Entidades do setor, como Abit e Abicalçados, comentam os primeiros reflexos à indústria nacional
RISCOS E OPORTUNIDADES AO SETOR TÊXTIL E CONFECCIONISTA
As tarifas recíprocas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos, que entram em vigor neste sábado (5/04), representam um marco sem precedentes no comércio internacional. O impacto será sentido em diversos setores, especialmente no têxtil e de confecção, dado que os EUA importam cerca de US$ 100 bilhões por ano nesses segmentos. Muitos países fortemente exportadores foram duramente taxados, e ainda não está claro como reagirão a esse novo cenário. O que é certo, no entanto, é que essas nações buscarão outros mercados para escoar sua produção.
Esse movimento representa um grande risco para a indústria têxtil e de confecção do Brasil. Com a perda de competitividade nos EUA, países altamente taxados podem intensificar suas exportações para o mercado brasileiro, muitas vezes por meio de práticas desleais de comércio, como subsídios e dumping. Essa avalanche de produtos importados pode prejudicar a produção nacional, afetando investimentos e empregos. Por isso, medidas de defesa comercial precisarão ser adotadas com rapidez e firmeza. A Abit, que já atua fortemente nessa agenda internacional, reforçará sua atuação para proteger o setor.
Por outro lado, segundo a Abit, esse novo cenário abre oportunidades para o Brasil no próprio mercado norte-americano. Com tarifas elevadas sobre importantes concorrentes asiáticos, os produtos têxteis e confeccionados brasileiros podem ganhar espaço nos Estados Unidos. Para isso, será essencial investir em competitividade, inovação e estratégias comerciais que ampliem nossa presença nesse mercado.
INDÚSTRIA CALÇADISTA
A indústria calçadista brasileira, que tem nos Estados Unidos seu principal destino internacional, enxerga o “tarifaço” de Donald Trump, por dois pontos distintos. Por um lado, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a tarifa adicional de 10% para produtos brasileiros pode abrir uma janela de oportunidades diante do imposto maior anunciado para concorrentes asiáticos. Já por outro lado, a tarifa elevada para os grandes produtores mundiais também pode provocar uma inundação de calçados daquele continente em mercados importantes para o Brasil e até mesmo no mercado doméstico nacional. “Por isso, torna-se ainda mais importante a adoção de mecanismos antidumping contra Vietnã e Indonésia, para evitar concorrência desleal no varejo brasileiro”, explica o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira. Segundo ele, o problema já foi levado para o governo federal e agora será reforçado com as autoridades.
Haroldo ainda cita que o pacote de tarifas anunciado, por exemplo, taxa a China em mais 34%, o Vietnã em mais 46% e a Indonésia em mais 32%. “São tarifas muito mais elevadas do que as aplicadas para o Brasil, o que pode tornar o nosso calçado mais competitivo nos Estados Unidos. Por outro lado, além de a medida diminuir o consumo naquele país, também deve fazer com que os asiáticos busquem alternativas para desovar sua produção. E, entre essas alternativas, certamente teremos o próprio mercado brasileiro e países para onde exportamos nossos calçados”, avalia.
Conforme dados levantados pela Inteligência de Mercado da Abicalçados, atualmente o imposto de importação para calçados brasileiros nos Estados Unidos é, em média, 17,3%. Ou seja, com o adicional de 10%, a tarifa passará a 27,3%. Já China, Vietnã e Indonésia, que têm um market share de 58%, 24% e 8% no país norte-americano, respectivamente, também pagam uma média de 17,3%. Com os adicionais, os países passarão a pagar 51,3%, 63,3%, 49,3%, respectivamente. “Enfim, o tarifaço deve deixar o preço brasileiro mais competitivo nesse primeiro momento”, acrescenta Ferreira. Atualmente, o Brasil detém apenas 0,5% do mercado de importação de calçados nos Estados Unidos, número que pode avançar com as novas tarifas. “Na principal feira do setor no Brasil, a BFSHOW, em maio, teremos uma noção mais exata do impacto desses novos impostos no mercado. Esperamos muitos compradores norte-americanos no evento, em maio”, projeta.