontar a inflação), em relação a fevereiro, que é sempre um mês mais fraco, por ter menos dias e pela ocorrência do carnaval. Quando comparado com março de 2023, por sua vez, o volume de peças comercializadas está levemente abaixo, com queda de 0,9%. Esse mesmo indicador, quando mensurado em valores nominais, registra alta de 1,3% sobre o mesmo mês de 2023, o que sugere que as encomendas à indústria devem ter melhorado consideravelmente ao longo de abril e maio.
  • O fim do período de liquidações e o início da chegada da nova coleção se refletem na inflação do setor em abril, que, de acordo com o IPCA do vestuário, apresentou variação positiva de +0,55%, em relação a março. No acumulado dos quatro primeiros meses deste ano, o índice está bastante comportado, com elevação de apenas 0,27%, da mesma forma que nos últimos 12 meses, acumula alta de apenas 2,60% nos preços ao consumidor, bem abaixo do índice geral de inflação, que registra 3,69% positivos no mesmo período.
  • No que diz respeito ao comércio externo, em abril de 2024, o Brasil importou US$ 199,2 milhões em vestuário, o que representou uma queda de 6,4% na comparação com o mês de março, mas um crescimento de 3,7% no acumulado dos quatro primeiros meses do ano, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Já com o mês de abril de 2023, especificamente, o indicador apresentou crescimento de 11,4%.
  • Do lado das exportações, as vendas do vestuário brasileiro para o exterior, em abril de 2024, registram o montante de US$ 18,4 milhões, com um crescimento de 18,6% em comparação ao mês de março. Em relação a abril de 2023, o indicador registrou alta de 8,4%. No acumulado do ano, as exportações de vestuário cresceram 6,8%, se comparadas ao mesmo período do ano passado, totalizando US$ 60,4 milhões.

Marcelo V. Prado é sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado, economista, consultor de empresas, colunista, palestrante e assessor de diferentes entidades empresariais.

marcelo@iemi.com.br

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